Se você é fã de games de corrida em geral (e, se está lendo o FlatOut, provavelmente é, mesmo), já sabe que Gran Turismo Sport foi lançado, e provavelmente quer saber se vale a pena ou não comprar o mais novo título da franquia para o PlayStation 4. Nós também ficamos curiosos, e demos uma sondada pela internet para saber o que andam falando do novo Gran Turismo. Ficou melhor? Ficou pior? Bem, é clichê dizer isto, mas a opinião geral é que o game ficou… diferente. Se isto é bom ou ruim, talvez seja cedo para dizer. Mas talvez te ajude a decidir.
O último jogo da série, Gran Turismo 6, foi o auge da evolução linear de Gran Turismo. O game é absurdamente bonito; tem uma seleção matadora de carros, com exatamente 1.197 deles (ainda que seja naquele esquema de 20 versões de cada carro japonês); e no geral é uma versão extremamente melhorada do game que aprendemos a amar na década de 1990 – mais realismo, mais carros, mais pistas e o famigerado ronco de aspirador de pó, do qual alguns até aprenderam a aceitar.
Então, Gran Turismo Sport foi anunciado como uma “nova direção” para a franquia. Em um dos trailers, a abordagem ficou clara: o game seria mais focado nas corridas e daria menos destaque à garagem. O negócio não seria mais colecionar carros, e sim correr com eles. Só que o pessoal lá na Polyphony Digital pode ter exagerado um pouquinho na dose. Ou não?
Depende para quem você pergunta, de verdade. E isto vale para todos os aspectos do jogo, como veremos agora.
Mas e aí, o que mudou?
Pois então. Gran Turismo Sport reforçou a parceria da Polyphony Digital com a FIA, e trouxe até mesmo Lewis Hamilton como “maestro” do jogo. Indo direto ao ponto: a desenvolvedora, na prática, criou uma plataforma para corridas online com GT Sport.
Isto quer dizer que, para aproveitar grande parte do jogo, é preciso estar conectado à internet e logado em sua conta da PSN. Há um modo arcade totalmente offline, mas ele é extremamente limitado em relação ao modo arcade de GT6, por exemplo, e simplesmente não há um Simulation Mode no qual você tira sua licença, participa de campeonatos, compra carros e coloca na sua garagem, participa de mais campeonatos e compra mais carros.
E isto é ruim?
A maioria das publicações não achou isto muito legal, não. O IGN, por exemplo:
O modo Arcade é a única parte de GT Sport que funciona offline – você não pode fazer testes de direção, comprar carros, tirar fotos no belíssimo modo fotográfico ou mesmo salvar seu progresso se não estiver conectado à PSN. Se você não pode se conectar regularmente, talvez sequer devesse considerar GT Sport.
Provavelmente, muitos fãs das antigas de Gran Turismo se desencantaram agora. E, não podemos mentir, ficamos um pouco tristes, também. Mas tem mais.
E como ficaram os circuitos e carros?
As listas de circuitos e carros diminuiu mesmo. Em Gran Turismo 6, eram 40 locações, 86 circuitos (incluindo os reversos) e um editor de pistas que te permitia criar seu próprio circuito. Agora, são 17 locações e 40 circuitos diferentes. De acordo com o site Ars Tecnica, isto pode ter a ver com a parceria com a FIA. A organização avaliou todos os circuitos de GT Sport antes de aprová-los para o jogo, o que pode explicar a ausência de clássicos como Trial Mountain, High Speed Ring, Grand Valley e Special Stage Route 5, por exemplo: eles podem simplesmente não ter passado no escrutínio da FIA. O que não explica, porém, a ausência de circuitos do mundo real como Laguna Seca e Tsukuba.
No que diz respeito aos carros, a ausência parece mais compreensível. Ainda segundo o Ars Tecnica:
Uma crítica recorrente em Gran Turismo sempre foi a lista inflada de carros. Poder escolher entre mil modelos diferentes é legal, mas boa parte daqueles carros eram variações sutis do tema Nissan Skyline GT-R ou Mazda MX-5. Bom, pessoal, se vocês queriam um Gran Turismo sem 300 Skyline diferentes, aí está. Isto significa que muitos do antigos favoritos da galera estão ausentes – pode ser que eles sejam disponibilizados mais adiante como DLC, mas ainda não há informações a respeito.
Uma coisa interessante, porém, é o fato de haver um editor de pinturas de corrida (dá pra fazer um tema do FlatOut, por exemplo). Porque você ainda tem uma garagem e ainda pode colecionar carros. Só não serão tantos carros diferentes quanto antes.
Dá para se divertir com o que se tem?
Bem, agora são 137 carros e, a não ser que você seja extremamente implicante, não dá para reclamar da variedade: a Porsche finalmente apareceu, há alguns hot hatches interessantes e 30 conceitos Vision Gran Turismo de diferentes fabricantes. Foi uma redução drástica (a gente está batendo o tempo inteiro nesta tecla porque é chocante, mesmo), mas a Polyphony compensou em outros aspectos do jogo.
Há alguns circuitos originais novos, e a presença de Interlagos é uma das boas adições, tratada com destaque nos teasers. Os outros circuitos do mundo real são Willow Springs, Nürburgring, Brands Hatch, Suzuka e Bathurst.
Se você quer jogar sozinho, não vai se divertir muito. Mas, se estiver disposto a se conectar, vai entender do que se trata Gran Turismo Sport.
E do que se trata?
De um grande torneio online, resumidamente. Uma vez conectado, você pode participar de torneios online para até 24 pilotos. As corridas acontecem todos os dias, de hora em hora, com o grid sempre cheio e enquanto espera um evento começar, você pode participar continuamente dos treinos de classificação para garantir uma boa posição. Com o grid cheio, isto é essencial: você não está disputando contra a máquina, e sim contra gente do mundo real que quer vencer tanto quanto você.
O povo só não fica agressivo demais porque há um sistema de recompensas e punições que define sua reputação, e esta reputação fica o tempo todo ao lado de sua tag da PSN. Se você se envolve em colisões, corta caminho pelo canteiro e não compete de forma justa, sua reputação cai. Se você faz uma corrida limpa, sua reputação melhora, e você ganha pontos e créditos mesmo que não vença a corrida. Daqui a alguns dias os torneios oficias vão começar, e a competição pelo ranking mundial vai ficar mais séria. A Polyphony continua se comprometendo a colocar os melhores pilotos do mundo ao volante de carros de corrida de verdade, como já ocorre desde 2011, quando teve início a parceria com a Nismo que deu ao jovem e talentoso Lucas Ordoñez uma carreira nas pistas e cinco participações nas 24 Horas de Le Mans.
Além disso, é preciso assistir a três vídeos “educativos” antes de iniciar o modo online, que te dão noções do que fazer e do que não fazer na pista. Na prática é um briefing virtual.
Mas e o game em si? Gráficos, jogabilidade…
A impressão geral é que só malharam GT Sport até agora, não? Calma, não é bem assim. A jogabilidade foi muito elogiada. Segundo o Trusted Reviews:
Logo de cara é difícil criticar o seguinte fato: GT Sport é um ótimo jogo de corrida e, pela primeira vez em muito tempo, abraçou de verdade a arte do automobilismo. Ainda que a franquia nunca tenha deixado de ser elogiada pela forma como os carros se comportam, não achamos que a emoção das competições fosse a maior fonte de elogios. Não era ruim, mas havia uma óbvia falta de adrenalina enquanto se tentava levar a bandeirada.
Desta vez este não é o caso. Para assegurar que você tenha sinta ação ininterrupta que uma boa corrida oferece, a IA de GT Sport é muito mais avançada do que a dos games passados. Ela entende de fato como agir de forma agressiva. No passado, os oponentes guiavam pelo circuito como se não estivessem nem aí para quem vencesse. Agora, eles realmente querem subir no lugar mais alto do pódio.
O pessoal do IGN foi um pouco mais crítico, mas também falou bem:
A natureza eclética do modo Campanha me educou rapidinho a respeito das nuances do modelo de pilotagem de GT Sport. Não dá para brigar com o carro nas curvas como se faz em Project CARS 2 e Assetto Corsa, mas certamente o negócio é um pouco mais sério do que em Forza. A transferência de peso é especialmente pronunciada nos carros de rua, e esterçar de forma sutil freando na medida certa é recompensado com pontos e dinheiro. Carros de corrida permitem muito mais agressividade, pois são mais duros e capazes de abraçar a superfície da pista com mais tenacidade, mas só até o limite do grip. As coisas não são perfeitas quando se perde tração, porque ainda é como se a aderência desaparecesse do nada.
Demonstração do modo de realidade virtual de Gran Turismo Sport
A maior parte das críticas quanto ao visual do jogo tem a ver com a falta de um ciclo dinâmico dia-noite, sol-chuva. Você pode escolher qual será o período e o clima antes da corrida, e eles não vão mudar. Para o IGN, isto meio que tirou a “vida” dos circuitos.
No mais, os gráficos impressionaram pelo realismo dos carros e dos cenários. Eis o que disse a Forbes:
Se você acompanha a série Gran Turismo, não vai se surpreender com o fato de GT Sport ser visualmente estonteante. O vídeo de abertura é cativante e mostra o poderio do PS4 Pro tanto quanto qualquer outro jogo que vimos no console. E a beleza não se restringe às cutscenes: a ação no jogo é tão atraente quanto, e os modelos dos carros são tão vibrantes e caprichados quanto em qualquer outro do gênero.
Nossos two cents: o vídeo de abertura é maravilhoso, mas traz muitos carros de corrida emblemáticos e cenas memoráveis do automobilismo que não estão no jogo, ao menos por enquanto. Isto não se faz.
E o ronco de aspirador de pó dos carros, melhorou?
Assumindo a primeira pessoa: eu amo Gran Turismo, e sei reconhecer que o ronco dos carros nunca foi bom. Mas nos vídeos que já estão pipocando pelo Youtube é possível perceber a melhora. O pessoal do IGN aprovou:
Os roncos dos carros estão muito melhores que nos outros GT. Ainda não é o melhor da categoria (este título é provavelmente divivido entre Project CARS 2 e RaceRoom Racing Experience), mas é muito mais complexo e variado, com os estalos do escapamento se sobrepondo ao ronco do motor e aos vários ruídos da transmissão. É um salto muito grande para a franquia, que sempre ficou para trás no quesito áudio. Na verdade, fora o modo online, provavelmente não há um ponto em que GT Sport melhorou tão drasticamente quanto no som.
Em suma: Gran Turismo Sport é um bom game, mas perdeu diversos elementos que caracterizavam a série. No entanto, traz ingredientes bons o bastante para conquistar novos fãs. Talvez haja, no fim das contas, um bom motivo para que o jogo não tenha recebido um número “7” no fim do nome.