Já faz mais de dois anos que a Mitsubishi deixou de fabricar aquela que foi a última geração do Lancer Evolution. Ainda não superamos totalmente, na verdade, mas tudo tem um lado bom: o Evo X foi fabricado por dez anos, entre 2007 e 2016 e existem alguns milhares deles espalhados pelo mundo – incluindo no Brasil, que ganhou até uma série especial e exclusiva de despedida, o Evo X John Easton, com o motor 4B11T reprogramado para entregar 340 cv a 6.500 rpm e 48 mkgf a 3.500 rpm – um salto de 50 cv e 10,7 mkgf de torque em relação ao Evo X comum.
É um carro bem especial, do qual existem apenas 90 unidades – pode-se dizer que é uma das versões do Evo mais raras em todos os seus 23 anos de história. No entanto, o Evo X John Easton é um carro moderno, com uma história bem documentada, e nós mesmos tivemos a chance de andar em um deles. O mesmo não pode ser dito do primeiro de todos os Lancer Evolution, lançado em 1992. Foram feitas apenas 2.500 unidades para homologação do carro de rali, e nenhuma delas foi levada para fora do Japão. Ao menos não oficialmente.
Estamos falando de um carro lançado duas décadas atrás, quando a internet ainda não era onipresente e o conceito de rede social ainda nem existia. O que quer dizer que não se acha muita informação a seu respeito – o Evo I é tão raro hoje em dia que sequer encontramos fotos para ilustrar o post com sua história que fizemos há alguns anos. Podemos considerar, então, um evento a aparição deste exemplar à venda. Mesmo que seja nos Estados Unidos – pensando bem, talvez até mais ainda por conta disto, porque tecnicamente ele só deveria ser encontrado no Japão.
Colocando de outra forma: o Evo I é um carro tão raro que, mesmo com 144.540 km marcados no hodômetro (no Brasil ele seria considerado um carro bem rodado) e apresente algumas marcas do tempo, este exemplar já pode ser considerado uma mosca-branca, um unicórnio. É bem provável que não vejamos um exemplar tão original e bem conservado como este à venda por um bom tempo. Talvez anos.
O carro que está à venda em uma loja chamada Japanese Classics (apropriado, não?), em Richmond, no estado da Virginia, é um Lancer Evolution GSR prata que, diferentemente de boa parte dos carros, não foi depenado e transformado em carro de rali – ele foi um carro de rua, usado com parcimônia e deixado completamente original, sem qualquer modificação estética ou mecânica.
A versão GSR era a mais equipada, com bancos Recaro, volante Momo de três raios com revestimento de couro, instrumentação completa com manômetro do óleo e do turbo, termômetro do fluido de arrefecimento, conta-giros com escala até 9.000 rpm, vidros elétricos, toca-fitas com seis alto-falantes e ar-condicionado digital. Havia ainda o Evolution RS, que abria mão dos vidros elétricos, dos freios ABS, das rodas de liga leve e dos bancos Recaro para ficar 70 kg mais leve – 1.170 kg contra 1.240 kg do GSR.
Em ambas as versões a suspensão tinha componentes e acerto exclusivos: McPherson na dianteira e eixo multilink na traseira, com barras estabilizadoras nos dois eixos e buchas de esferas lineares em vez de buchas de borracha. As rodas eram de 15 polegadas com pneus 195/55, e usavam discos ventilados com pinças de dois pistões na frente e discos sólidos atrás — todos eles com ABS.
O Lancer Evolution I foi o primeiro a usar o motor 2.0 turbo 4G63, que era semelhante ao do Mitsubishi Galant VR-4 que, anos antes, havia disputado o WRC pelo Grupo A. Na versão de competição a potência chegava perto dos 300 cv, mas no modelo de rua eram 250 cv a 6.000 rpm e o torque chegava aos 31,4 mkgf a 3.000 rpm. O câmbio era manual de cinco marchas, levando a força para as quatro rodas através de um diferencial central de acoplamento viscoso com distribuição 30:70 (dianteira/traseira), e um diferencial traseiro de deslizamento limitado. Era possível ter, como opcional, um diferencial de deslizamento limitado também na dianteira, além de faróis auxiliares Cibié, uma barra de amarração na dianteira e instrumentos auxiliares para o interior. Só itens funcionais, nada de perfumaria.
O conjunto era suficiente para levar o Evo I de zero a 100 km/h em pouco mais de cinco segundos — um número comparável ao dos supercarros da época. Para se ter ideia, a Ferrari 348 TB/GTB levava 5,5 segundos para fazer o mesmo.
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Por mais que a gente não possa comprar este carro no Brasil ainda, é impossível não comentar o excelente estado de conservação do exemplar que está à venda. O carro está com boa parte da pintura original preservada e em muito boas condições, com alguns pontos de desgaste no capô e perto das maçanetas externas. A carroceria está muito bem alinhada e sem grandes imperfeições, assim como rodas, faróis, lanternas, para-choques e grade.
Já o lado de dentro é o que realmente impressiona: os bancos Recaro e o volante Momo originais estão presentes e sem imperfeições. Os revestimentos das portas dianteiras apresentam umas poucas marcas na parte inferior, mas os detalhes em tecido estão em excelentes condições, sem partes soltas ou rasgos. É difícil fugir do clichê: olhar para ele é como entrar em uma máquina do tempo.
O preço pedido pela Japanese Classics é de US$ 16.995, o que dá cerca de R$ 66.000 em conversão direta. Como o carro ainda tem 25 anos de idade, e não 30, é impossível importá-lo para o Brasil por meios legais a não ser que se espere cinco anos. É claro que ninguém aqui é louco o bastante para fazê-lo (ou é?) mas, caso você tenha ficado interessado, saiba que o valor convertido costuma se multiplicar com todas as taxas de importação. Ou seja: hipoteticamente, este Evo I custaria pouco mais de R$ 170.000 para um entusiasta brasileiro. Ainda assim é um preço muito atraente para um exemplar praticamente impossível de se encontrar fora do Japão, e ainda mais neste estado de conservação.