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Car Culture

Go-go-Godzilla! A revolução do Nissan GT-R R35

Em 2001 a Nissan mudou radicalmente a história do Skyline GT-R. O esportivo ainda estava em produção quando o Skyline foi atualizado com uma nova geração mais voltada ao segmento de luxo, que compartilhava sua plataforma com o novo 350Z, sucessor do 300ZX e o esportivo de entrada da Nissan. Como ficaria o GT-R nessa história?

A primeira pista veio ainda em 2001, quando a Nissan apresentou o conceito GT-R no Tokyo Motor Show daquele ano, aparentemente baseado na recém-lançada geração do Skyline, porém com elementos visuais próprios, como os faróis, a grade dianteira e, claro, as tradicionais lanternas circulares dos GT-R. O GT-R R34, contudo, continuou produzido ao longo de 2001 e 2002, e até ganhou uma edição especial póstuma em 2003 — a lendária Z-Tune.

Apesar do conceito e da expectativa por um novo GT-R, a Nissan levou quatro anos para mostrar alguma novidade a respeito do esportivo. E ela veio em 2005 na forma de mais um conceito, novamente apresentado no Tokyo Motor Show, mas desta vez completamente descolado do Skyline e mais desenvolvido em relação àquele conceito de 2001. Agora batizado de GT-R Proto, a Nissan o apresentou dizendo que ele tinha entre 80% e 90% do que veríamos na versão de série do esportivo.

Tivemos que esperar mais dois anos, mas em 2007 a Nissan finalmente trouxe o novo GT-R. Sem Skyline no nome, sem um motor de seis cilindros em linha, mas ainda com dois turbos, tração integral e desempenho suficiente para preocupar os engenheiros de supercarros.

Isso, porque o GT-R chegou arrebentando os portões do segmento dos esportivos: a Nissan voltou ao Nürburgring Nordschleife e fez seu GT-R R35 completar uma volta no traçado em sete minutos e 29 segundos — três segundos mais rápido que o todo-poderoso e caríssimo Porsche 997 GT2. Os alemães acharam tudo aquilo um acinte, e não hesitaram em chamar o tempo de fraude, só para ter de engolir um vídeo onboard da volta, provando que o GT2 fora superado por um esportivo japonês que custava menos da metade de seu preço.

Para tornar a situação mais desnorteante para a Porsche, em 2009 o GT-R voltou ao Nordschleife e baixou seu tempo para 7:26,70, superando também o Porsche Carrera GT, o mais rápido modelo de rua da marca.

O Nissan GT-R se tornou uma sensação instantânea. A marca sempre explorou comercialmente seus tempos de volta em Nürburgring, mas desta vez eles levariam a campanha a um novo patamar. A cada atualização mecânica ou aerodinâmica do modelo, eles voltavam à Alemanha e cravavam um tempo mais baixo. Em 2011, quando a potência subiu de 487 cv para 492 cv, eles baixaram o tempo de 7:26,70 para 7:24,22. Depois, em 2012, quando o V6 saltou dos 492 cv para 553 cv (sim, 61 cv a mais), o tempo baixou para 7:19,10. Mas o melhor viria em 2013.

Foi quando a Nissan apresentou o Nismo GT-R, uma versão de 600 cv com suspensão retrabalhada, medidas de alívio de peso e aerodinâmica revisada. Com alguns ajustes finos para torná-lo ainda mais rápido, ele completou a volta em 7:08,679. Um tempo assombroso para a época, e que lhe rendeu o topo da tabela de tempos de Nürburgring Nordschleife — ao menos até descobrirem que o carro usou alterações não oferecidas no modelo apresentado ao público. Para reparar o deslize, a Nissan acabou lançando uma série especial com estes upgrades de Nürburgring.

Para dar um jeito de transformá-lo em um carro “produzido em série”, a Nissan criou a versão N-Attack —  que significa “Nürburgring Attack”. Na prática, era um pacote opcional do GT-R Nismo que incluía novas pastilhas de freio, suspensão com barra estabilizadora e amortecedores Öhlins ajustáveis, para-lamas, para-choques, capô e asa traseira ajustável de fibra de carbono — esta última capaz de aumentar em 100 kg a downforce a 300 km/h.

Como era um pacote opcional oferecido temporariamente — e vendido até mesmo para quem já tivesse um Nismo GT-R usado — não há números de produção.

Apesar da ruptura do status quo na época de seu lançamento, o GT-R não conseguiu manter sua posição revolucionária por muito tempo. O modelo encareceu e seu desempenho se tornou o novo lugar-comum dos supercarros. A solução para mantê-lo atrativo foi adotar uma estratégia semelhante à da Bugatti e outras marcas super premium: séries especiais. Foram mais de dez séries especiais, mas as mais importantes foram as que comemoram seu aniversário de 50 anos: a GT-R 50th Anniversary Edition e a GT-R50.

A principal característica da edição 50th Anniversary é pintura, que traz de volta o icônico tom de azul “Bayside Blue”, também conhecido como Wangan Blue, usada pela última vez no GT-R R34, descontinuado em 2002. Por dentro, o carro traz o acabamento Prestige, com revestimento de couro cinza nos bancos, painel de instrumentos, revestimentos de porta, volante e alavanca de câmbio; além de teto e para-sóis revestidos em Alcantara.

A mecânica permanece a mesma: o motor VR38DETT, V6 biturbo de 3,8 litros, com 565 cv e 64,5 kgfm de torque, acoplado a uma caixa de dupla embreagem e seis marchas que leva a força do motor para as quatro rodas.

Já o Nissan GT-R 50th Anniversary Edition teve 50 unidades fabricadas para o mercado europeu. Destas, 18 foram para o Reino Unido e as outras 32 para a Europa continental.

Outra série especial de 50 anos é o GT-R50 — esta talvez a mais especial de todas as séries do Nissan GT-R R35. O carro foi estilizado pelas equipes de design da Nissan, mas é construído e desenvolvido pelos italianos da Italdesign (sim, a Italdesign de Giugiaro).

O modelo é baseado no GT-R Nismo, mas tem uma carroceria completamente modificada, usando formas complexas, uma enorme grade e faróis mais afilados com barras de LED horizontais. Na traseira, há o vigia de superfície côncava, lanternas vazadas e a face pintada de preto, contrastando com a carroceria que, neste carro em específico, vem na cor verde-azulado. Além disso, a linha do teto é 54 mm mais baixa que no GT-R normal.

O interior não mudou tanto como o lado de fora – o design do painel é o mesmo, embora o acabamento tenha ganhado uma dose extra de fibra de carbono e Alcantara.

O GTR-50 usa uma versão modificada do motor V6 VR38DETT de 3,8 litros, capaz de entregar 720 cv e 79,5 kgfm de torque — um acréscimo de 110 cv e 13 kgfm em relação ao GT-R Nismo obtido com a substituição dos turbos originais pelo par usado na versão GT3, intercoolers de maior capacidade, conjunto rotativo reforçado, sistema de lubrificação e combustível redimensionados, novos comandos de válvulas, injeção e ignição remapeadas e novos coletores de admissão e escape.

A caixa de dupla embreagem e seis marchas foi reforçada para lidar com os novos números, e o conjunto leva o carro de zero a 100 km/h em 2,6 segundos.

Agora, com 15 anos de estrada, o Nissan GT-R ainda é oferecido, mas não ganhou um modelo 2022. A Nissan parece não ter definido se irá simplesmente encerrar a história do seu mais icônico esportivo ou se dará a ele uma nova geração apontada para o futuro. Rumores falam em uma edição final em 2022, enquanto outros falam sobre uma nova geração em 2027 – o que faria com que a atual geração ficasse nada menos do que 20 anos no mercado, um feito quase inédito para um esportivo mainstream produzido em série — nem mesmo o 911 passou tanto tempo sem alterações significativas.

Mas a posição da Nissan é compreensível. Estamos em uma fase um tanto incerta sobre o futuro e planos de médio prazo podem ser arriscados demais para uma história de 50 anos. Talvez a Nissan esteja apenas sendo prudente. O que irá acontecer realmente, é algo que só descobriremos com o passar do tempo.


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