Em 1950 a Volkswagen aproveitou a versatilidade da plataforma do Fusca para transformá-lo em um veículo de carga: o VW Type 2, a nossa o Kombi — que, com formato de pão de forma, o motorista sentado sobre o eixo dianteiro e um boxer de quatro cilindros refrigerado a ar na traseira, definitivamente não foi feita para andar rápido na pista.
Obviamente, isto não impede que os aficionados a modifiquem para fazer exatamente isto. Na verdade, o parentesco com o Fusca, e consequentemente com os Porsche, até inspira os fãs na hora de fazer um projeto bacana com a velha senhora. É o caso desta Kombi com o flat-6 de um Porsche 911 993, última geração refrigerada a ar, fiel às raízes. E ela virou um monstro com seus 500 cv.
Trata-se de um projeto encabeçado pelo suíço Fred Bernhard, que batizou sua Kombi anabolizada de “Race Taxi FB1”. O nome não poderia ser mais apropriado: ela é equipada com quatro bancos de competição (incluindo o piloto) para levar mais pessoas para um passeio em alta velocidade pelos circuitos da Europa — incluindo exibições em Spa-Francorchamps, Hockenheimring e Nürburgring Nordschleife.
Agora, sejamos honestos: o projeto, que levou quatro anos para ficar pronto — de 2002 a 2006 — é muito mais do que uma Kombi de primeira geração (a famosa “corujinha” aqui no Brasil) com um flat-6 biturbo na traseira. Na verdade, Fred pegou toda a estrutura inferior de uma Transporter T3, geração mais recente (foi lançada em 1979), e o último Volkswagen equipado com motor traseiro, sendo produzida até 2002.
Com suspensão mais sofisticada — em vez das barras de torção, usava amortecedores com molas helicoidais e braços arrastados — e posição de dirigir mais recuada, a T3 se mostrou uma base melhor para uma van de alto desempenho. Assim, Fred encontrou a carroceria de uma Kombi de primeira geração e realizou diversas modificações, a tornando 21 cm mais larga para acomodá-la sobre a plataforma da T3.
Além disso, a carroceria recebeu teto de fibra de carbono, janelas laterais de policarbonato (para reduzir peso) e os arcos dos para-lamas foram redesenhados, com painéis removíveis nos traseiros para facilitar as trocas de pneus.
O motor e boa parte da mecânica vieram de um Porsche 911 993 Turbo batido. O 993 foi lançado em 1993 e a versão turbinada veio dois anos depois — seu flat-6 de três litros era sobrealimentado por dois turbocompressores e entregava 408 cv, suficientes para levar o esportivo de Stuttgart aos 100 km/h em 4,5 segundos, com máxima de 290 km/h. Imagine o estrago disso em uma Kombi!
O motor foi transplantado para o cofre da T3 acompanhado dos dois intercoolers que, no Porsche, ficavam sob a asa traseira. Aqui, eles resfriam o motor recebendo por dois dutos o ar que entra por aberturas nas janelas traseiras, além de ser preparado para render cerca de 540 cv e 77,2 mkgf de torque.
A transmissão foi uma das peças do 993 que não puderam ser aproveitadas, e assim o responsável por levar a potência para as rodas traseiras é o câmbio manual de seis marchas do 911 996, a geração seguinte. A embreagem é da Sachs, em especificação de competição, enquanto o diferencial com bloqueio de 60% veio de um Porsche 911 Cup, assim como o trambulador. As rodas usadas na maioria do tempo são BBS de 18×8,5 polegadas na dianteira e 18×10 polegadas na traseira, calçadas com pneus slick Pirelli P Zero de medidas 235/35 e 285/30, respectivamente. Os freios com discos perfurados também vieram do 993.
A suspensão usa o projeto original da Transporter T3, porém recebeu uma seleção de componentes para melhorar seu comportamento dinâmico: amortecedores ajustáveis do tipo coilover da Bilstein feitos sob medida, molas Eibach, barra estabilizadora do Porsche 993 na traseira e buchas de PU.
A Race Taxi FB1 em ação, em 2008, quando ainda tinha pintura preta
Por dentro a Kombi ganhou uma gaiola de proteção completa e um painel feito sob medida com o formato e os instrumentos do painel do 911 GT3, além de bancos de competição da Recaro com cintos Schroth. O mais bacana é que há algumas homenagens à Porsche incorporadas ao projeto: todos os tubos da gaiola possuem um pequeno furo para receber tratamento anti-ferrugem por dentro, como a Porsche fazia. A ignição, claro, fica do lado esquerdo e a chave é perfurada, como no Porsche 917 — redução de peso nos detalhes. A manopla da alavanca de câmbio, feita de madeira, também é uma homenagem ao 917.
Fred participa de eventos em pista com a Race Taxi FB1 desde que ela ficou pronta, sua última aparição pública aconteceu em fevereiro último, no Lydden Hill Race Circuit, em Canterbury, no Reino Unido. É possível acompanhar suas aventuras através da fanpage no Facebook, mas o que a gente queria era mesmo dar uma volta. Podia até ser nos bancos de trás…
[ Fotos: FB1 Race-Taxi ]