O Chevrolet Chevette, como muitos de vocês já sabem, é a interpretação brasileira da plataforma “T” da General Motors, que nos anos 70 foi a base para diversos modelos de diferentes marcas da General Motors ao redor do planeta. Enquanto na Alemanha ele se chamava Opel Kadett e era muito parecido com o carro vendido no Brasil, no Reino Unido ele se chamava Vauxhall Chevette e tinha uma identidade visual bem distinta: a entrada de ar para o motor ficava oculta sob o para-choque dianteiro e a face do carro tinha um aspecto limpo e minimalista, sem grade.
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Sem dúvida o estilo do Vauxhall Chevette era incomum, mas eu até que acho interessante – há quem discorde. Por outro lado, uma das versões mais sensacionais que o “T-Car” da General Motors teve foi justamente uma variação do Vauxhall Chevette britânico: o HSR 2300, criado para homologação do Grupo 4 de rali nos anos 70. Além do visual agressivo conferido pelos aparatos em fibra de vidro (tampa do porta-malas, para-lamas dianteiros e spoiler frontal), o grande trunfo do Vauxhall Chevette HSR 2300 era seu motor: um quatro-cilindros de 2,3 litros com comando duplo no cabeçote, um par de carburadores Stromberg e 137 cv – suficientes para um zero a 100 km/h de 8,5 segundos, com máxima de 190 km/h. Era um hot hatch de fábrica, e dos bons.
O Vauxhall Chevette HSR 2300 foi criado em 1976 para enfrentar o Ford Escort, que na época era uma das grandes forças do rali na Europa. E, até certo ponto, ele foi bem sucedido: embora o Escort tenha sido o campeão mundial de rali na temporada de 1980 do WRC, o Chevette HSR 2300 fez bonito no Campeonato Britânico de Rali de 1979 e 1981. Foram fabricados cerca de 400 exemplares daquela que hoje em dia é uma das mais cobiçadas versões do Chevette já feitas no mundo.
Sendo assim, inspiração não faltava para que Alasdair Stables, proprietário de um dos projetos mais interessantes que já vimos feitos sobre o Chevette hatch – tendo como inspiração o HSR 2300. Mas não por conta de um engine swap mirabolante ou de uma cavalaria absurda, mas justamente por ser uma receita razoavelmente popular, porém com uma execução e atenção minuciosa aos detalhes, e clara inspiração nos Chevette que competiam em ralis na virada dos anos 80.
Não fica claro qual era exatamente o motor que originalmente habitava o cofre do Chevette antes do início do projeto mas, a título de curiosidade, vale observar que as versões mais simples utilizavam um quatro-cilindros de 1,3 litro com comando no bloco, mais antigo do que o motor 1.4 com comando no cabeçote empregado pelo Chevette brasileiro. De todo modo, o que importa é que agora o carro é movido por um C20XE preparado pela britânica Exon Race Engines.
Famoso por sua robustez e boa receptividade a preparações naturalmente aspiradas – e também por seu uso no Chevrolet Vectra GSi e no Calibra vendidos no Brasil – o motor teve o deslocamento ampliado para 2,3 litros. Ele também recebeu pistões e bielas forjados, comandos de válvulas de perfil mais agressivo, corpos de borboleta Jenvey e coletores de admissão e escape Simpson Racing – o bastante para entregar 280 cv e girar a mais de 8.000 rpm. O vídeo abaixo, divulgado pelo canal Hillclimb Monsters, dá uma noção de como ele soa. Spoiler: muito bem.
O motor é acoplado a uma caixa sequencial de seis marchas da Quaife, com diferencial de deslizamento limitado Atlas. A suspensão manteve o sistema de braços triangulares sobrepostos, porém, com molas mais firmes e amortecedores ajustáveis.
Já a traseira ganhou um eixo rígido do tipo five-link com barra Panhard. A suspensão usa ball joints que permitem 16 ajustes diferentes. Todos os componentes foram feitos sob medida, e o trabalho ficou por conta da RetroPower. Se o nome não lhe soa estranho é porque você tem boa memória: trata-se da mesma companhia que (ainda) está tocando o Ford Escort restomod de Gordon Murray. Se o trabalho dos caras está bom para o pai do McLaren F1, está bom para nós.
A carroceria foi alargada na lata para dar espaço a rodas mais largas, de 15×8 polegadas, fabricadas pela Revolution. Sob elas ficam abrigados freios AP Racing com discos de 295 mm e pinças de quatro pistões – o Chevette também recebeu um freio de mão hidráulico para facilitar o trabalho do piloto nas curvas mais fechadas.
O visual do carro é, com o perdão do clichê, um show à parte. O acabamento da carroceria é impecável, do tratamento dado aos alargadores dos para-lamas à pintura cinza “Touring Grey”, vinda diretamente do catálogo da Alfa Romeo, e uma réplica extremamente fiel do body kit do Chevette HSR. Já o interior ganhou uma gaiola de proteção 100% funcional, pintada a mesma cor da carroceria – que também serve de suporte para o painel de instrumentos feito sob medida. Os bancos são do tipo concha da Motordrive, e os painéis de porta foram feitos de fibra de carbono. No console central encontra-se o painel de controle da ECU Life Racing, integrada ao cluster de instrumentos digital.
Considerando que tanto o Chevette hatch quanto o motor C20XE não são exatamente difíceis de encontrar no Brasil, não seria impossível criar algo parecido em solo nacional. Na verdade, certamente existem diversos projetos utilizando os mesmos ingredientes principais – o Chevette e o motor C20XE – sendo executados por entusiastas brasileiros. Mas uma dose extra de inspiração nunca é demais, é?