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Car Culture

Honda e os outros AMG que não eram Mercedes-Benz

Faz quase 60 anos que Hans-Werner Aufrecht e Erhard Melcher deixaram a Daimler-Benz para continuar o trabalho que faziam na divisão de competição da fabricante, que foi encerrada ao final de 1964. Com os sedãs daquela que se tornaria a Classe E, eles seguiram disputando ralis locais e corridas de turismo sob o nome AMG — Aufretch, Melcher e Grossaspach, o nome do lugar onde ficava a oficina, inaugurada oficialmente em 1967.

O negócio acabou dando certo: além dos carros de corrida, eles iniciaram um programa de personalização e preparação para carros de rua mesmo. Nos anos 1980 eles já forneciam seus kits em parceria com a rede autorizada Mercedes e, em 1993, acabaram comprados pela fabricante — tornando-se integralmente uma divisão da Daimler-Benz em 1998.

Faça as contas: a AMG foi fundada em 1967 e adquirida integralmente pela Daimler-Benz em 1998. Foram 31 anos atuando de forma independente da Mercedes. Uma relação que se tornou cada vez mais próxima à medida em que estes anos se acumulavam, mas que não era, digamos, monogâmica.

O exemplo mais conhecido dessa não-fidelidade da AMG em relação à Mercedes são os Mitsubishi Debonair e Galant modificados pela preparadora. O primeiro era um sedã de luxo, que foi fabricado de 1964 a 1998 por apenas três gerações. A primeira durou até 1986, rivalizando com automóveis como o Toyota Crown e o Nissan Cedric pela preferência dos jovens executivos nascidos durante a reconstrução do Japão após a Segunda Guerra.

Essa atratividade continuou com a segunda geração do Debonair, que chegou naquele mesmo 1986 com tração dianteira e motores V6 mais potentes. O carro foi um sucesso de vendas neste segmento e, talvez por isso, a Mitsubishi chamou a AMG para dar um tapa no Debonair e torná-lo mais interessante.

O resultado foi o Debonair V3000 Royal AMG, que tinha emblemas da AMG por todos os lados (de verdade, veja os para-lamas traseiros). Sob o capô o motor era o mesmo V6 de 155 cv que o levava aos 100 km/h em 10 segundos e não passava dos 180 km/h — um limite tácito, resultante de um acordo de cavalheiros da indústria japonesa. Isso, porque o foco era o conforto e a estética. A AMG tinha esse tipo de proposta para os Mercedes, também — algo como as atuais versões Sport, uma vez que, na época, a Mercedes só tinha modelos mais sóbrios.

O pacote do Debonair incluía uma grade mais agressiva visualmente, para-choques redesenhados, spoiler traseiro, saídas de escape duplas e rodas mais modernas. Por dentro ele ganhava um volante esportivo da AMG e só isso mesmo.

Em 1989 o Debonair AMG saiu de linha, mas a AMG continuou trabalhando com a Mitsubishi porque naquele mesmo ano veio o Galant AMG, que tinha um pacote bem mais interessante. Usando como base a sexta geração do modelo, na versão GTi-16v — equipada com um quatro-cilindros em linha de dois litros com comandos duplo no cabeçote e 146 cv — a AMG trocava os comandos e aumentava a taxa de compressão para fazer o motor chegar aos 170 cv. Além do motor, o Galant também ganhava um bodykit AMG, claro, e revestimento interno de couro preto.

A parceria, contudo, durou pouco: também em 1989 a Mitsubishi colocou no mercado o Galant VR-4, especial de homologação para a versão de rali que competiu no WRC. Com tração integral e um 2.0 turbo de dois litros com comando duplo no cabeçote, 241 cv a 6.000 rpm, o Galant VR-4 era capaz de chegar aos 100 km/h em 7,6 segundos.

Como o desempenho era praticamente o mesmo do Galant AMG, o VR-4 acabou canibalizando o modelo, que saiu de linha em 1992 e marcou o fim da parceria entre a Mitsubishi e a AMG – que àquela altura já estava desenvolvendo seu primeiro modelo oficialmente lançado pela Mercedes, o C36 AMG.

Os Mitsubishi, contudo, não foram a única aventura da AMG fora do universo da Mercedes. Logo depois de desenvolver o Galant AMG, eles deram uma força para a Mercedes na África do Sul, desenvolvendo um… Honda Civic!?

Pois é. A Mercedes produziu um Honda Civic na África do Sul. E como se não bastasse essa situação pouco provável, eles ainda deram a ele uma versão AMG. Uma não, duas!

A história começou dez anos antes do Civic AMG aparecer no mercado sul-africano, quando os interesses da Daimler-Benz e da Honda convergiram para essa solução. A Honda queria entrar no mercado sul-africano, algo que exigia um enorme investimento na construção de uma fábrica e na rede de revendas e oficinas autorizadas. A Daimler, por outro lado precisava de um carro mais barato que o 190E para ajudar nas contas da sua fábrica sul-africana. Já ficou claro, certo?

Em 1982 o negócio saiu do papel e os primeiros Honda Civic sul-africanos feitos pela Mercedes saíram da linha de produção — com o nome Honda Ballade. É claro que ele não tinha a estrela no capô, mas usava o mesmo revestimento dos bancos dos Mercedes e os famosos rádios da Becker. E, pasmem, eles eram vendidos nas concessionárias Mercedes!

Oito anos mais tarde, o Ballade feito e vendido pela Mercedes ganhava uma versão esportiva da empresa que fazia os Mercedes esportivos, a AMG. O modelo chegou em 1990 ainda na quarta geração do Civic/Ballade, e trazia o emblema da AMG na traseira do carro, mas não tinha a sigla AMG no nome.

Com um pouco de esforço dá pra ver o AMG no cantinho

Ele foi batizado como Ballade 160i AMG e tinha o motor D16-A9, de 130 cv a 6.800 rpm combinado a um câmbio manual de cinco marchas. A versão, ao que consta, foi idéia da própria Mercedes e, apesar do emblema AMG na traseira, não trazia nada além das rodas de 15 polegadas da Aluline, um spoiler traseiro desenvolvido pela AMG e molas Eibach 40 mm mais baixas que as originais.

Em 1992 veio a nova geração do Civic e, com ela, um novo Ballade AMG. O motor D16 dava lugar ao B18, exclusivo do mercado sul-africano. Com o novo motor, o carro passou a se chamar Ballade 180i AMG. A receita era a mesma, mas agora com rodas de 16 polegadas da Remotec.

Infelizmente há pouquíssimas informações e imagens destas versões, mas elas parecem ter feito relativo sucesso na África do Sul — a ponto de ser oferecida até a sexta geração do Civic/Ballade. Ao que tudo indica, nesta última iteração o nome mudou para Ballade Sport AMG, e sua produção durou somente até 1998 — justamente quando a AMG foi totalmente incorporada pela Daimler-Benz.

O Ballade Sport AMG com a cor exclusiva da AMG

Três anos depois, a parceria da Mercedes-Benz South Africa com a Honda foi encerrada, e a Honda assumiu a operação local. O Ballade ainda é vendido localmente, mas é o carro que eu e você conhecemos aqui como City — o nome foi alterado para não haver confusão com o VW City Golf, vendido localmente.

Depois do Honda, a AMG faria apenas um último carro sem a marca Mercedes — mas baseado em um projeto dela: o Chrysler Crossfire SRT6.

Caso você não lembre, o Chrysler Crossfire foi a versão americana do Mercedes-Benz SLK, nascido na época da DaimlerChrysler. Ele era um dos carros derivados de plataformas compartilhadas entre as duas fabricantes — que, desde 1998 eram uma só. Diferentemente do Mercedes-SLK, contudo, o Crossfire era oferecido também como um cupê além do roadster com capota de tecido.

Foi nessa configuração, aliás, que ele chegou ao mercado, em 2004 — um cupê com motor V6 de 3,2 litros, 218 cv e câmbio manual de seis marchas ou automático de cinco. No ano seguinte, em 2005, veio a versão da AMG, digo, da SRT. O carro tinha exatamente a mesma configuração mecânica do SLK32 AMG: o mesmo V6 de 3,2 litros da versão básica, porém sobrealimentado por um compressor de polia que ficava no meio do V.

Com o fôlego extra a potência subia dos 218 cv para 335 cv, suficientes para levá-lo aos 100 km/h em menos de cinco segundos. Infelizmente, por ser um AMG moderno, ele tinha só o câmbio automático de cinco marchas, deixando de lado a caixa manual da versão de entrada. Ah, e ele também foi oferecido como cupê — há mais modelos fechados do que roadsters, na verdade. Foram feitos 2.571 cupês e 1.500 roadsters, somente nos anos de 2005 e 2006.


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