Oi, pessoal. Meu nome é Bruno Angrisano e eu vim aqui pra contar a história do meu Tigra 1998. Uma história que começa justamente em 1998…
…mas não com o meu Tigra. Em 1998 eu era um estudante de jornalismo na UFMG que adorava carros, queria seguir no jornalismo automotivo (a única editoria em que eu não trabalhei…) e tinha um simpático XR3 1993 europeu. Curtia demais aquele carro, o azul era lindo e brilhante como uma latinha de Pepsi, o APzão tinha um ótimo desempenho e eu vivia uma verdadeira lua-de-mel. Até o dia em que um colega apareceu com um Tigra vermelho, igualzinho aos que saíam nas revistas da época, e falou pra eu dar uma volta. Então meu mundo caiu.
Eu fiquei apaixonado com aquele carrinho, tão leve, rápido e que com um motor que gostava de girar tanto, bem mais moderno que aquele motor do Escort, que eu olhava e começava achar que era um motor de trator. O tempo passou, passaram vários carros na minha vida, e eu já tinha desistido da ideia de ter um Tigra. Imaginem, numa cidade violenta como Belo Horizonte/MG, ter um carro daqueles que chamava tanta atenção? Não, aquilo (infelizmente) não era pra mim.
Legenda: Os Tigras de anúncios povoavam minha cabeça…
Mas o mundo dá voltas e em 2005 eu fui aprovado em um concurso público. Mudei para Brasília e um dia, andando na rua com minha namorada, vi um Tigra azul escuro limpinho, muito bonito e todo original, brilhando na rua. Fiquei namorando o carro, olhando os detalhes que fazem um Tigra: as lanternas que seguem o desenho da tampa da mala pra fazer um rabo de pato, o parachoque traseiro com um lip inferior, a dianteira sem grade frontal, apenas a abertura do para-choque, o parabrisa superinclinado, o vidro traseiro envolvente… fiquei lembrando como aquele carro tinha me encantado enquanto observava os detalhes do bichinho. Nessa hora caiu a ficha: vou comprar um Tigra pra mim. Procurei por um bocado deles, em BH, no Rio, São Paulo, sempre de olho em um vermelho como aquele do meu colega, mas foi em Brasília mesmo, no fim de 2005, que achei um pratinha esperando por mim.
Mea culpa: eu gosto de coisas bonitas. Por isso raramente eu tiro fotos dos meus carros na hora em que os compro. Porque normalmente o carro comprado não está do jeito que eu quero. Por isso, vou pedir desculpas adiantadas a vocês. Não tenho muitas fotos do Tigra em 2005 quando o comprei e câmeras digitais não eram tão comuns. Muito menos do dia em que ele foi comprado.
Mas já adianto a vcs que ele estava com rodas horrorosas — réplicas de rodas de Mercedes dos anos 80 — de aro 15 e que foram trocadas por rodas do Astra Sport, também de 15 polegadas para aproveitar os então ótimos P7000 que estavam nele – as rodas eram réplicas da Scorro mas pelo menos elas não eram feias. Pelo mesmo motivo não tenho fotos do interior dele no tecido ainda, só depois que o cobri com couro…
Poucas fotos, mas tenho uma do dia em que botei as rodas novas
Era um carro com quilometragem relativamente elevada, 115.000 km, e a pintura e o interior um pouco queimados, mas estava com a estrutura íntegra. Nunca tinha sido batido, todos os acabamentos estavam no lugar e mecanicamente estava muito redondo. Tudo no carro funcionava, da regulagem elétrica dos faróis ao alívio de pressão dos vidros. Bati o martelo e levei o carrinho pra casa. A ideia era ir arrumando ele devagar e rodar com o outro carro. Pela primeira vez na vida eu montaria um carro com calma, com tudo do melhor!
Uma foto ilustrativa do interior para quem não lembra como é
Na mesma semana eu recebi uma notícia que mudaria minha vida pra sempre (ah, os clichês): minha namorada estava grávida! Como qualquer pessoa com bom senso, eu raciocinei que o melhor mesmo seria vender o Tigra e evitar algum gasto ou imprevisto. E então, num dia triste guiando o meu futuro ex-projeto, comecei a trocar uma ideia com ele (não sei se vcs conversam com seus carros, eu converso): “uma pena, cara, você vai ter que ir embora. Mal tivemos tempo de nos conhecer.
Detalhe das rodas. Simples, até comuns, mas infinitamente melhores que as antigas horríveis de Mercedes…
Mas eu agora não vou conseguir manter dois carros e não poderei ter o gasto que você vai demandar agora.” Então eu olhei o painel, parado num sinal. Ouvi a lenta lisinha, lisinha, um ronronar gostoso de um escape já sem catalisador, como que falando: “Pô, sacanagem. Eu não dou manutenção. Se você me conhecesse melhor saberia disso. Me dá outra chance…”
Então chegando em casa, olhando pra ele na garagem, bateu uma luz. Eu me desfaria do outro carro (um Polo) muito mais fácil de negociar e que não me daria prejuízo como um Tigra de sete anos vendido às pressas. Então entrei nele, liguei, saí pra rua de novo e falei: “Vamos combinar: eu cuido de você e você cuida de mim. Na hora que der, você vai ganhar o trato que merece. Mas agora preciso que você continue rodando um tempo pra mim, pelo menos até eu conseguir um diarista pra te render dessa tarefa.” Um berro decidido esticando até as 6.000 rotações era o “sim” que eu queria ouvir.
No próximo post contarei sobre o combinado com o Tigra, mais especificamente a parte de “cuidar dele”. Fiquem ligados!
Por Bruno Angrisano, Project Cars #239