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Car Culture

Jagston Martin: o primeiro F-Type da história virou um Aston que virou um Jaguar

Quando a Jaguar lançou o F-Type em 2013, ela finalmente conseguiu dar fim a uma novela de quase 30 anos de tentativas de fazer o sucessor espiritual do E-Type. Uma história que começou em 1986, teve três protótipos e resultou até  mesmo em um Aston Martin.

Quando os diretores da Jaguar perceberam que o público não enxergou o XJS como um legítimo sucessor para o E-Type logo nos primeiros anos do modelo, eles começaram a pressionar as equipes de engenharia e design para desenvolver um modelo com visual mais tradicional e que fosse percebido mais facilmente como um “F-Type”. Na época a Jaguar estava desenvolvendo a segunda geração do XJ (XJ40), prevista para ser lançada em 1984. Então seria conveniente se os engenheiros adotassem o mesmo motor seis-em-linha planejado para o sedã e terminassem os protótipos na mesma época do lançamento do XJ. A ideia era posicionar o XJ como modelo de entrada, o F-Type como intermediário e o XJ-S como modelo de topo.

Os engenheiros e designers começaram os esboços iniciais e logo conseguiram a aprovação do conselho da British Leyland no início de 1982. Um ano depois eles apresentaram os primeiros modelos em argila para as clínicas com consumidores e a Jaguar estipulou o lançamento para março de 1986.

Os dois protótipos foram batizados internamente como XJ41 (cupê) e XJ42 (conversível) e beberam diretamente na fonte do E-Type em termos de estilo. A dianteira era baixa e o capô envolvente. Os faróis eram escamoteáveis como mandava o design dos esportivos da época, e a grade era oval como a do E-Type. Era impossível bater os olhos nos carros e não pensar no E-Type.

O problema é que a British Leyland já estava em plena decadência na época. À medida em que o projeto avançava, os problemas começaram a surgir. O XJ40 acabou atrasado e só foi lançado em 1986, dois anos anos depois do previsto. Como resultado, o F-Type ficou para 1988.

O atraso resultou na necessidade de revisar o projeto, pois os rivais ganhando cada vez mais potência o F-Type precisaria de um motor mais potente. O XJ estava prestes a ganhar uma versão biturbo de seu motor AJ6 de quatro litros, com 330 cv, e o motor estava destinado ao F-Type, bem como o sistema de tração integral e a suspensão do sedã. Isso resultou no aumento de peso do esportivo — originalmente previsto para pesar 1.400 kg, o protótipo teria quase 1.900 kg com o motor turbo e o sistema de tração integral.

Assim mesmo o projeto continuou e a Jaguar encomendou à Karmann a construção de três protótipos funcionais, que seriam usados para os testes finais antes da instalação do ferramental novo nas fábricas. Mas então Ford entrou em cena, arrematou a Jaguar e colocou o projeto na geladeira em 1989.

Mesmo saindo-se razoavelmente bem nos testes dinâmicos, o carro estava pesado demais, seu visual não tinha nada da Jaguar, e ele já havia estourado o orçamento. A prioridade da Ford era renovar as linhas de produção da Jag e lançar um sucessor para o XJS, que era cada vez mais rejeitado pelo público. Assim, o F-Type foi da geladeira para a gaveta, sendo cancelado em março de 1990 para dar espaço ao sucessor do XJS.

Mas esta história não acaba aqui.

Para o novo projeto a Ford contratou Tom Walkinshaw e sua TWR, que havia acabado de contratar um designer saído da Ford chamado Ian Callum. O designer passara os 11 anos anteriores projetando volantes e elementos menores de design e deixou a gigante americana para trabalhar com uma fabricante artesanal do Reino Unido para finalmente ter a chance de projetar um carro inteiro. Na TWR, Callum seria o chefe do projeto que resultaria no sucessor do XJS.

No processo de desenvolvimento do sucessor do XJS, Callum fez diversas visitas à Jaguar, onde teve contato com o projeto engavetado do F-Type pela primeira vez. Callum ficou impressionado com o projeto e conversou sobre o carro com o chefe.

O resultado da conversa foi a decisão de Walkinshaw em colocar o visual do F-Type sobre a plataforma do XJS, como forma de não deixar que aquele design tão bem resolvido fosse desperdiçado e, ao mesmo tempo, atender o pedido da Ford para substituir o cansado e rejeitado cupê da Jag. Callum atualizou o visual e o adaptou para que fosse adequado à plataforma do XJS. O resultado foi o projeto XX, que chegou a ganhar um mockup de argila com todos os elementos estéticos de um E-Type moderno.

O carro foi apresentado ao conselho da Jaguar, que adorou o carro, mas não gostou de saber que o orçamento novamente seria excedido, e que o carro não estava adequado à legislação dos EUA. Como o esportivo era fundamental para a estratégia de renovação da imagem da Jag nos EUA, o projeto foi cancelado. De novo.

Walkinshaw então pegou tudo o que tinha do projeto e foi negociar com outra marca pertencente à Ford que, por acaso, precisava de um novo modelo de entrada: a Aston Martin. Callum novamente foi encarregado de modificar o visual do carro, desta vez para transformá-lo em um verdadeiro Aston. “Quase que imediatamente o projeto ganhou mais liberdade. Todas as superfícies foram modificadas para acomodar a aura da Aston, ainda que subitamente”, relembrou Callum em entrevista ao Top Gear anos mais tarde.

A marca da Jaguar permaneceu sob o capô: o motor seis-em-linha AJ6, que seria usado no F-Type, foi modificado pela TWR com um novo cabeçote, um supercharger e rebatizado como Aston Martin para estrear no mais novo modelo da linhagem DB, o DB7.

O novo Aston foi bem sucedido, enquanto a Jag permaneceu com o anacrônico XJS até 1996 (!). Ironicamente , na hora de criar um sucessor mais moderno para o XJS, a Jaguar decidiu usar justamente o DB7 como base para seu “E-Type do ano 2000”. E foi assim que um Jaguar que virou um Aston finalmente foi lançado como um Jaguar.

Com o fim do XJS, a Jaguar usou a plataforma do DB7, que por sua vez era derivada do XJS, atualizou o estilo do carro originalmente pensado para ser o F-Type e finalmente o lançou em 1997, quase dez anos depois da primeira morte do modelo.

Nós o conhecemos como Jaguar XK, que foi produzido até 2005 e ganhou uma nova geração em 2006, que finalmente colocou nas ruas o desenho feito por Ian Callum no início dos anos 1990.


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