O conceito de “hot hatch” que você tinha já está ultrapassado — ou ao menos é o que a imprensa automotiva internacional parece querer dizer ultimamente. O motivo? O Ford Focus RS, que chegou fazendo alarde no ano passado, foi apresentado mais de uma vez em um Salão do Automóvel internacional e agora, finalmente, foi avaliado lá fora por quem entende do assunto. E o que andam dizendo a seu respeito? É o que você vai descobrir agora em mais uma meta-avaliação!
O Focus RS veio para elevar o nível da competição, ou ao menos é esta a impressão que temos ao compará-lo com o modelo anterior. A geração passada tinha um motor Duratec de 2,5 litros com turbo e 305 cv e tração dianteira, que a Ford garantia ser extremamente eficiente graças ao acerto de suspensão e aos sistemas eletrônicos. E, mesmo em meio a suspeitas de que o motor seria forte demais para um carro de tração dianteira, o hot hatch surpreendeu com seu desempenho que dava trabalho aos rivais — especialmente o Golf R, que tinha tração integral do tipo Haldex.
A verdade é que, por mais que o Civic Type R esteja aí para provar que é possível, um carro de tração dianteira acaba sendo limitado quando o assunto é colocar uma montanha de potência no chão — o senso comum diz que 300 cv são o limite. Então, quando a Ford decidiu dar ao novo Focus RS o motor Ecoboost 2.3 do Mustang e torná-lo ainda mais potente que no muscle car, com 320 cv a 6.800 rpm e 44,9 mkgf de torque entre 2.000 rpm e 4.500 rpm, a tração integral não foi exatamente uma opção e sim uma necessidade. A transmissão é manual, de seis marchas.
A grande sacada do Focus RS é seu sistema de tração integral inovador, que dispensa o diferencial traseiro e o substitui por duas embreagens, uma para cada roda, em um arranjo batizado como Rear Drive Unit, ou RDU. Elas são ativadas eletronicamente e, na prática, permitem a vetorização do torque, ou seja, que a força seja distribuída individualmente entre as rodas conforme a necessidade. A Ford investiu bastante no desenvolvimento do Focus RS e o sistema é totalmente novo. Mas será que valeu a pena? A julgar pelas avaliações, tudo indica que sim!
A opinião geral é a mesma: o Focus RS veio para levantar a barra do segmento. Na verdade, vimos mais de um veículo referir-se ao Focus RS não como um hot hatch, mas como um mega hatch. Isto porque o nível de potência se elevou muito rápido nos últimos anos e, ao mesmo tempo em que existem hatchbacks com apelo esportivo, potência superior a 200 cv e visual chamativo, estamos vivendo em um mundo em que um carro com motor de quatro cilindros é tão potente quanto um supercarro de 25 ou 30 anos atrás.
Para os caras da Evo, por exemplo, o Focus RS é revolucionário entre os tais mega hatches. Eles citam caras como o Audi RS3 Sportback, com os 372 cv de seu cinco-cilindros de 2,5 litros com turbo e intercooler, o Mercedes-Benz A45 AMG, que tem um 2.0 turbo de 360 cv, e até o Golf R, com seus 300 cv. A gente também incluiria o Civic Type R, com seu V-TEC turbo de 315 cv, mas eles consideraram apenas os carros com tração integral. E há um bom motivo para isto.
O Ford Focus RS é o único entre os mega hatches citados que não tem um diferencial traseiro Haldex convencional, e é esta justamente a base de todos os argumentos — não apenas da Evo, mas de toda a imprensa especializada que já guiou o carro. Olha só o que eles disseram.
O comportamento [do Focus RS] é estimulante; exatamente o que a gente procura nos carros com diferencial Haldex. Quer dizer, ele é mais divertido e empolgante do que os outros carros de sua categoria, o único que usa o sistema de tração integral para dar mais vida à experiência, e não simplesmente para dar mais tração.
É claro que isto tem muito a ver com o sistema de vetorização de torque, que é capaz de colocar até 70% da força em uma das rodas traseiras caso seja necessário. No entanto, também tem muito a ver com o acerto de suspensão e a calibragem dos sistemas eletrônicos — incluindo quatro modos diferentes de direção: Normal, Sport, Track e Drift.
A Evo também explica os modos de uma forma concisa e fácil de entender:
[O modo] Sport torna o acelerador mais responsivo, coloca mais peso na direção, faz o escapamento estralar e recalibra de leve o RDU. O modo Track — que a Ford insiste em dizer que é só para uso na pista — coloca o controle eletrônico de estabilidade em um ajuste intermediário, permitindo que a traseira escorregue mais, e ajusta o RDU para dar tração máxima sob aceleração pesada. As voltas mais velozes são alcançadas neste modo.
É claro, porém, que o grande barato de um hot, super, hiper ou mega hatch é oferecer uma experiência envolvente ao volante não apenas quando se está em um circuito, mas também em uma tocada mais animada no mundo real. Nisto, os caras da Autocar garantem que ele também se sai muito bem:
Nos modos Normal e Sport, o carro é maravilhosamente neutro enquanto você lida com o peso perfeito da direção e esmaga o acelerador, já sentindo que o carro é dinamicamente mais equilibrado do que os hot hatches de tração integrla normais. E sem deixar que o eixo traseiro estrague a festa, nem te obrigar a corrigir o volante de forma muito drástica.
Isto é importantíssimo — bem como a qualidade de construção e acabamento, cuja impressão geral é boa. Uma observação recorrente diz respeito à qualidade dos materiais se comparados aos encontrados nos carros alemães: “não é a mesma coisa, mas também não deixa a desejar”.
Até porque isto não tem muito a ver com o fato de ser um RS, mas sim de ser um Focus. De qualquer forma, o que você quer saber mesmo é a respeito do quarto e último modo, o Drift. E vamos deixar que os caras da Car and Driver americana expliquem:
E se você quiser dar uma de Ken Block? Isto nos traz ao tão falado modo Drift, um recurso que colocou fogo na Internet quando foi anunciado pela Ford. Depois de ativar o modo Drift por um seletor, você só precisa aplicar virar o volante até o batente e pisar fundo ao mesmo tempo. No começo o carro dá uma saída de frente, como quem pergunta “tem certeza disso?”, mas depois, quando a maioria da força do motor vai para a roda traseira do lado de fora da curva, o carro sai de traseira em uma nuvem de fumaça
É um truque bacana, mas é só um truque. O RS pode até girar em seu próprio eixo se você quiser, mas a velocidades maiores o sistema se esforça para limitar o ângulo do drift usando os freios para manter o RS no trajeto. É surpreendentemente difícil segurar uma derrapagem por mais que alguns segundos, mas suspeitamos que isto será o suficiente para a maioria dos donos.
Deu para sacar que, aparentemente, a Ford acertou a mão com o novo Focus RS. O que a gente quer mesmo é colocar as nossas mãos nele — será que é tão difícil?