O Ford Mustang 2015 passou pela maior transformação nos últimos anos: abandonou o visual retrô, ganhou uma versão com quatro-cilindros e a suspensão traseira passou a ser independente. Tudo para tornar-se um carro global, com apelo para outros mercados além do americano. E agora, ele acaba de chegar ao Reino Unido, onde Chris Harris vai levá-lo para dar seu tratamento habitual — aquele que envolve, entre outras coisas, drifts e powerslides sem motivo algum. Não que exista algo errado com isto.
No Reino Unido, o Mustang GT parte de £ 30 mil (cerca de R$ 156 mil, em conversão direta). Um BMW M4 parte de £ 56 mil (ou R$ 291 mil) — quase o dobro. Em termos de potência, ambos estão praticamente no mesmo patamar: o Mustang tem um V8 aspirado de cinco litros e 441 cv, enquanto o M4 tem um seis-em-linha biturbo de 430 cv. Ambos trazem, de série, um câmbio manual de seis marchas.
A comparação com o M4, contudo, é ilustrativa. Nela, o BMW representa todos os esportivos europeus com potência no mesmo patamar, que são naturalmente mais sofisticados e complexos do que o Mustang. Será que é uma boa ideia, para o pessoal do Velho Mundo, economizar uma boa grana e levar um legítimo representante do american muscle para a garagem? Para descobrir, Chris Harris levou o ‘Stang para a estrada e para a pista — de que outra forma ele faria?
Não é difícil perceber, em um vídeo, quando um jornalista gosta mesmo do carro que está testando. No caso do Mustang, a expressão no rosto de Harris, as gargalhadas e os elogios desmedidos mostram que o cara curtiu mesmo o muscle car. A começar pelo motor, que entrega seus 440 cv a 6.500 rpm e os 55,3 mkgf de torque, a 4.250 rpm. O ronco alto, grave e rouco do bom e velho V8 5.0 Coyote é um belo cartão de visitas, e o torque disponível em baixa garante boas respostas ao acelerador. Acoplado ao câmbio manual de seis marchas, que oferece engates agradáveis e precisos, a experiência com o carro na estrada é decididamente agradável, mesmo que não se possa levar o carro ao limite.
É claro que o Mustang ainda é grandalhão para os padrões europeus e a suspensão, ainda que seja independente nas quatro rodas e tenha recebido calibragem especial para o mercado europeu, foi feita para um carro americano. Isto significa, no caso do Mustang, um ligeiro excesso de rolagem da carroceria nas curvas. Por outro lado, isto é compensado, ao menos em parte, pelo conforto ao passar sobre irregularidades. Harris também comenta que a direção é comunicativa, mas poderia ser mais precisa.
Mas isto é só um detalhe quando se tem a oportunidade de dirigir um legítimo muscle car americano fora de seu habitat natural. Talvez você esteja entre os que gostaram da mudança radical promovida no Mustang, ou talvez você seja um dos que acham que a quinta geração parece mais um Ford Fusion de duas portas. Não faz diferença, pois não dá para dizer que o novo Mustang não é um carro bonito — e, na Europa, ainda há o fator surpresa. Harris conta que ver pessoas sorrindo e tirando fotos do seu carro é comum quando se está ao volante de um Mustang.
Mas como o Mustang anda na pista? “Surpreendente” é a palavra. Com todas as assistências desligadas e a suspensão no modo track, mais firme, o Mustang mostra-se um carro que simplesmente abraça o piloto.
O motor nunca te deixa na mão, as curvas de alta são feitas com desenvoltura e, nas curvas mais fechadas e técnicas, o muscle car não parece totalmente perdido — lhe falta sofisticação, novamente, mas qualquer erro é facilmente controlado ao dosar o acelerador e as frenagens de forma correta. Há um ligeiro subesterço (o carro sai de frente) em algumas curvas, claro, mas também há a naturalidade com que a traseira desgarra — nesta hora, é impossível não ficar com um sorriso no rosto.
Harris encerra a avaliação com uma consideração simples: o Mustang está no mesmo nível dos esportivos europeus? Ainda não: lhe faltam precisão e refinamento. Contudo, em suas exatas palavras: “um BMW M3 custa o dobro do preço de um Mustang, mas não é o dobro do carro”. Te faz pensar, não faz?