Olá amigos! Hora de continuar com a história e falar de algumas dificuldades que rolaram no meu projeto MothaFocus, o tributo ao Colin McRae (veja o primeiro post deste Project Car aqui).
Como vocês devem se lembrar, assim que comprei o carro, montei as rodas TSW e as molas Eibach. Já estava “vestindo” bem o Focus, satisfeito com o acabamento excepcional e o cuidado com a fabricação, gostando da reação em curvas, realmente curtindo o novo brinquedo. Meu negócio sempre foi fazer curvas, andar em linha reta me dá sono, então estava feliz com a escolha que fiz. Este carro foi desenvolvido pela Ford UK e Ford Europe para ser o substituto do excelente Escort, e seria o novo WRCar da Ford para o Mundial de Rally, numa aposta ousada chamando também o mestre Colin McRae (em destaque, nas fotos abaixo) para ser seu 1º piloto. Por estas razões, seu projeto é excelente: suspensão independente nas quatro rodas (algo incomum para carros dessa categoria, ainda mais em 1998), acabamento esmerado, qualidade de materiais e construção, e um equilíbrio dinâmico incomparável e muito à frente de sua época. E eu estava conseguindo comprovar tudo isso na prática!
Alguns dias depois, um amigo me liga com uma “broposta de brimo”, dizendo que tinha conseguido um jogo de amortecedores Eibach Pro-Damper para fazer conjunto com minhas novas molas. Não era bem o que eu tinha em mente pro carro – sabia que isso seria o estopim para começar TUDO DE NOVO o que já havia feito com o Passat Pointer (foto abaixo). Começa sempre assim: um jogo de molas, umas rodinhas, um filtrinho, um joguinho de velas, um pouquinho mais de ponto, um pouquinho mais disso e daquilo, e bingo! Lá está seu daily driver totalmente modificado! Eu sabia, ia começar tuuuuudo de novo…
Como já estava bem tranquilo depois do episódio da noiva, aceitei e montei os amortecedores. Quanta diferença! Se eu já estava gostando do que o Focus fazia de curvas, depois disso fiquei maluco! Era um kart, literalmente! Numa viagem para acompanhar um rali, levei de carona um amigo e fotógrafo de competições, o José Mario “Mendigo”, e passamos por algumas serras bem “complicadas” a caminho de Erechim (RS) – aliás, é a cidade que hospeda a melhor etapa de rali nacional, recomendo.
Depois de várias curvas pra lá do limite de velocidade (ei, não façam isso em casa!) e algumas beeem mais quentes no melhor estilo “four left plus into five right plus flat on the crest” (navegadores e aficionados entenderão – e o Zé Mendigo que o diga!), meu amigo voltou da viagem e comprou um Focus! Inclusive estas rodas TSW hoje estão no carro dele. Em Erechim andei em algumas estradas de terra sob chuva. Era uma delícia fazer as curvas de lado brincando com o carro, mesmo com pneus de asfalto.
Carro masculino é assim – e pra mim, ou é impecavelmente limpo ou desgraçadamente sujo! E assim que ficou! Como todo tarado por ralis, depois da prova continuei a viagem a trabalho para Blumenau, e quando parava nos postos, o atendente vinha pedindo pra lavar os vidros e os faróis – e eu já berrava “Não! Deixa assim que tá lindo!”. Doente é assim mesmo… Só fico feliz porque encontrei vários outros aqui no Project Cars também. Me sinto praticamente “normal” agora!
Estava ferrado. Sabia que não ia conseguir ficar só no visual. Alguns dias depois lá estavam os escapes 4×1, filtro esportivo, tchau catalisador, além de doses diárias cavalares de Ebay UK e Google, buscando mais e mais componentes! O Focus na Europa, especialmente na Inglaterra, é o Gol quadrado deles: há peças de todo tipo, originais ou especiais. Defini que construiria um carro diferente de se ver preparado por aqui, o mais perto possível de algo fuçado como o RS e com um visual de rally car.
Aos poucos as coisas iam aparecendo. Um dia, fuçando no Ebay UK, encontro o painel de instrumentos do Focus RS. Mensagem pra lá, resposta pra cá, arrematei. No momento em que arremato, aparece um outro link do mesmo vendedor, com um painel igual – mas com marcações em quilômetros e não em milhas como o que havia acabado de comprar, mais raro ainda! Mandei mensagem novamente e trocamos: melhor pra mim e para eles! A temporada de modificações estava a mil…
No motor, definitivamente faltava ânimo – ainda mais para o visual que pretendia alcançar. Sou fã de aspirados, até pelos muitos anos de alegrias com o Passat, e busquei opções para fazer um Focus aspirado de responsa. Cheguei a comprar um motor Duratec zero para fazer a troca, mas depois de algum estudo vi que não iria compensar: teria de trocar muita coisa na mecânica e o custo não ia ser nada animador.
Conversa vai, conversa vem, troquei ideia com meu amigo e preparador Ronald Funari, da Funari Automotiva de SP. Falei sobre o que queria. Na hora ele me disse: “vamos de turbo, já fiz vários, manda teu carro pra cá”. Mandei! Optamos inicialmente por uma preparação leve, mantendo o 1.8 16V Zetec com seus quase 140 mil km na época, instalando um turbo com pressão de 0,4 kg, ainda usando gasolina. Fiz essa escolha porque na época era meu carro de uso diário, viajava a trabalho com frequência e autonomia era importante.
A potência foi para 160 hp e o consumo ficou melhor que o original, pois tinha mais força para empurrar os 1.240 kg do carro sem sacrifício. Ficou perfeito! O Funari montou uma turbina Garrett protótipo, da linha GT mas pequena e de pegada rápida, intercooler, acerto de eletrônica e poucas coisas a mais, bem básico, eficiente e confiável.
Junto com isso veio a troca das rodas por um jogo de Sparco Pista 17×7, agora com pneus Advan Neova. Por falta de interesse da Sparco do Brasil em vender suas rodas (um dia conto a história), acabei importando diretamente este jogo dos EUA. O chão estava perfeito, o motor estava empurrando legal… e aí comecei a sentir uma imensa falta de freios.
Em 2010, ajudei a organizar a 1ª Subida da Montanha de Campo Largo, auxiliando em regulamento, categorias, etc. Como adoro esse tipo de corrida de estrada, estava certo de que iria correr com o Passat. Dezessete dias antes da corrida, perdi meu velho pai e resolvi que seria a maneira de desestressar. Passamos dez dias mexendo no Passat e na sexta feira anterior à prova, às 17:00, o motor quebrou….
Nessa altura, eu PRECISAVA correr. Era minha cachaça, eu já havia corrido por alguns anos em arrancada e kart e sabia que precisava daquilo. Resolvi que iria de Focus mesmo, não me importando se não tinha tanta potência ou se iria faltar freios. Eu tenho o costume de frear com o pé esquerdo em curvas rápidas (que não precisam de mudança de marcha) para manter a tração e a dianteira do carro sob controle, então sabia que o freio seria meu maior problema na subida.
No sábado, trocamos somente o fluido de freios por um da Pentosin Racing e fui para a montanha com sangue (e lágrimas) nos olhos… Como homenagem ao meu ídolo de sempre, e para que de alguma maneira me inspirasse, humildemente fiz os adesivos “McRae” nas laterais, como nos Focus de WRC. Dali não mais saíram.
Surpreendentemente o Focus se comportou tão bem com a pouca potência que tinha, que fiquei animado. Segundo lugar na categoria Ultra e nono na geral entre 27 carros, a maioria bem mais potente (o vídeo acima é o onboard de minha melhor passagem na Subida). A partir dali ficou evidente o potencial do conjunto. Com isso, as mudanças, que já vinham num bom monte, se transformaram numa montanha – é sobre o segundo estágio desta transformação que falarei no próximo post.
Grande abraço, e como sempre… “If in doubt, FLAT OUT!”
Por Gustavo Loeffler, Project Cars #43