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Pensatas

MAO Drives um ano: uma retrospectiva

Tecnicamente faz mais de um ano: o primeiro MAO Drives foi publicado em 10 de novembro de 2020. Mas o que é um mês e pouco entre amigos? Todos os MAO Drives publicados até agora foram realizados pelo Felipe Cluk; os próximos estarão à cargo do Spina, que já está trabalhando forte com o Juliano Barata há alguns meses. Acredito que é hora então de dar uma olhada para trás, ao mesmo tempo que uma nova fase começa. Ver onde acertamos e onde podemos melhorar, by all means, mas o mais importante aqui é pensar no que é mais importante nesta empreitada: os carros!

Temos alguns planos para ano que vem. Começaremos de onde paramos: com alguns carros de assinantes, algo que começamos no final do ano passado e tem sido uma experiência sinceramente sensacional. Esta interação nossa com o objetivo final do FlatOut (vocês mesmo, leitores e assinantes) se mostrou algo muito legal mesmo, algo que não vamos parar de fazer. Novidades virão também: dois carros em um vídeo, um “comparativo” de carros clássicos e/ou entusiastas, realizado de forma leve e divertida. MAO Drives na terra? Temos planos muito interessantes, vários. Aguarde e confie.

Mas fim de ano, além de ser a hora de fazer a conta dos planos futuros, é também tempo de relembrar o ciclo que se fecha. E a idéia aqui é exatamente esta: dar um passada nos carros que andamos até aqui no MAO Drives, focando neles mesmo, nos carros; impressões que ficaram de fora, detalhes do comportamento, e algumas curiosidades de bastidores. Uma passagem pelo primeiro ano, para começarmos o segundo com o pé direito!

Revendo todos eles, não pude deixar de notar duas coisas. Uma, que carro, qualquer carro, é uma coisa legal demais da conta, quando se presta atenção neles. E a segunda é que, se você estiver disposto a procurar, existem milhares de opções de carros interessantes e diferentes por aí. A variedade de coisas que existem por aí , se você prestar atenção, é infinita.

 

Puma 1500GT

Para começar o MAO rives, escolhi um carro que conheço há muito tempo, e é um dos meus preferidos: o Puma-VW original. É um carro que não falha em deixar a gente pasmo com a alegria com que se move. Um carro minúsculo, belíssimo, mas que também te coloca como protagonista do passeio: direção, pedais e câmbio são quase perfeitos em seu funcionamento. O motor, bravo e entusiasmado, grita gostoso lá atrás.

Como apenas andamos na cidade, porém, não sei como ele se comporta em estadas como Romeiros. Deve ser em igual medida delicioso e apavorante; uma metáfora da vida.

 

Alfa Romeo SZ

Dirigir este carro, um ídolo de minha juventude, já é um evento memorável, para sempre fixado na mente. Mas o carro em si é nada do que esperava: achava que seria um monstro intratável e megaveloz. Não é nada disso: é tratável e fácil de dirigir como um Miata. Mas com um motor simplesmente delicioso, suave mais cheio de personalidade, e bem mais forte que o tal Miata.

É pequeno na verdade; isso, e sua cabine desenhada como nenhuma outra, com vidros extremamente curvos e cintura alta, que ficam gravados na memória. O interior não é escuro como parece de fora, pelo contrário: cheio de luz e visibilidade. Parece um monstro; é um dócil amigo, que não dá vontade de parar de dirigir.

Um problema apenas: falta espaço para as pernas para gente alta como eu; o punta-tacco, tão desejável aqui, fica impossível para mim. Um pequeno preço para ter um pedacinho do Nirvana automobilístico.

 

Audi RS2

Confesso que quando esse carro era novo, não era algo que desejava. Muito turbo, muito lag, muito Audi. Mas hoje, quase 30 anos depois, parece algo cheio de personalidade, diferente, único. O tempo é o melhor juiz, disso não há dúvida.

O que ficou marcado: o comportamento de turbo radicional, nada no início, mas uma crescendo de força exponencial que parece não querer parar nunca. O carro é pesado na frente, mas a direção é rápida, é ágil, e com grip aparentemente sem fim. Não é o mais excitante carro que já andei em romeiros, mas talvez o mais gostoso, pela tranquilidade com que lida com as curvas sem esforço e com grip de sobra, o conforto interno, e tudo temperado por aquele delicioso cinco em linha. Que carro!

Mazda Miata NA

Depois deste passeio, digo para quem quiser ouvir: se o Miata fosse italiano, e produzido em poucas unidades com uma marca famosa, valeria hoje todo dinheiro do mundo. Mesmo frente a Ferraris e Porsches, é este humilde carrinho o mais divertido que já andei em Romeiros. Até mais que o Toyota GT86, que está em segundo lugar, mas prefiro por ser um cupê 2+2.

Um carro comandado pelo cérebro, aparentemente sem filtro ou esforço; ande um pouco com ele e parece uma extensão de nosso corpo, não algo que andamos dentro. Algo raro, e simplesmente sensacional.

 

Glaspac Cobra

“Ou você freia, ou faz curva; os dois juntos nunca.” – me disse Alec, o dono. O carro realmente estava com um comportamento estranho na frente, que não dava confiança em frear dentro de curva. Mas devagar entrando e saindo forte sempre foi o jeito dos Cobra, e este não foi diferente. O motorzão é uma delícia, um dos melhores motores da história do automóvel não por acaso. E impressionou também a solidez do Glaspac: rígido feito uma rocha.

Gerry e Alec Cunningham

Neste mesmo dia conheci o Gerry Cunningham, pai do Alec e um dos donos da Glaspac. Inacreditável honra e algo que a gente nunca esquece. O Alec hoje é um bom amigo; andou com leitores no track-day do FlatOut, está sempre presente em eventos, e viaja para todo lado com seu Cobra. Um MAO Drives especial, este.

 

Alfa Romeo 155 V6

Um carro único no Brasil ainda original, este 155 V6 é o mais gostoso carro para estrada que andei em muito tempo. Suave, dócil, com uma estabilidade direcional incrível, quando se aperta o acelerador, um crescendo delicioso acontece, acompanhado de um musical sussurro de um V6 pequeno, mas cheio de alma. Não é um canhão, mas que carro delicioso!

 

BMW 328i Touring E36

Esse carro tem uma ligação profunda comigo; como vocês sabem foi meu por sete anos. Quano andei, tinha esquecido o quão ia bem em romeiros: potente para soltar a traseira (apesar de atrapalhado pela falta de um blocante lá atrás), direção ultra precisa e gostosa, câmbio manual. É um carro pequeno e baixo hoje em dia, diferente de todo o resto; parar ao lado de um Cruze por exemplo o faz parecer um SUV.

Mas o que ainda domina a experiência é o seis em linha. Suave, mas com um berro sofisticado e baixo, tem torque e potência de sobra para o carro, de uma forma precisamente controlada pelo acelerador. Quem não sabe o motivo de reclamarmos do fim dos aspirados precisa andar com um E36 manual de seis cilindros. Vai entender imediatamente.

 

Porsche 944

Um carro que sonhava conhecer desde 1984, quando o conheci via revistas importadas. Pelo que li, esperava um carro em que o chassi superasse em muito a capacidade do motor; que o motor fosse somente suficiente. Ledo engano.

O que ficou de meu passeio foi justamente o motor. Um quatro em linha grande, mas que com eixos conta-rotativos, é suave feito seis em linha. E tão forte quanto! Ele tem torque em baixa, e gira com vontade mesmo além dos 6000rpm, com um berro positivamente entusiasmante. Motor. Para mim, dominou a experiência. Mesmo porque, o chassi, totalmente neutro e benigno, podia tomar umas lições de derrapagem controlada com o Miata e o GT86. Mas até aí, quase todo mundo podia.

 

Citroën 2CV Van

O carro mais lento do ano depois do Chevrolet 1931 é também o mais apavorante; 60 km/h exige sua completa atenção e dedicação, e é mais preocupante que 300 km/h num carro alemão moderno. Mas ainda assim, é o maior barato: o motor menos potente que Honda CG gira solto e alegre (e com um barulho ensurdecedor), o câmbio, uma alavanquinha saindo do painel diferente de tudo, é uma delícia de operar.

Ainda acho que os governos do mundo deviam dar um 2CV a todos que tiram habilitação. De graça. E no primeiro ano, só poderiam andar com ele. O mundo seria um lugar muito melhor assim, tenho certeza.

 

VW Gol GTI

Esse foi uma completa surpresa. Pouco antes, tinha ido andar em um Gol do mesmo ano, pensando em comprá-lo. Mas o carro, apesar de lindo, impecável, andando não era como lembrava. Andava mal, fazia curva mal, freava mal… uma lástima. Achei que minha memória da época estava rosada pela nostalgia.

Mas este GTI do meu amigo Eric reabilitou o carro para mim. Que coisa legal! Um verdadeiro carro esporte, este GTI além de forte e entusiasmado, tinha incríveis reservas de grip, e uma carroceria que se movia sempre do jeito certo. Um dos carros mais legais que já andei em Romeiros.

 

Chevrolet 1931

Carros desse tipo exigem que você aprenda a dirigir de novo; tudo é essencialmente igual, mas na verdade, é totalmente diferente. Os motoristas de 1931 com certeza eram menores que hoje porém; tive que dirigir extremamente curvado e compactado. Fazer o quê? Ossos do ofício. Para o assinante do FlatOut, fazemos qualquer sacrifício!

 

BMW Z3

Como se diz Miata em alemão? Fácil: Z3. Mas como todo bom alemão, o Miata deles é bem mais sério e não entende piadas. O Z3 é um carrinho sensacional, um Miata para adultos que preferem viajar a atitudes mais esportivas ao volante. Não que seja ruim em curvas; é só banigno e neutro a ponto de prevenir muita diversão. O que é engraçado, porque os outros BMW contemporâneos são mais brincalhões. Mas de qualquer fora, algo muito gostoso, quando se entende que não é um Miata.

 

Alfa Romeo Spider 2000

Um carro absolutamente apaixonante por seu desenho, motor, chassi e aura. Um pouco mais flexível ao centro, se comparado aos cupês GTV, mas isso até o faz um pouco mais macio ao rodar, e uma experiência diferente, igualmente boa, em Romeiros.

Uma curiosidade: coisa de um mês depois desta gravação, o motor do carro desistiu; desde então ficou em uma oficina em reparos. Quem diria, a Alfa quebrou, coisa que nunca aconteceu antes… Mas hoje, por pura coincidência, o Aníbal nos manda uma foto dela de novo na rua. Parabéns, amigo! Perseverança é necessária para ter algo assim, mas vale a pena!

 

Porsche 550 Spyder Replica

O carro do Marcelo Loss é realmente algo especial. Reduzir para a segunda fazendo um punta-tacco sem um barulho de arranhar se mostrou impossível para mim, embora fácil para o dono. Este carro não é para mim, afinal; é para o cara que fez ela, o seu dono.

Como uma injeção de adrenalina, é algo intenso, que te deixa de olhos abertos e sentidos alertas; uma incrível ferramenta para exercitar direção e mais nada. Pequeno para mim, tenho que me abaixar muito para ver pelo para-brisa, mas ainda assim, emoção pura em forma de carro.

 

Envemo Super 90

Um carro esporte que te leva direto ao início dos anos 1960, sem escalas. Uma posição e dirigir e bancos perfeitos, uma tocada segura mais apimentada por um motor bravinho, uma direção leve e precisa, uma suspensão firme e um carro baixo.

Além de perfeito para um passeio animado em Romeiros, o carro é também confortável, sem pancadas ou stress. Como o Miata, parece uma extensão da gente, mas uma que o faz com um conforto que, para um senhor de meia idade como eu, é um bônus tremendo. E isso tudo sem falar da aura de importância histórica que vem de um Porsche 356, mesmo uma réplica. Disse no vídeo que era minha nova coisa favorita; ainda é.

 

BMW M3 E46

A prova cabal de que a BMW errou o caminho em algum lugar nos anos 2000, se perdeu, e nunca mais foi vista de novo. Um seis em linha aspirado divino, um chassi que parece atual em 2021, e a mais bela carroceria BMW moderna. O melhor BMW que conheço.

 

Honda Civic Si

Uma grata surpresa: não só seu motor é algo absolutamente magnífico, o resto do carro segue à altura. A direção é rápida, precisa, deliciosa; o câmbio, de engates perfeitos. Disse isso várias vezes depois desse dia, mas digo de novo: não parece um sedã quando se anda forte. Parece mais um monoposto de fórmula, que por algum motivo ganhou 1000kg. Simplesmente sensacional.

 

Subaru WRX

Motor e chassi são sensacionais neste que é certamente o carro com que cruzei Romeiros mais rapidamente. É algo veloz de verdade, tão potente, seguro e benigno que a velocidade vem muito fácil. Muito mesmo.

Mas o que ficou na memória foi a posição de dirigir: absolutamente perfeita. É um carro que se pode usar o tempo todo só por isso; posição de dirigir perfeita é conforto e interação sem esforço com a máquina. Um carro para o dia-a-dia perfeito!

 

Ford Escort XR3 Conversível

Esse carro não é o mais rápido ou o mais divertido, mas não é para isso que existe: é para passeios gostosos por estradinhas não muito velozes com o teto abaixado. Para a sua função básica, quase perfeito. E com o bônus e vedação perfeita da capota, quando se precisa dela.

Dezenove carros. Qual foi o seu preferido? O que gostaria de ver agora? Onde poderíamos melhorar? Aproveite os comentários para nos dizer.

Ano que vem promete mais carros interessantes, mais diversão ao volante, mais conversas despreocupadas e novos amigos; uma vida melhorada para todos por esta máquina maravilhosa que, ao nos mover daqui para ali, move também nosso espírito para mais longe. Para lugares que nunca iria sem ela. Dirigir, para nós do FlatOut, é o motivo de tudo, a atividade que torna o amor por carros real. Vamos continuar dirigindo. E nunca vamos parar!