Eles cresceram juntos nas pistas, dividiram quartos de hotéis, pizzas e games durante a adolescência. Embora não sejam os melhores amigos, eles passaram boa parte de suas vidas duelando nas categorias de base e sonhando em vencer Fórmula 1.
Eles chegaram à categoria máxima — primeiro Rosberg, depois Hamilton —, comemoraram juntos o primeiro pódio dividido e, por ironia do destino, se reencontraram em uma equipe que deu a ambos a chance de ser campeão. Então o clima de bons companheiros se transformou em algo tenso — ao menos até a decisão.
Lewis e Nico se conheceram no início da adolescência, quando corriam de kart. Como todo moleque com espírito competitivo, eles disputavam entre si praticamente tudo o que fosse possível: partidas de video-game, lutas no quarto do hotel, jogos de futebol e até quem comia mais fatias de pizza. A rivalidade, segundo Lewis, começou quando eles tinham 12 anos. Nico andava pelos circuitos de kart com um monociclo e Hamilton ao ver a habilidade equilibrista do alemão decidiu que precisava ser melhor que ele. Ele descolou um monociclo e aprendeu a andar com o negócio em pouco mais de duas horas.
Em 2000, quando Lewis tinha 16 anos e Nico 15, ambos foram parar na mesma equipe de kart, a Team MBM, chefiada pelo italiano Dino Chiesa. Durante as viagens, Rosberg e Hamilton dividiam o quarto e transformavam tudo em uma grande diversão. O chefe da equipe contou à BBC Sports que era chamado com frequência à recepção dos hotéis sob protestos dos demais hóspedes incomodados com o barulho da dupla, que rachava potes de sorvete de baunilha e ficava até tarde fazendo o que adolescentes sozinhos fazem em hotéis longe da família.
Em 2005 Nico Rosberg chegou à Fórmula 1, contratado pela mesma equipe em que seu pai ganhou o título de 1982, a Williams. No primeiro ano Rosberg foi apenas piloto de testes, mas em 2006 já era titular ao lado de Mark Webber. Com a partida da BMW a Williams passou a usar os motores Cosworth, que não eram mais tão competitivos e o alemão não teve a chance de mostrar resultados. No ano seguinte, 2007, Hamilton chegou à categoria pela McLaren, que o contratara ainda na adolescência. Logo de cara Hamilton conquistou quatro vitórias e 12 pódios, terminando a temporada em segundo lugar, atrás de Kimi Raikkonen.
O sonho dos amigos de dividir o pódio na Fórmula 1 só chegou em 2008, no GP da Austrália. Hamilton venceu a prova e Rosberg foi ao seu primeiro pódio da carreira. Mas enquanto Hamilton foi campeão, Rosberg conseguiu apenas um nono lugar, com 20 pontos.
Hamilton continuou na McLaren, sem grandes chances de ser campeão depois que Sebastian Vettel conseguiu um carro excepcional e Fernando Alonso chegou à Ferrari. Em 2010 a Mercedes voltou à Fórmula 1 e contratou Nico Rosberg para correr ao lado de Michael Schumacher. Sem resultados expressivos, Hamilton surpreendeu a todos ao anunciar no fim de 2012 que deixaria a McLaren, com quem tinha contrato desde a adolescência, para correr pela Mercedes, uma equipe sem títulos e com apenas uma vitória até então. Na equipe alemã os amigos de adolescência realizaram outro sonho da época do kart: disputar o mundial de F1 na mesma equipe.
O que eles jamais poderiam sonhar é que eles teriam a chance de conquistar o título da forma que aconteceu nesta temporada, duelando sozinhos na ponta do grid, prova a prova, pole a pole. A temporada mais uma vez começou amistosa, mas o clima azedou quando o sonho do título falou mais alto. Depois de dominar o campeonato, os dois amigos chegaram à última corrida da temporada com chances de ser campeão
Os outros amigos na Fórmula 1
Além de Rosberg e Hamilton a Fórmula 1 logicamente teve outros amigos-rivais na categoria, nenhum deles tão próximos de um título, contudo. Ayrton Senna e Mauricio Gugelmin correram de kart nos anos 1970, na Fórmula Ford dos anos 1980 e se reencontraram em 80 Grandes Prêmios de F1 entre 1988 e 1992 — embora Gugelmin não tenha sido um rival direto de Ayrton.
Outra dupla brasileira foi Nelson Piquet e Roberto Moreno, que eram amigos desde os tempos em que eram ratos de oficina em Brasília e formaram até hoje a única dupla de pilotos brasileiros em uma equipe estrangeira — a Benetton de 1990/1991 — com direito até mesmo a dobradinha no GP do Japão de 1990.