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Lamborghini Marzal: o conceito com motor seis-em-linha central-traseiro volta a acelerar em Monaco

No fim dos anos 60, Ferruccio Lamborghini decidiu que a linha da marca precisava de mais um modelo além do Miura e do 400 GT. O primeiro foi o clássico supercarro com motor V12 transversal, perfil em forma de cunha e linhas inacreditavelmente belas assinadas por Marcello Gandini. O segundo era um cupê de motor dianteiro e dois lugares que era uma evolução direta do grand tourer 350 GT, que também usava um motor V12 e foi o primeiro carro a usar a marca Lamborghini na história.

Ferruccio acreditava que a Lamborghini deveria oferecer um carro mais civilizado, com quatro lugares de fato– o 400 GT até podia acomodar duas crianças (ou dois adultos desapegados de sua dignidade), mas não havia sido feito para isto. Então, ele chamou Marcello Gandini da Bertone para desenhar este carro. O resultado foi o Lamborghini Marzal.

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Com o nome de uma raça de toros de lidia (que significa “touros de luta” em espanhol) bastante agressiva – sendo, de fato, o segundo carro da Lamborghini a ser batizado com inspiração nas toradas – o Marzal era um conceito bastante ousado para os padrões da época. Marcello Gandini decidiu que usaria uma abordagem diferente: ainda que fosse feito sobre a plataforma do Miura alargada, o Marzal tinha linhas retas, um capô bem destacado do resto da carroceria e portas “asa de gaivota” que, além de ter enormes janelas, eram feitas de vidro até a soleira. Como o teto também era de vidro, o habitáculo era bastante arejado e iluminado.

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Apesar de ter proporções e formas já bastante próximas de um carro produzido em série, o Lamborghini Marzal deixava clara nos detalhes sua condição de conceito. Além das portas de vidro, que certamente seriam limadas na versão de rua, ele tinha um padrão hexagonal futurista no painel de instrumentos, bancos com revestimento na cor prata – algo futurista demais para um gran turismo italiano dos anos 70, mas perfeitamente cabível na estreia do conceito.

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Os entusiastas já olham direto para a grelha na alavanca de câmbio – marca dos superesportivos e GTs italianos, e não poderia ser exceção aqui. A transmissão manual de cinco marchas é encarregada de levar para as rodas traseiras a força de um seis-em-linha de dois litros com comando duplo no cabeçote, três carburadores e 177 cv. O motor era, em essência, metade do V12 de quatro litros do Miura. O conjunto era capaz de levá-lo a cerca de 190 km/h.

Este, como no Miura, ficava em posição central-traseira e montado na transversal – apesar de a silhueta do carro sugerir o oposto, o Marzal tinha o porta-malas na frente. As dimensões avantajadas permitiam que ele tivesse um interior espaçoso mesmo com a inusitada configuração mecânica, e os painéis de vidro da carroceria reforçavam esta impressão.

Considerando que talvez Ferruccio Lamborghini quisesse um grand tourer mais confortável e civilizado para longas viagens, é compreensível a opção por metade de um V12.

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Dito isto, como a Lamborghini Automobili SpA ainda era uma companhia jovem e não totalmente estável financeiramente, o carro que foi inspirado pelo Marzal era bem mais convencional. Sua silhueta lembrava bastante o conceito, mas o Lamborghini Espada, lançado em 1968, tinha motor V12 na dianteira, em posição longitudinal, e um porta-malas atrás – arranjo mais comum, claro, porém mais barato e rápido na produção em série e muito mais prático para o motorista e demais ocupantes.

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O Lamborghini Marzal só havia sido dirigido publicamente uma vez. Foi em 1971, quando atuou como pace car do Grande Prêmio de Mônaco naquele ano. O carro foi condizido pela Princesa Grace Kelly e seu marido, o Príncipe Rainier III, antes da corrida.

foto storiche bn Lamborghini Marzal scelta dal Principe Ranieri, per aprire con la Principessa Grace al fianco, il Gran Premio di Montecarlo del 1967

Depois disto, aparentemente o carro ficou com a Bertone por décadas, aparecendo em público apenas mais uma vez: em 1996, durante um evento dedicado aos clássicos italianos em Monterey, na Califórnia, que naquele ano homenageava o estúdio Bertone, onde Marcello Gandini trabalhava nos anos 60 e 70.

Desta vez nas mãos do Príncipe Albert, o carro reprisou no último fim de semana seu papel de pace car de uma corrida entre carros de Fórmula: o Grand Prix de Monaco Historique, corrida de clássicos da Fórmula 1 que acontece no circuito de rua do principado, contando com a participação de pilotos do passado e do presente em monopostos icônicos da maior categoria do automobilismo. Não é sempre que se vê um conceito deste calibre em ação.

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Como dá para ver nas fotos, o Lamborghini Marzal passou por algumas reformas e repinturas ao longo dos anos, variando entre carroceria branca e prata, enquanto o lado de dentro já teve o revestimento refeito para ficar menos prateado e mais próximo do madrepérola.

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A Bertone só se separou do Marzal em 2011, quando o carro foi vendido em um leilão durante o Concorso d’Eleganza Villa d’Este, na Itália. É bom ver que ele ainda está na ativa.