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Car Culture

Ghia Turing Ka: a perua do Ford Ka que nunca tivemos

A nova geração do Ford Ka rendeu comentários ao adotar configurações inéditas ao modelo — hatch de quatro portas e sedã. O que você talvez não saiba — ou sabe, mas não lembra — é que já houve um Ka de quatro portas antes. Só um, que foi feito em 1998 em forma de carro conceito.

Seu nome era Turing Ka, projetado pelo estúdio Ghia e que , em essência, era um Ka perua de quatro portas. Apesar de ser um carro bem interessante, ele jamais passou da fase de conceito. Infelizmente.

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Ford Ka Concept, 1994. Dizem que este visual despistaria a concorrência e que as linhas do Ka de produção já estavam definidas

O primeiro conceito do Ka veio ao mundo em 1994 — a Ford apresentou no Salão de Genebra um hatch pequeno, com linhas arredondadas e identidade visual similar à dos outros modelos da época, que abusavam dos ovais, como o Taurus. Contudo, quase nada do visual seria aproveitado no modelo final — cujo design veio do conceito conversível Ghia Saetta, apresentado dois anos depois em Turim. Do conceito original ficaram as proporções gerais, a mecânica e a ideia de oferecer um compacto urbano barato e estiloso. O Ghia Saetta também adiantava as linhas do conversível StreetKa.

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Ghia Saetta Concept

O Ka foi o modelo que estreou a linguagem de design New Edge da Ford, com suas linhas angulosas e vincos — que também estão presentes na primeira geração do Focus e no Mustang de quarta geração reestilizado. Seu designer,  Claude Lobo, disse que uma das maiores preocupações na hora de projetar o Ka foi a longevidade do desenho — algo que, em nossa concepção, ele conseguiu prolongar com êxito: o Ka envelheceu bem — contudo, talvez por estar à frente de seu tempo, seu design não tenha sido muito bem aceito no Brasil (ao menos nos primeiros anos). E é por isso que ficamos meio ressentidos ao lembrar que houve um conceito do Ford Ka em versão perua que jamais foi para as ruas: o Turing Ka.

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Apresentado no Salão de Turim de 1998, o Turing Ka também é de autoria do estúdio Ghia (que foi fundado em Turim). Logo de cara já avisamos: ele jamais foi planejado para entrar em produção. O que é no mínimo curioso, visto que trata-se de um conceito bastante plausível: uma perua construída sobre a plataforma alongada do Ka — especialmente no entre-eixos, de modo a possibilitar a adoção de duas portas a mais e proporcionar mais espaço aos ocupantes e à bagagem.

O interior era mais luxuoso do que o de um Ka de produção: com couro e suede marrons nos bancos, revestimentos de porta, porta-malas e até no volante que, assim como o painel, tinha detalhes em um material que parece madrepérola. O painel trazia o desenho que conhecemos no Ka de rua, mas tinha acabamentos e instrumentação exclusivos. Embora tenha mais espaço, porém, o Turing Ka ainda acomoda apenas quatro pessoas — em bancos individuais.

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O visual externo é o de um Ka mais longo com duas portas a mais: dianteira e traseira têm faróis, lanternas e proporções gerais idênticas às do hatch. As diferenças estão nos detalhes: a carroceria amarela contrasta com cinza metálico dos para-choques de desenho mais agressivo — que possivelmente infuenciou o visual da dupla SportKa e StreetKa.

As proporções são muito bem acertadas mas, às vezes, o carro parece mais um hatchback extra-longo do que uma perua propriamente dita. O visual era complementado por rodas OZ de 17 polegadas, calçadas por pneus Pirelli de medidas 215/40 — de perfil baixo e bem largos (ao menos para um Ka), dando à perua certo apelo esportivo. Traçando um paralelo mais atual, pense no Audi A3 Sportback. Também notamos certa semelhança de seu perfil com o do Mercedes-Benz CLS Shooting Brake.

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Para a decepção geral o conceito não era 100% funcional: apenas as portas do lado do motorista abriam e fechavam normalmente, e todas as janelas, com exceção do para-brisa e do vigia traseiro, eram fixas, feitas de plexiglass e não vidro. Os instrumentos são meramente decorativos, e toda a parte traseira é feita de fibra de vidro, não metal. Mesmo assim o Turing Ka parecia próximo da produção.

Nem todos aprovam o visual do conceito — aliás, há quem não curta muito o visual sem precedentes do Ka até hoje —, mas a gente realmente aprecia a ideia de um Ka um pouco mais espaçoso, com a mesma plataforma de excelente dinâmica. Seria uma boa perua compacta e, talvez, fizesse o mesmo sucesso que a Audi faz com o A3 Sportback ou a Mercedes com o CLS Shooting Brake. Ou até mais, dependendo do preço e motorização. Imagine só um “Turing Ka XR”.

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Contudo, isto é especulação, e o novo Ka deixou de ser um modelo mais focado na experimentação em design para ser o carro de entrada da Ford em mercados emergentes (como o Brasil). Mesmo com esta mudança de foco, que finalmente trouxe o Ka de quatro portas e a versão sedã, dificilmente veremos uma versão perua pois elas estão em extinção por causa dos crossovers — e não temos certeza se gostaríamos de ver um Ka crossover…