Neste último domingo, 26 de janeiro, a primeira dobradinha brasileira da história da Fórmula 1 completou 50 anos. Não foi apenas o prenúncio de uma era de ouro que poucos países tiveram o privilégio de vivenciar, mas também foi uma corrida com um simbolismo muito forte, porque além de ser a primeira dobradinha brasileira, de ter sido no Brasil, foi também a primeira e única vitória de José Carlos Pace, o piloto que batiza o circuito — e também onde ele está sepultado atualmente.
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Além disso, a prova válida para o campeonato mundial daquele ano, ainda tinha a estreia nacional do Fittipaldi FD-01, e consagrou dois pilotos nascidos e criados sobre seu asfalto. De Interlagos para o mundo, Pace e Emerson voltaram para casa e superaram todos os outros em um tórrido domingo do verão de 1975, há exatamente 50 anos.
O ano ainda estava em sua terceira semana, mas a Fórmula 1 já estava em sua segunda etapa, com os 23 carros classificados alinhados no grid do autódromo de Interlagos.
Depois da abertura da temporada na Argentina, a Fórmula 1 chegou ao Brasil tendo Emerson Fittipaldi como favorito à vitória. Afinal, ele havia acabado de se tornar bicampeão, já havia vencido a prova de estreia da temporada, tinha um carro de ponta e, afinal estava em casa.
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Nos treinos de classificação o único carro que não mostrou nenhuma instabilidade sobre o ondulado asfalto brasileiro foi o Shadow de Jean-Pierre Jarier, que conquistou a pole position. Nos treinos extra-oficiais no domingo de manhã, Emerson Fittipaldi testou o McLaren M23 com os tanques cheios e viu um carro perfeito para a corrida.
Em seguida ele testou um jogo de pneus mais duros, mas não gostou do comportamento do carro e voltou aos boxes para trocá-los. Foi quando ele descobriu que um dos pneus traseiros estava furado e precisaria encontrar um par nas poucas horas que separavam o treino da largada. Por sorte, Mark Donohue da Penske decidiu correr com pneus mais duros e cedeu seu par a Emerson.
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Na largada, Jarier alinhou no primeiro colchete, ao lado de Emerson. Na segunda fila estavam Carlos Reutemann e Niki Lauda, seguidos por Clay Regazzoni e José Carlos Pace. Na largada, Reutemann saltou à frente de Jarier, Emerson se distraiu e foi pego pela bandeirada sem giro suficiente para arrancar forte. Largou mal e caiu para sétimo, enquanto Pace ganhou três posições e foi para terceiro, atrás de Jarier.
Na quinta volta Jarier passou Reutemann para assumir a ponta e passou a imprimir um ritmo muito rápido. Na volta seguinte ele já abria dois segundos de vantagem em relação ao argentino — em parte por que Reutemann havia diminuído seu ritmo de corrida, aparentemente por conta dos pneus dianteiros escolhidos.
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Só que apesar da velocidade baixa entre a Ferradura e a Junção, Reutemann não deu chances de ultrapassagem, o que acabou segurando o pelotão atrás dele. Foi somente na 13ª volta que Pace conseguiu passar o argentino, após ganhar uma freada na Curva 3. Sem ninguém para amarrá-lo, ele começou a abrir distância de seu companheiro da Brabham, mas sem muitas chances de alcançar Jarier, que abrira mais de 30 segundos de vantagem.
Enquanto isso, Emerson ganhou a posição de Jody Scheckter, que abandonou a prova com problemas mecânicos e chegou em Lauda. À sua frente Clay Regazzoni passou Carlos Reuteman, cada vez mais lento, assumindo a terceira posição. Na 19ª volta, Emerson venceu a freada com Lauda na entrada da curva do Sargento e assumiu a quinta posição, atrás de Reutemann. Em duas voltas Emerson entrou no vácuo do Argentino, que percebeu que seria ultrapassado na Curva 3 e não defendeu a posição.
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Àquela altura Jarier e seu Shadow mantinham a vantagem arrasadora para os demais carros. Pace também estava bem à frente de Regazzoni que, por sua vez era mais rápido que Fittipaldi nas retas — diferentemente de Lauda.
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Por isso, Emerson decidiu poupar o carro e tentar uma ultrapassagem surpresa na curva do Laranja. Na 28ª volta ele saiu do vácuo do suíço da Ferrari, entrou na curva pelo lado de dentro e o passou para assumir a terceira posição, mais de dez segundos atrás de Pace. Emerson sabia que seria difícil, mas tentou diminuir a diferença para seu amigo e rival.
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Jarier estava 24 segundos à frente de Pace, que imprimia um ritmo constante e cauteloso, quando o motor de seu Shadow começou a apresentar problemas. Em menos de duas voltas, no giro 33, o francês abandonou a prova deixando a dianteira livre para Pace, que só precisaria continuar ali por oito voltas para levantar o caneco.
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Emerson ainda tentou alcançar Pace, mas seu McLaren começou a escapar de traseira de forma anormal (lembram dos pneus doados por Donohue?) e o bicampeão achou mais prudente se manter em segundo e garantir mais seis pontos para a contagem do campeonato.
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Pace contou à revista Quatro Rodas de fevereiro de 1975 que “nunca ficou tão emocionado” quando viu a Shadow preta encostada na Curva do Sol. Não poderia ser diferente: mais de 100.000 pessoas lotavam o circuito de Interlagos e vibravam com a passagem dos brasileiros pela reta principal. Com cuidado e concentração Pace cruzou a linha de chegada em primeiro, seguido por Emerson. Finalmente ele chegava ao topo. Finalmente o Brasil tinha dois de seus pilotos no pódio da Fórmula 1.
Pace foi carregado pela multidão que invadiu a pista, subiu ao pódio com a esposa grávida, ganhou a coroa de louros — e deu um banho sem querer em Jochen Mass. Foi a primeira dobradinha brasileira na Fórmula 1, algo que se repetiria em julho daquele ano, desta vez com posições invertidas — Emerson no topo e Pace em segundo.
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Depois disso, vimos uma passagem de bastão com dois brasileiros no pódio no GP de Long Beach de 1980, quando Piquet conquistou sua primeira vitória, e Emerson Fittipaldi seu último pódio, porém em terceiro lugar.
Os brasileiros só voltaram a comemorar uma dobradinha em 1986, no mesmo GP do Brasil, porém disputado em Jacarepaguá. Nelson Piquet chegou em primeiro e Ayrton Senna em segundo e ambos dividiram a bandeira brasileira.
Os dois repetiriam a cena outras sete vezes — nos GPs da Alemanha e da Hungria de 1986 (Piquet em primeiro, Senna em segundo), nos GPs de Mônaco e dos EUA de 1987 (Senna em primeiro e Piquet em segundo), no GPs da Hungria e da Itália de 1987 (Piquet em primeiro, Senna em segundo) e no GP do Canadá de 1990 (com Senna em primeiro, Piquet em segundo).
Agora, quase tão distante quanto a primeira dobradinha brasileira na F1 está a última. Ela aconteceu no GP do Japão de 1990, há distantes 35 anos, quando Nelson Piquet e seu companheiro de equipe e amigo de adolescência de Brasília, Roberto Moreno, chegaram nas duas primeiras posições em Suzuka — sim, naquela corrida em que Senna devolveu a batida a Alain Prost.
Desde então, vimos Rubens Barrichello, Nelsinho Piquet e Felipe Massa no pódio, mas nunca acompanhados de outro compatriota. Considerando a situação atual da Fórmula 1 e do automobilismo brasileiro, essa será uma cena que, infelizmente, não se repetirá tão cedo.
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