Em 22 de dezembro de 2013, a cultura automotiva era extremamente diferente de hoje em dia. Não. Não falo pelos tipos de carros, tipos de customizações e preparações, que mudam de tempo em tempo. Muito menos falo das novas gerações de entusiastas que entram na dança e o consequente atrito com as gerações anteriores.
Não. Porque toda essa mutação periódica é fundamental e esperada.
Vou dar um exemplo. Se você julga a geração “stage” e “pops and bangs” como Nutella porque raiz seriam os quatro cilindros turbinados sem wastegate eletrônica – bem, talvez você fosse jovem demais para ter vivido o desdém similar com o qual estes mesmos turbinados hoje “raiz” eram tratados nos encontros de V8 há quinze ou vinte anos atrás. E estes mesmos muscle cars já foram julgados pela cultura “hot rod” como carros de playboys décadas antes…
A grande mudança, na verdade, aconteceu na forma como as pessoas passaram a interagir. A internet já existia e até mesmo as redes sociais. Mas a evolução destas redes sociais trouxe uma mudança macro no tecido social tão profunda que alterou a relação conjugal, familiar, amizades e coleguismos. E óbvio, passou a moldar até mesmo a própria cultura automotiva em mão reversa.
Todos sabem. As redes sociais deixaram de ser plataformas de interação social por onde você se manifestava por meio de uma identidade que você já possuia. As redes sociais se transformaram nas plataformas que definem a sua própria identidade. A transformação de cada um em criador de conteúdo por meio de exposição excessiva e editada de sua própria vida, com todos os efeitos controversos de autoestima, de desejo de ser célebre e de se julgar cada vez mais os terceiros. Sim, há pontos positivos e não são poucos.
Mas o saldo social final – este estou custando a acreditar que seja positivo. E não estou sozinho neste ponto de vista.
Talvez o colateral mais grave: tornamos-nos imediadistas, consumidores e produtores de virais em potencial, bombardeados e bombardeando com interações e conteúdos em pílulas. A sociedade ficou viciada em microdoses de dopamina, em consumir coisas rasas e polêmicas e curtas. E nisso, talvez mais do que nunca, o que fazemos no FlatOut se torna essencial a quem busca resistir a esse movimento.
…mas cometemos deslizes.
Quando criamos o FlatOut, há onze anos, em 22 de dezembro de 2013, demarcamos o começo da transição para o estado social atual. Ainda existiam fóruns com dezenas de páginas contando relatos de projetos de preparação, ainda existiam listas de e-mail – o que seria algo próximo a um pré-orkut (!), mas já existia o YouTube, o Facebook. Eu mesmo, Juliano Barata, já tinha feito algumas experiências de conteúdo em vídeo no finado Jalopnik Brasil. E ao mesmo tempo, as interações dentro da área de comentários do FlatOut eram verdadeiros micro-fóruns, muitas vezes com mais de 100 ou 200 comentários em uma matéria.
De lá para cá, em paralelo ao crescimento das redes sociais, passamos por uma crise econômica extrema que quase nos levou a fechar as portas em 2017, introduzimos as assinaturas pagas (que sim, teve um custo em popularidade e alcance, mas sem isso, teríamos encerrado as atividades naquele mesmo ano), experimentamos diversos quadros. Houve anos que produzimos mais coisas marcantes, outros que produzimos menos, e para ser franco, acho que 2024 foi um ano que se enquadra bem nesta última categoria.
Das coisas que mais me maculam é quando prometemos algo e não entregamos. Pior: temos muitas promessas em aberto, e algumas delas possuem bastante tempo. Sim, voltamos para Nürburgring e produzimos (e tem mais coisa vindo) uma série de conteúdos sensacionais graças à parceria com a Special Trip. Sim, o FlatOut Midnight voltou com força neste ano, e graças a ele temos um episódio épico como este, que vocês poderão degustar sem moderação a partir de amanhã (23/12) às 17:00.
Sim, o MAO voltou com tudo com o MAO Drives, quadro sensacional exclusivo aos assinantes dos planos Clássico e FlatOuter. Sim, o Zero a 300 finalmente voltou a ser publicado de manhã, e não na hora do almoço.
Mas estava devendo o FlatOut Driving Academy. Muitos pediam conteúdos de simuladores e automobilismo virtual. Paramos com o FlatOut Podcast. Muitos sentiam falta do Achados Meio Perdidos. Outros queriam mais Guias de Compra. Outros Flatouters queriam mais eventos além do track day anual que realizamos em parceria com a Crazy for Auto.
Às vezes, é preciso termos um ano ruim para termos um chacoalhão. Uma reação existencial. Então vamos falar disso!
O FlatOut é e continuará sendo o porto seguro dos entusiastas mais apaixonados e aprofundados, não importa qual seja a tempestade. Sim, a sociedade procura cada vez mais coisas rasas e polêmicas e há bastante oferta disso. Mas esse desejo não vale para todos. E o FlatOut seguirá “não sendo” para todos.
O que vem por aí?
Primeira coisa: voltaremos com o podcast, agora em janeiro. A audiência dele não é alta, mas conversamos com alguns de vocês (em especial os assinantes do plano Flatouter, pois não vamos esconder: são eles que nos seguram de pé nos dias difíceis de caixa da empresa, que não são poucos) e vimos o nível da importância da coisa. O podcast permite que vocês conheçam uma versão menos polida, mais crua, mais direta das personalidades minha, do MAO e do Leo. Talvez seja o mais próximo do tipo de conteúdo na moda hoje em dia, mas com a nossa pegada. Por isso, ele voltará, já agora em janeiro. Como um oferecimento especial dos Flatouters.
Segundo lugar. Agora em janeiro, chegará o cockpit da Extreme Sim Racing, cuja parceria com o FlatOut alinhamos agora no fim deste ano – o que cria um compromisso de entregas de conteúdo. Ele permitirá cumprirmos duas missões: eu (Barata) poderei produzir conteúdos de Sim Racing, um universo que eu sempre tive proximidade (e lembre-se, o Assetto Corsa Evo chega no começo do ano!), mas que fiquei distante nos últimos 5-7 anos por falta de um controle adequado e o espaço para tal.
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Mas agora eu tenho o espaço. Segundo: será a porta de entrada da volta do FlatOut Driving Academy, pois permitirá que eu faça conteúdos sobre regulagens, traçados e técnicas de pilotagem de uma forma mais viável. E agora que estou na Europa (ops, o quê?! Sim, surpresa – em breve trarei mais detalhes), poderei ter experiências em autódromos reais como Spa e Nürburgring e produzir conteúdos nestas pistas. Essa parte “mundo real” terá de ficar para o segundo semestre, pois ainda estou me estabelecendo e definindo algumas coisas.
Terceira novidade. Em 2025, o quadro Guia de Compra voltará em dois formatos: primeiro, atualizaremos todos os guias anteriores, com novas informações, preços dos veículos e de manutenção renovados, novos entrevistados. Segundo, traremos um comparativo cruzado, um verdadeiro papo-de-bar em forma de matéria. Não vou dar mais detalhes para não estragar a surpresa, mas só pelo o que eu, MAO e Leo conversamos no off, a coisa vai ser duca.
ACHADOS MEIO PERDIDOS, quem lembra? Vocês gostavam. Vamos voltar com o formato clássico. Não sabem do que se trata? Aguarde que todos vão curtir.
Uma novidade que está em processo de avaliação, pois possui impacto de custos e temos de avaliar com calma, pois a situação econômica do Brasil está bem delicada. Mas queremos introduzir um coluna de automobilismo no FlatOut.
No YouTube, um outro pedido dos Flatouters: começaremos a publicar os vídeos mais antigos do Clubsport (nosso quadro de vídeos exclusivos para assinantes) dentro do nosso canal de YouTube, permitindo que vocês possam assistir na TV. E claro, como vocês já notaram, voltamos com as publicações mensais dos vídeos do Clubsport!
E a loja? Nós tínhamos algo dentro da estrutura que havia causado impeditivos para operarmos a loja como gostaríamos: nós, que fundamos o FlatOut, queremos vender camisetas, quadros e outros itens que não somente adesivos, usando parceiros que nós aprovamos e que sabemos que vocês também admiram. É normal haver discordâncias em uma empresa, mas o fato é que estávamos nos sentindo algemados. Agora no fim do ano praticamente resolvemos esta situação interna e estamos a poucos passos de termos o caminho livre. Acredite: se dependesse de nós, que fazemos conteúdo no FlatOut, já teríamos voltado com tudo. E assim esperamos que o seja em breve.
FlatOuters. Os caras.
Considerem que a volta do Podcast e do Clubsport são oferecimentos especiais dos Flatouters, presentes para toda a comunidade que inclui mesmo quem não é assinante. E fica a nossa torcida para que você, caso tenha condição e queira, se torne um deles. E claro, que você compreenda: o FlatOut é nossa paixão, mas é nosso trabalho, com o qual sustentamos as nossas famílias.
Mas para esse pessoal em especial ainda falta alguma coisa. Sim, nosso grupo secreto do Facebook, exclusivo para os Flatouters, é provavelmente o melhor grupo de carros que existe nas redes sociais e vira e mexe aparecem algumas das conversas mais interessantes que já tive entre entusiastas. Mas dá pra melhorar.
De cara, um pedido da turma é que façamos mais passeios e eventos que apenas o track day anual que organizamos em parceria com a Crazy for Auto. Este pedido será cumprido: com o Leo morando em Blumenau, MAO em Indaiatuba e comigo ocasionalmente estando em SP, diria que poderemos ter até dois eixos paralelos de eventos. Nada sofisticado, coisa garagista, informal, pequena. Mas uma possibilidade de interação especial. Isso para começar.
Alguns falam de criarmos grupos de Telegram ou de WhatsApp, mas tenho receio de isso virar uma bola de neve de conteúdos rasos. Isso ainda discutiremos com essa turma, e quem sabe faremos um teste!
Suas sugestões, porque o boteco é seu!
Amigos, esse é o nosso plano de ação para 2025, mas tudo isso é feito porque vocês existem e estão conosco. Peço as mais sinceras desculpas se 2024 (e indo até além, 2023 também) não foi um ano fantástico de conteúdos no FlatOut. Estou aqui, abrindo o jogo para vocês. Não foi um par de anos fáceis para nós, internamente. Mas agora estamos alinhando no grid, para pisar fundo e recuperar o tempo perdido.
Se você tem alguma outra ideia, alguma outra sugestão, mande bala nos comentários. E vote nas ideias que você gostou. Espero apenas que sejam viáveis – Top Gear no Brasil todo mundo quer, mas orçamento de BBC ninguém tem!