O Lamborghini Countach certamente está entre os primeiros no panteão dos supercarros mais fodásticos de todos os tempos, e não faltam razões para isto. Na verdade a gente gosta tanto dele que vamos te dar dez razões, FlatOut style, para homenagear os 40 anos do Lamborghini que definiu todos os outros!
O Countach foi concebido como sucessor do lendário Miura, lançado em 1966. Absolutamente estonteante e de desempenho incrível, o Miura era referência entre os esportivos mas, no início da década de 70, já corria o risco de ser passado para trás por concorrentes como Ferrari, Aston Martin, Jaguar e Porsche. Sendo assim, Ferruccio Lamborghini sabia que, para manter o alto nível da marca, precisava de algo ainda mais inovador, diferenciado e exclusivo.
O primeiro conceito, o LP5000
O ex-fabricante de tratores encarregou novamente a Marcello Gandini, do estúdio Bertone, de dar as formas a seu novo carro. Contudo, o projetista do Miura resolveu partir para uma mudança radical e, inspirado por alguns de seus conceitos anteriores, como o Alfa Romeo Carabo e o Bertone Zero, criou um carro baixo, em forma de cunha, com motor V12 montado em posição central-traseira e portas que se abriam para cima e para a frente.
Era o primeiro conceito do Countach, o LP5000, que foi apresentado no Salão de Genebra de 1971. A palavra countach vem da língua piemontesa, falada no noroeste da Itália, e significa esplêndido, magnífico. Também serve como uma expressão verbal de encantamento, geralmente usada por homens quando vêem uma mulher bonita. Faz sentido Ferruccio ter aprovado o nome, mesmo que rompesse com a tradição de usar raças e nomes de touros famosos para batizar seus carros.
O primeiro protótipo de pré-produção, já com as linhas definitivas
Três anos depois, em 1974, o primeiro exemplar de produção foi entregue a um australiano. A partir dali, outros 2.041 carros foram fabricados até 1990. O Countach evoluiu e passou de uma materialização do futuro nos anos 70 a um ícone do design na década seguinte, indo parar em pôsteres na parede de nove entre dez garotos no mundo todo. Quatro décadas depois, ele ainda nos encanta. Quer saber por que? Nos acompanhe!
Motor V12: because Italian supercar
Nós adoramos as Ferrari com motor V8, como a F40, e um de nossos supercarros modernos favoritos é o Gallardo, com seu V10 alemão — e seu sucessor, o Huracán, tem tudo para seguir seus passos. Também não temos muitos argumentos contra o downsizing. Mas sejamos sinceros: supercarro italiano de verdade tem que ter motor V12 — e, obviamente, o Countach é um legítimo supercarro italiano.
O conceito tinha um V12 de cinco litros e 440 cv a 7.500 rpm e 49,8 mkgf de torque a 5.000 rpm que, diferentemente do que se via no Miura, era montado em posição longitudinal atrás dos bancos. Contudo, depois de alguns problemas de confiabilidade e superaquecimento, a Lamborghini decidiu usar o propulsor do Miura devidamente adaptado para a nova posição. Com 375 cv a 8.000 rpm e 36,8 mkgf de torque a 5.000 rpm, o carro de produção até podia ter menos potência, mas ainda assim era bastante veloz. Mas quanto?
Ele chegava a mais de 300 km/h… em 1974
O primeiro Countach ia de 0 a 100 km/h em 5,4 segundos e tinha velocidade máxima de 309 km/h. Era apenas 0,4 s mais lento na aceleração que o protótipo que, por sua vez, chegava aos 300 km/h. Isto aconteceu porque, embora fosse menos potente, ele era mais leve — pesava 1.065 kg, contra 1.130 kg do protótipo.
Os anos seguintes trouxeram motores maiores e mais potentes, culminando com o V12 de 5,2 litros, 455 cv e 51 mkgf do 25th Anniversary Edition de 1988 (comemorando os 25 anos da Lamborghini), mas também trouxeram alguns quilos a mais. Sendo assim, o último Countach podia até ser mais rápido no 0-100 (4,9 s) mas sua velocidade máxima era de “apenas” 295 km/h.
Ele foi um ícone de design nos anos 80
O Countach foi concebido em 1971 e lançado em 1974, mas seu status de ícone foi atingido em sua plenitude na década seguinte. Nos anos 70 ele era praticamente um carro do futuro — Gandini abusou das linhas retas e da inspiração em carros que jamais passaram de conceitos na hora de desenhar o Countach, e o resultado era algo diferente de tudo, absolutamente tudo o que havia nas ruas até então — com arcos de roda assimétricos, entradas de ar nas laterais e ao lado do vidro traseiro, faróis escamoteáveis, dianteira baixa e para-brisa quase horizontal, ele ficava deslocado no meio dos outros carros.
Nos anos 80, porém, tudo mudou — a década do exagero, das jaquetas com ombreiras e dos raios laser pedia exatamente por um carro como o Countach — que ganhou aerofólio, para-lamas alargados e apêndices aerodinâmicos e destaque em uma das séries de maior sucesso da época, Miami Vice.
Ele tem um ancestral em comum com o Lancia Stratos
Se você sempre achou que o Lamborghini Countach e outro ícone, o Lancia Stratos, eram parecidos, saiba que você não está louco. Em 1970, Gandini projetou o Lancia Stratos Zero, ou simplesmente Bertone Zero, que foi a primeira inspiração para a lenda do rali. Na hora de projetar o Countach, um dos conceitos que inspiraram Gandini foi justamente o Bertone Zero.
Se você imaginou um Countach de rali, fique tranquilo: nós também.
Você precisa ficar quase no lado de fora para manobrá-lo
O design marcante tinha seus poréns, e um deles ficou famoso quando foi demonstrado por Jeremy Clarkson em seu especial Clarkson’s Car Years: o vidro traseiro meramente decorativo e o motor atrás dos bancos tornam impossível enxergar o que está atrás dele — mesmo na primeira leva, que trazia um retrovisor periscópico e por isso ficou conhecida como Countach LP400 Periscopica. Sendo assim, era necessário abrir a porta e colocar a cabeça para fora só para fazer uma simples baliza.
O que nos leva a nosso próximo item…
O Countach não tem defeitos, tem características
Você recusaria um Countach por este pequeno contratempo na hora de estacionar? Ou por ter que fazer contorcionismo para entrar e sair dele? É claro que não! Nem nós. Também não nos importamos com o interior desenhado com uma régua, com a direção pesada (não havia nenhum tipo de assistência) e nem com o fato de ele ser tão largo e tão baixo que é preciso escolher com cuidado as ruas por onde você vai passar com ele. E não podemos nos esquecer do fato de que ele é um carro com pelo menos 24 anos de idade, e por isso está sujeito a todos os contratempos que um carro mais antigo pode trazer — além de sua origem italiana servir como agravante.
Calma, tem mais: a cabine é uma fornalha: ar-condicionado, só a partir de 1985 (como opcional) e as janelas mal abrem por causa do formato das portas. O acabamento também não era dos melhores em termos de montagem e durabilidade e, claro, o sistema elétrico era, digamos, “delicado”.
Contudo, pergunte a qualquer dono (ou pesquise em um fórum de proprietários) e você descobrirá que os prós superam (e muito) os contras — e que, na verdade, os defeitos não são defeitos, são características. Todo mundo sabe que o Countach é o que é e, se você um dia comprar um, vai aprender a conviver com ele com um enorme sorriso no rosto.
Ele foi o primeiro carro com portas tesoura
Elas não são conhecidas como “Lambo doors” à toa, não é? Marcello Gandini projetou o Alfa Romeo Carabo em 1968. O conceito foi outra influência no design do Countach — especialmente no modo como as portas abriam, para cima e para a frente.
Seis anos depois, o Countach foi o primeiro carro de rua a usar as chamadas “portas tesoura”, influenciando dezenas de outros designers e centenas de outros carros nos 40 anos que se seguiram — e certamente continuará influenciando durante muito tempo.
Ele tem um mangá!
Somos fãs de Inital D desde sempre, mas o Toyota AE86 não é o único carro que tem o privilégio de protagonizar histórias em quadrinhos japonesas. Não, senhor! O Countach ganhou um mangá, Countach, escrito e desenhado por Haruto Umezawa.
Com 28 volumes (o último foi lançado em 2012), ele conta a história de Sorayama Shun, um rapaz que, depois de ser abandonado pela namorada (que o troca por um cara que tem uma Ferrari!), encontra uma carta que havia escrito para si mesmo 25 anos antes. Na carta, ele falava sobre o sonho de ser um piloto de corrida e ter um Lamborghini Countach. Ele acaba ganhando um Countach LP400 de um milionário misterioso e disputando corridas de rua com ele.
O mangá tem traços incríveis e todos os carros que aparecem são muito detalhados — não apenas no desenho, mas nas fichas técnicas, que também fazem parte da história. É realmente um belo tributo ao Countach, e você pode lê-lo na íntegra aqui. (Valeu pela dica, Deph!)
Ele entrou para o clube dos milionários — e pode ser o próximo colecionável da década
No início de julho, pela primeira vez na história um Countach foi vendido por mais de US$ 1 milhão. O carro azul, com pouco mais de 16 mil km, é um dos 150 exemplares da primeira leva — a que recebeu o sobrenome Periscopica por causa do retrovisor — e foi arrematado por US$ 1,2 milhões (R$ 2,64 milhões). O valor elevado foi considerado pela revista Classic Driver, especializada no mercado de clássicos, como o primeiro sinal de que o Countach pode ser o supercarro colecionável da década. Sendo assim, é questão de tempo até que a demanda pelo Countach aumente — e puxe os preços para cima.
O Countach é tão fodástico que todos os Lamborghini ainda querem ser como ele
O Countach era um carro bem diferente de seu antecessor, o Miura. Contudo, todos os carros que vieram depois dele mostram que a evolução dos Lamborghini foi bastante linear. Ainda que os touros mais jovens tenham motores mais potentes, abundância de controles eletrônicos, tração integral e câmbio com dupla embreagem, a fórmula ainda é a mesma: motor V12, carroceria em formato de cunha, desempenho matador e visual que não pede desculpas por chamar a atenção.
Ter uma fórmula que dura décadas, conquistar admiradores depois de 40 anos e ter o poder de evocar nostalgia até em quem jamais viu um exemplar de perto não são conquistas para qualquer carro. O Countach merece cada gota de nossa admiração.