Você já deve ter chamado um carro pequeno com motor enorme de “cadeira elétrica”. Pois agora, meu amigo, você vai conhecer (ou rever) uma coisinha que eleva o sentido da expressão a um nível extremos: o Gixxer Kart — um kart com motor de 1.100 cm³ de Suzuki GSX-R.
A geração mais nova da internet deve pensar que o YouTube, o Facebook e o Instagram sempre estiveram aí, mas a verdade é que em 2002, o conceito de “viral” era inexistente. E foi justamente em 2002 que este vídeo se espalhou como pólvora:
São três minutos de derrapadas controladas, rodas destracionando e o ronco do quatro-cilindros refrigerado a ar da moto esportiva da Suzuki. Normalmente, um kart usa motores de 150 a 250 cm³ — o que, para uma estrutura que pesa cerca de 70 kg (sem o motor), já é bastante coisa. Agora imagine o que um motor de 1.100 cm³ e, não raro, dez vezes mais potência do que os motores que costumam ser usados em karts (a relação de potência costuma ser de menos de 2 kg/cv), é capaz de fazer — a começar pela própria concepção do kart.
Na verdade, o termo Gixxer Kart deixou de ser apenas o nome do kart do vídeo e se tornou sinônimo para qualquer projeto que envolva um kart e um motor de moto de alto rendimento. De 12 anos para cá, o Gixxer original deixou centenas de herdeiros espalhados pelo mundo — o que acabou resultando em uma “receita” praticamente pronta, que pode ser seguida por qualquer um com os conhecimentos mecânicos necessários.
Se você nos acompanha, deve ter visto este post, que explica como funciona o “chassi” (o nome correto é quadro) de um kart. Resumindo, como não há suspensão, toda a estrutura do kart precisa torcer para acompanhar o relevo da pista e também permitir que ele faça curvas com mais facilidade. A estrutura também precisa suportar a força do motor, o que não é tão difícil quando o que se tem são, digamos, 20 cv e 3 ou 4 mkgf de torque. Mas e quando é preciso lidar com mais de 100 cv e quase tanto torque quanto um carro popular?
Um dos aspectos principais é o entre-eixos, bem mais longo do que o normal para um kart. A razão é simples de entender: além do óbvio aumento no tamanho do conjunto motor+câmbio, a maior distância entre os eixos ajuda o Gixxer a ter mais estabilidade direcional — todo mundo conhece a fama de carros pequenos, potentes e de entre-eixos curto, não é? Na melhor das hipóteses, ariscos. Na pior, um perigo.
Também é preciso cuidado na hora posicionar no chassi de grilo do kart para não comprometer a distribuição de peso — já levando em consideração o peso do piloto. E, obviamente, você não pode simplesmente soldar uns tubos e achar que está bom: será preciso caprichar nos reforços estruturais do Gixxer para suportar peso e força extras.
O negócio é que, mesmo com todas as providências, um Gixxer é um dos maiores exemplos de selvageria sobre rodas que existem — e não falta gente que vive para esse tipo de coisa. Uma rápida busca na internet, tanto no Google quanto em fóruns ou no YouTube, é suficiente para encontrar centenas de filhos do Gixxer — alguns com motores menores, de 600 cm³, e outros com motores mais modernos, eficientes e potentes, com mais de 150 cv.
Que tal um Gixxer Kart de arrancada?
O Gixxer Kart original, com seu motor de 115 cv, era capaz de chegar aos 100 km/h em menos de três segundos, com velocidade máxima superior a 200 km/h (variando com as relações do câmbio e o peso do piloto). Fica ainda mais impressionante se levarmos em conta que só uma fração da força vai para o chão — com seus pneus de diâmetro minúsculo, os Gixxer destracionam como loucos. Sinceramente, eu não sei se andaria em um Gixxer em estado de sã consciência.
De qualquer forma, pilotar um Gixxer Kart deve ser uma das experiências mais empolgantes ao volante. Mas, como todo graxeiro sabe, boa parte da graça está em meter a mão no metal, na borracha e, obviamente, na graxa. Se você acha que dá conta de construir o seu próprio Gixxer, saiba que a internet está cheia de “how to”, e tutoriais como este vídeo do YouTube:
Quer mais? Então toma: o vídeo abaixo traz ninguém menos que Sabine Schmitz testando um Gixxer Kart pela primeira vez — ela, que é capaz de domar um Dodge Viper conhecido por ser um dos supercarros mas brutais da história, se pergunta “como o Achim (piloto do Gixxer Kart) consegue ir tão rápido nessa coisa”?
Nós só não vamos te incentivar muito — Gixxer Karts são perigosos por natureza e não queremos ser responsáveis por alguns ossos e dentes quebrados e prejuízos financeiros e materiais.
[ Fotos: VWVortex ]