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Um Ford GT40 na chuva e um dos onboards mais insanos de todos os tempos

O ano era 2013. O palco, o circuito de Goodwood, onde ocorre todos os anos o Goodwood Revival. O carro, um Ford GT40 da década de 1960. O piloto, o sueco Kenny Bräck. Juntando tudo, o que temos é um dos vídeos onboard mais espetaculares de todos os tempos, sem exagero. Duvida? Então acompanhe com a gente.

Para quem não sabe, o Goodwood Revival é o evento que antecede, todos os anos, o famoso Festival of Speed realizado na propriedade britânica. E, para muita gente, o Revival é até mais empolgante que o Festival, pois em vez de subidas de montanha individuais, leilões e exposiões no gramado, o Goodwood Revival traz corridas de carros históricos, divididos em categorias, em um circuito de verdade. A emoção deve ser bem maior.

O que nos traz a uma das corridas realizadas na edição de 2013 do Goodwood Revival, em uma corrida para protótipos da década de 1960. E, se você nos acompanha, certamente sabe que o GT40 é um dos maiores de todos — ele venceu quatro edições seguidas das 24 Horas de Le Mans, entre 1966 e 1969 e acabou com a festa da Ferrari.

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O segredo? Carroceria aerodinâmica, baixo peso e um enorme V8 atrás dos bancos. A primeira versão, que competiu em 1964, usava um V8 small block de 289 pol³ (4,7 litros) e pouco mais de 400 cv. A partir de 1965, com Carroll Shelby na equipe, o motor passou a ser um big block de sete litros e quase 500 cv, finalmente dando ao GT40 a força necessária para vencer em Le Mans. Mas esta é uma história que já contamos detalhadamente em um post especial de duas partes (parte 1 e parte 2).

Agora, porque o GT40 é um carro de corrida vencedor, não quer dizer que ele seja fácil de guiar. Pelo contrário, estamos falando de um protótipo dos 1960, quando ninguém nem sonhava com as palavras “assistência eletrônica”, “direção assistida” ou “dupla embreagem”. O GT40 é bruto, violento e traiçoeiro. Era preciso lidar com a embreagem pesadíssima enquanto se lutava contra uma verdadeira besta mecânica. O resultado é um onboard memorável e hipnotizante. Kenny Bräck briga para manter o carro na trajetória o tempo todo, aplicando contra-esterços violentos sem reduzir o ritmo uma única vez. Vale a pena ver.

O carro conduzido por Bräck era o GT40 1965 de Adrian Newey — sim, o lendário designer da Fórmula 1, que acompanhava tudo da beira da pista. Como manda o regulamento do Goodwood Revival, o carro estava exatamente como era quando competia, e isto inclui o uso de pneus diagonais iguais ao da época. São pneus que não têm tanta aderência quanto os modernos e, para piorar, em caso de chuva — como foi o caso na corrida de Bräck —, têm pior escoamento. O lado bom é que eles dobram mais nas curvas e, por isso, são mais comunicativos quanto à situação do carro sobre o asfalto.

Isto é especialmente importante aqui. Além das condições precárias de aderência por causa da chuva, não podemos esquecer que o GT40 é um carro de entre-eixos curto (apenas 2,41 metros — 1 cm maior que o do Fusca), e motor central-traseiro. É uma combinação explosiva: nas entradas de curva, o peso do motor prejudica a aderência das rodas dianteiras, dificultando a vida do piloto nas entradas da curva — note como Bräck golpeia o volante para levar o carro para onde quer.

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E tem mais: normalmente, o entre-eixos curto traz a vantagem da menor inércia polar, permitindo que o carro mude de direção mais rápido. Acontece que, neste caso, há uma desvantagem: a transferência de peso longitudinal é muito maior (ainda mais com um grande e pesado V8), prejudicando a estabilidade nas frenagens e retomadas.

Somando tudo isto, o que se tem é um carro difícil de pilotar o tempo todo — além de sair de frente nas entradas de curva, o GT40 acaba perdendo a traseira com muita facilidade, especialmente nas frenagens em alta velocidade, por que todo o peso vai para a dianteira repentinamente. São ações sempre muito repentinas, o que impossibilita aquela pilotagem limpa e elegante, com powerslides à moda inglesa. O carro é muito intenso, e Bräck precisa responder à altura.

Aliás, ele próprio comentou estas dificuldades em uma entrevista concedida ao pessoal de Goodwood pouco depois da corrida — especialmente com relação à falta de aderência nos pneus dianteiros e à transferência de peso. E ele também compara o GT40 a uma besta. Uma besta que Brack conseguiu domar.