De uns 15 anos para cá, começaram a pipocar vários eventos de automobilismo amador no Brasil, nos quais não são exigidas nem carteirinha de piloto CBA, nem um carro full track spec. E esse tipo de evento só tem crescido e se multiplicado em formatos, gostos e bolsos. Desde os eventos da Driver, com carros superesportivos e muitas vezes preparados para potências astronômicas e tendo um conjunto que se adeque a isso, até outros trackdays em asfalto, trackdays em pista de terra, Pro-Solo (que nos Estados Unidos é chamado de Autocross), e os Hot Lap. E é sobre esse evento que vamos falar.
O Hot Lap Limeira nasceu fruto da idéia de Fabio Machado, e consiste em utilizar a pista do Kartodromo de Limeira para uma competição na qual vale o melhor tempo de volta que for obtido no dia. Simples assim.
E essa é a pista. Travadinha, hein. Foto: Victor Groba
Mas, definitivamente uma descrição dessa não consegue mostrar o que é o evento. E a melhor forma de descrever o evento é, RAIZ.
Yes, Ladies and Gentlemen, isso é um CHEVETTE.
Começamos pelos carros. O grid é, no mínimo, diverso, e não tem nada que, a primeira vista, encha os olhos de quem só se impressiona com carros caros. Nissan March, Chevrolet Vectra, Kadett, Corsa e Chevette(que estava um tanto “aliviado” em peso), Ford Ka, Courier, Escort e Focus (o qual este humilde escriba possui e utilizou no evento), VW Gol e Voyage, Fiat 147(sim, um 147) se misturavam com maquinário como Citroen DS3, Renault Sandero RS e Subaru Impreza WRX. Mas… aí já começa a graça do evento.
E sim, o famoso Celta EMO estava no evento!
O maquinário pode parecer aparentemente humilde, mas a coisa não é bem assim. Exemplo? Um dos Ka tem preparação para aproximadamente 140 cv em um motor Rocam 1.6l, o outro é turbinado e tem interior todo aliviado com gaiola de proteção e dois bancos concha, o Voyage também é turbinado( e inclusive é um Project Car, do Leo Ceregatti), o Escort tem engine swap para Zetec 2.0l, a Courier é remanescente da antiga Copa Courier DTM, e são carros que tem envolvimento direto dos seus donos tanto nas metas do projeto quanto na execução. Além disso, normalmente seus pilotos também trabalhavam nos veículos nos boxes do evento. Como diria uma frase dita em uma arrancada que fui, “Built, not Bought”.
Só troca de pneu? Tá facil, tem gente que já trocou homocinética, semi-eixo e flexível de freio em outros eventos…
O evento em sí é acessível. O custo de inscrição é baixo, especialmente quando se considera que se tem praticamente um dia inteiro na pista. O evento começa as 8:00, termina as 17:00, e diga-se de passagem que, as 17:00, tinha gente na pista ainda.
Não há instalações suntuosas nem nada. São boxes que servem bem para abrigar carros, pilotos e agregados em caso de chuva, e ponto. Tais boxes, aliás, são acessíveis ao público, e desde que haja bom senso, não há problema algum em acessá-los e acompanhar de perto o que está acontecendo. Alimentação? Tem um food truck bom, mas houve eventos em que os pilotos se juntavam, faziam um rateio e um churrasco era organizado na hora.
Só que vale observar o seguinte: é raiz? Sim. Mas não significa desorganização. Equipe com resgate, ambulância, cronometragem por transponder e sistema de som, tudo funcionando sem falhas.
Liberação de pista no momento certo, transponders instalados… é raiz, mas não é várzea!
E… os próprios pilotos. São pessoas que, em suma maioria, estão alí pelo amor a velocidade, são acessíveis a qualquer um que venha perguntar como está o carro ou qual a preparação utilizada, e muitos já participam dos eventos há anos. Sendo assim, há um clima saudável de amizade, confiança e ajuda mutua, onde ferramentas, peças e até carros são compartilhados em alguns casos. Se ajudam, ensinam e aprendem, e normalmente não tem problema algum em trocar conhecimentos.
E inclusive fazem meme dos amigos quando emprestam o carro.
Ai você junta tudo isso em uma pista na qual não adianta muito ter 500 cv em um superesportivo, pois, por se tratar de um kartódromo, a agilidade dos veículos é muito mais importante que números puros de potencia e torque. Local onde um conjunto menos potente, mas mais leve e com bom grip mecânico brilha.
E temos automobilismo raiz. De pé no chão. Da zuera. E que normalmente, depois de voltas valendo contra o cronometro, atenta os pilotos a fazer a curva 1 do kartódromo, uma 90º com relativa área de escape (e publico), de lado. Só porque é legal, só porque é divertido.
Como eu na Curva 1…
Porque afinal, ninguém corre só por números e glorias. Até piloto profissional da F1 está lá também pela diversão. Imagina um bando de amadores?
E até o Fiscal de Pista é RAIZ. Sente o naipe do sujeito…
Ah, sobre mim? Bom, eu andei com o meu Focus GL 1.6 Rocam que tem preparação leve, e fiquei no meio do grid (16º de 38 participantes). Desculpas de piloto? Meus pneus slick estavam meio ressecados e não davam aderência nenhuma.
E para melhorar, depois de três dias de troca de peças de suspensão, freios e etc, ACHO que quebrei uma bucha de bandeja dianteira…
Ainda assim, foi divertido, e pude dirigir vários carros de amigos, ajudando alguns quando possível e aprendendo com outros.
Agradecimentos a Fabio Machado e a toda a equipe do Hot Lap Limeira; Estevan Turco, Marcio Vinicius, Julio Nishikawa e Felipe Loredan por permitir que eu guiasse seus carros; Henrique Momi, Giovanni Morengue, Estevan Turco e Thais Roland pelas fotos.