Quando o Nissan Note foi apresentado nos EUA, no Salão de Detroit de 2013, havia a expectativa de que ele mataria a Livina e seria importado imediatamente do México. Não foi o que aconteceu. A minivan fabricada no Brasil aguentou as pontas até o começo deste mês. E muita gente cravou que o Note não viria para o Brasil de jeito nenhum. A própria Nissan nega de pés juntos a vinda do carro, seja importado ou fabricado aqui. Mas não é isso que gritam as fotos feitas pelo leitor Mateus Eduardo Butzke. Olha o Note aí, com placa verde e tudo!
Fotografado em 18 de agosto na RS-466, em Canela/RS, o modelo não tinha emblemas e vinha levemente camuflado. Segundo Mateus, quando percebeu que estava sendo fotografado, o motorista ainda tentou fugir, mas não foi rápido o suficiente para escapar das lentes do nosso atento leitor.
A placa de testes do modelo é de Campinas/SP, e segundo o Diário Oficial de São Paulo, pertence à Bosch. A empresa alemã fornece à Nissan o sistema Flex Start, que pré-aquece o combustível para partida a frio, eliminando a necessidade de reservatório auxiliar. E não há lugar melhor do que o sul do país, ou a Serra Gaúcha, para testar os sistemas de partida a frio de um carro flex, não é? Talvez São Joaquim ou Urubici, em Santa Catarina, mas pode ser que o Note esteja a caminho daquelas terras, se é que já não passou por lá, neste exato momento.
Segundo a Nissan, o carro está aqui porque o Brasil é um centro mundial de desenvolvimento de suspensão e não há plano nenhum de importá-lo ao Brasil. Com a posição oficial da empresa em mãos, fica a dúvida: o que o carro, em desenvolvimento de suspensão, estaria fazendo nas mãos da Bosch, notória por seus sistemas eletrônicos e por ser a fornecedora de partida a frio da Nissan? Em um lugar notoriamente frio, no inverno? Não parece ser uma iniciativa da própria Bosch. Sistemista nenhum faz testes com um modelo importado apenas pelo prazer de ver se ele funciona, ainda mais deslocando pessoal de testes para viajar 1.156 km e gastar tempo precioso na empreitada.
Ainda que o momento da economia não seja o mais propício para os modelos novos, pode ser justamente o desaquecimento do mercado que permitirá à Nissan começar a vender o Note no Brasil. Com vendas em queda, a cota de modelos que ela pode importar do México ganha um respiro.
A cota atual de carros que a empresa pode trazer do México está em cerca de 42 mil veículos por ano, segundo cálculos do site Automotive Business. Até julho, a Nissan vendeu 8.063 Sentra, com uma média mensal de 1.150 unidades por mês. O que daria, até dezembro, cerca de 13.800 sedãs médios. Será que a Nissan está disposta a jogar fora a chance de importar outros 28.200 carros sem imposto de importação? Mais do que isso: de deixar de importar uma boa quantidade do Note sabendo que, em 2016, as cotas acabam, o que pode permitir um volume de importação do carro livre de barreiras?
A questão da importação não é a única favorável à vinda do carro. O Note não será, como já dissemos, um substituto da Livina. O papel de familiar descolado caberá ao Kicks, utilitário compacto que chega no ano que vem e que será fabricado em Resende. Para o Note caberá mais o perfil de um compacto premium, como o Fit. Carro que a Honda tem deixado de entregar para priorizar as vendas do jipinho HR-V. E a Honda é uma das poucas empresas que tem apresentado crescimento nas vendas no quadro atual. Se há um bom momento para atacar o Fit em sua seara, é este. Especialmente porque o Note tende a ser bem mais barato, além de ter outras vantagens competitivas.
Seu câmbio automático é um CVT, como o do Fit, mas a Nissan já deu provas mais do que suficientes de que sabe como ninguém ajustar esse tipo de transmissão. Enquanto no Honda ela é motivo de queixa, no Note ela não deve atrapalhar a sensação de dirigir e ainda deve colaborar para uma boa economia de combustível.
O Note também é maior que o Fit. Tem 4,14 m de comprimento (contra 4 m do Honda), 2,60 m de entre-eixos (2,53 m), 1,70 m de largura (1,69 m) e a mesma altura do Fit, 1,54 m. O porta-malas, por outro lado, é significativamente maior: 532 litros, contra 363 litros do concorrente. Além disso, é novidade, algo que o brasileiro sempre apreciou.
Por fim, e mais importante, o Note é mais barato do que o Fit no México. A versão mais barata do Nissan custa 187.100 pesos, contra 189.000 pesos do Honda. Outra boa referência de valor para ele está dentro de casa. O Nissan Versa, no México, é vendido a 187.900 em sua versão mais em conta. Em outras palavras, o sedã é mais caro que o Note. É bem possível que a situação se repita por aqui, o que faria o Note chegar por menos de R$ 47 mil, valor da versão mais barata do Versa com motor 1.6. Seria ou não um preço excelente para tirar mercado do Fit, vendido em sua versão mais simples, a DX, a R$ 51.500? Vale lembrar que nossos carros chegam mais baratos ao México do que às revendas daqui. Bom seria se a recíproca fosse verdadeira…
Entre suas desvantagens estão o peso, sutilmente maior (1.080 kg em sua versão mais leve, contra 1.052 kg do Fit), e o motor 1.6 16V, que é pouca coisa menos potente (111 cv a 5.600 rpm, contra 116 cv a 6.000 rpm do Honda). O torque também é marginalmente inferior (15,1 mkgf a 4.000 rpm, contra 15,3 mkgf a 4.800 rpm).
O colunista Fernando Calmon chegou a cravar que o Note seria fabricado em Resende em 2016. Em uma coluna posterior, do dia 11 de agosto, o jornalista diz que os planos foram revistos. Talvez o Note que Mateus encontrou seja apenas a conclusão de um pedido da Nissan à Bosch para um projeto que já foi engavetado. Mas, diante de todas as evidências de que o Note seria um excelente negócio, será mesmo que a negativa faz sentido?
ATUALIZAÇÃO: a revista Quatro Rodas de setembro trouxe fotos melhores do Note e mostrou que ele tem vão livre muito maior que o do compacto, além de alargamentos nos para-lamas que as fotos deste protótipo também exibem. O Note que foi flagrado, portanto, é na verdade a mula do SUV da marca, o Kicks, que terá a mesma plataforma do Note, do March e do Versa, a plataforma V. Em todo caso, o Note continuaria a ser uma excelente pedida para a marca no Brasil. Pena que ela nem a considera.