Fala, pessoal do FlatOut! Meu nome é João Paulo Falcão, tenho 26 anos, sou engenheiro mecânico e moro em Fortaleza/CE. Estou muito feliz de poder participar do Project cars e contar minha saga com meu Focus Turbo.
Mas antes de falar do Focus tenho que explicar como essa paixão por carros turbo começou. Por incrível que pareça, tudo começou com um AP. Quando eu tinha 17 anos tive a oportunidade de andar em um Gol turbo, e depois de ouvir o primeiro espirro pensei comigo mesmo “é isso que eu quero para minha vida”. Não entendia nada de carros turbo, então comecei a pesquisar tudo para entender como funcionavam as coisas.
Quando entrei na faculdade e tirei a carteira, o carro que tinha para usar era o da minha mãe, um Ford Fiesta mk6 1.6 Zetec Rocam. Como eu sempre fui do contra pensei “vou preparar um Ford já que AP tem tantos. Não quero ser mais um na multidão”. Então eu tomei de propriedade o carro da mamãe e começaram as modificações, no início com um orçamento curtíssimo. Pedindo paitrocínio o carro começou a tomar forma.
As primeiras modificações foram estéticas jogo de rodas 17’’ TSW Pace e molas Eibach.
Até que um dia dois amigos decidiram fundar a Fortrace a primeira loja de performance em Fortaleza. Eles precisavam de um funcionário em meio expediente, eu me candidatei a vaga e fui escolhido, agora com um orçamento maior o carro recebeu novos upgrades: rodas grafite, faróis máscara negra, xênonio e o tão sonhado kit turbo pôde enfim ser comprado.
O kit era o famoso “kit padaria”: turbina Masterpower APL 240, escape 2,5’’, embreagem Displatec de 980lbs e seis pastilhas, HIS com um bico mono de Monza, velas iridium, bomba de GTI 12 bar.
Para poder parar o carro na oficina e instalar o turbo tive que enrolar minha mãe por um mês. Toda vez que ela perguntava “cadê o carro” eu inventava uma desculpa: “está pintando” “está na revisão”. Depois de um mês o carro ficou pronto, e foi só alegria superou todas as expectativas, a seguir um vídeo da passagem no dinamômetro e gráfico.
O carro era uma beleza. Andava com 0,9bar de pressão sem problemas. Era meu único carro e rodava por semana uma média de 500km, minha mãe andava no carro também apesar de reclamar o tempo todinho que dirigia ele.
Quem tem carro turbo conhece a doença, síndrome do parafuso, após meses andando com o carro a potência não era mais suficiente então vem aquela frase “vou aumentar só um pouquinho”. Ganhei vários pesos de papel:
Até hoje estamos a procura de duas bielas e dois pistões desaparecidos. Após esse evento trágico e cômico, desmontei o carro e vendi ele original e comecei a busca de um novo projeto. Abandonei o projeto do Fiesta, pois mexer no Zetec Rocam é muito difícil. Conseguir componentes forjados é impossível e, quando se encontra, os valores são altíssimos e na melhor das hipóteses você terá um carro de uns 350 cv. Eu queria mais! Fora que a carroceria Mk6 só tem na Europa, então importar peças era caríssimo — trazer uma suspensão e outros componentes sempre ficava inviável.
Então se início a busca por um novo projeto, fiquei em dúvida entre Ford Focus Ghia 2.0 Zetec, VW Golf mk4 GTi 2P e GM Astra GSi C20XE. Passei semanas pesquisando na internet, fóruns, Mercado Livre e não achava nada que me atraísse. Quando me atraía, não cabia no meu orçamento.
Um dia navegando no FordHp.com.br, vi um tópico sobre um Focus Ghia. O carro era um 2002 com todos os opcionais, controle de tração, ABS, teto, banco elétrico tinha tudo. Mandei uma mensagem perguntando se ele teria interesse de vender o carro a resposta foi negativa, então segui na busca.
Mais ou menos um mês depois encontrei um Golf GTI mk4 2p em Brasília/DF e que cabia no meu orçamento. Já estava procurando passagem para ver o carro quando recebi uma mensagem do colega do fórum dizendo: “Vou vender o carro. Ainda tem interesse?” Na hora respondi que sim e pedi fotos e informações do carro.
Recebi essas quatro fotos:
Ele me informou que o carro tinha SCT Tuner (para quem não conhece é um dispositivo onde você tem acesso a injeção do carro e pode mudar o mapa), comandos Comp Cams estágio 3, escape, filtro e amortecedores do Focus SVT americano (mais baixos e mais rígidos). O carro produz 170 cv medidos no dinamômetro.
No calor da negociação e super empolgado minha resposta foi: “Manda sua conta que vou depositar o valor do carro e do frete para envio para Fortaleza”. Isso mesmo eu comprei o carro vendo quatro fotos e depositei uma boa quantia numa conta de um desconhecido. Hoje em dia jamais que faria isso novamente; era jovem demais na época.
Em 10 dias o carro chegou em Fortaleza. Logo que peguei o carro na transportadora já fui para uma rodovia acelerar o carro. Era uma delícia, mega confortável, andava bem, super completo, estava mais do que satisfeito com a compra. Nessa época não trabalha mais na Fortrace, já estava envolvido na engenharia então o ups começaram logo cedo. Primeiro vieram rodas 16’’ do focus XR e depois comecei a pensar no projeto e decidi que queria um carro confiável e com 500 cv.
Começaram as pesquisas e conheci a https://www.c-f-m.com/ uma loja de performance na Florida/EUA especializada em Ford Focus. Meus olhos brilharam. Na época o dólar estava na casa dos R$ 1,50, então comecei a pedir as peças do projeto. Mais na frente passo a ficha do carro em detalhes, no começo comprei: bielas Eagle, pistões JE, coletor de escape OBX, intercooler OBX, válvulas Tial, válvulas de cabeçote Ford Racing, pratos e molas Crower, bomba de combustível OBX, bomba de óleo HI-volume, parafusos ARP.
A inspiração do projeto foi esse carro abaixo que encontrei na internet. Peguei o contato da oficina e conversei com um gringo que me passou as especificações do projeto.
Nesse meio tempo de compra de peças o carro continuou recebendo algumas mudanças: faróis projetores, mudei a cor das rodas, molas H&R.
Então fui andar no primeiro trackday com o Focus no autódromo do Eusébio. O comportamento do carro na pista foi muito bom, o setup de molas H&R e amortecedores SVT ficou bem legal, andei bastante deu para conhecer muito o carro.
No final do evento um amigo e fotografo Victor Eleutério, fez essa foto do meu carro que acho sensacional e minha proteção de tela do celular a anos:
Um dos motivos de eu ter escolhido o Focus Ghia Zetec 2.0 e porque esse modelo veio equipado com o câmbio MTX-75 que segundo falam aguenta muita potência o gringo que conversei e troquei alguns e-mails falou que ela aguenta mais de 500cv sem problemas. Mas eu precisava de uma embreagem, mesmo no EUA uma embreagem para a cavalaria que eu pretendia era muito cara, então fui atrás de uma solução nacional. Fui ao Festival Brasileiro de arrancada em 2012 e fui no stand da Ceramic Power, troquei ideia com um consultor expliquei meu projeto e minhas dificuldades e ele abraçou a causa. Três meses depois a minha embreagem Multidisco estava em casa.
Montada no eixo com os parafusos ARP de volante:
Também precisaria de uma turbina. Um dia, andando na oficina de um amigo, eu literalmente tropecei em uma Garrett 3582R. Descobri que estava a venda, liguei para o dono e a levei para casa.
Nessa foto e comparando ela com uma Masterpower .50 com reflow. A turbina é grande
Nesse momento minha mãe falava “meu filho você está comprando um carro desmontado pela internet?’’
No Fiesta andei em alguns trackdays e tinha problema de falta de combustível nas curvas. A solução foi fazer um catch tank, então para o Focus já resolvi providenciar um, um amigo que faz arte com inox projetou e construiu o catch de cinco litros com suporte para a bomba de combustível e o filtro.
Todo gearhead ama uma sucata/ferro-velho, em uma dos meus passeios pelas sucatas da cidade consegui um motor Zetec 2.0 de Mondeo tampa prata (tampa prata quer dizer que o tuchos são hidráulicos; os cabeçotes Zetec tampa preta são tuchos mecânicos). Comprei o motor por R$ 400.
Já tirei o cabeçote e enviei para o Moises Souza Cabeçotes Especiais para começar a montagens das válvulas Ford Racing, molas e pratos Crower, comandos comp cams e polias reguláveis CFM. Também foi feito um trabalho de fluxo no cabeçote:
Até que chegou o momento de parar o carro na oficina para começar a montagem. Aí os problemas começaram… mas essa a uma história para o próximo post!
Por João Paulo Falcão, Project Cars #265