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Car Culture História

MAZ-7904: o gigante com tração 12×12 e motor de 42 litros que nunca foi usado

De forma geral, é difícil encontrar um entusiasta que não tenha algum tipo de sentimento em relação às máquinas da União Soviética. E não falamos apenas dos carros, mas também dos tanques, aviões, embarcações e toda sorte de maquinário pesado. Talvez até mesmo por conta da escassez de informações precisas a seu respeito – ao menos no ocidente – acabamos fascinados com seu visual, suas especificações técnicas e suas histórias cheias de mistério. E hoje temos mais um exemplo.

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Ele tem tudo: um nome alfanumérico confuso, fotos granuladas que não revelam o suficiente, miniaturas e projeções feitas por fãs, e uma história que mistura engenhosidade e fracasso em iguais proporções. Além, é claro, de uma ficha técnica tão superlativa que acabamos pensando “é, não tinha mesmo como dar certo”. Estamos falando do MAZ-7904, o super caminhão-tanque soviético que foi criado para transportar mísseis, porém jamais cumpriu sua função.

Foi há quase 40 anos, em 1983, que a bielorrussa MAZ (Minski Autamabilny Zavod) recebeu do governo soviético a encomenda de um veículo para transportar seu Míssil Balístico Intercontinental (ICBM). Era um projeto secreto, e por conta disso tudo o que dizia a respeito do veículo foi feito às escondidas. Publicamente, o governo soviético dizia que era um enorme caminhão feito para transportar foguetes. Dava para acreditar: na época, a União Soviética estava às voltas com o “Energia”, foguete que lançaria ao espaço o ônibus espacial Buran em 1988.

O MAZ-7904 era classificado como um caminhão e, olhando apenas os números, não parecia tão espetacular assim: tinha 32 metros de comprimento, 6,7 metros de largura, 3,3 metros de altura – pesando, no total, 140.000 kg. Suas proporções e sua configuração mecânica, contudo, não tinham nada de comuns. Ele tinha seis eixos e 12 rodas, com tração em todas elas. A cabine era bipartida, e ambos os lados tinham volante, banco e pedais. Os operadores alternavam na condução – aquele que tinha melhor visibilidade para manobras assumia o comando enquanto o outro ficava aguardando sua vez.

A cabine e ficava pequena quando comparada aos pneus – fabricados pela Michelin (ou pela Bridgestone, dependendo da fonte consultada), eles tinham 2,7 metros de diâmetro cada um, calçando rodas de 51 polegadas. A União Soviética não tinha a expertise necessária para fabricar estes pneus, então eles foram importados do Japão com o pretexto de serem usados em caminhões de mineração – aqueles enormes, que transportam detritos. E a desculpa colou, incrivelmente.

Cada um dos seis eixos tinha um sistema de suspensão independente hidropneumática autonivelante, garantindo altura mínima do solo de 50 cm em qualquer situação. Era um arranjo parecido com o dos Citroën com suspensão “mágica”, porém em escala muito maior – para se ter ideia, a “bomba” empregada pelo sistema era um motor V8 a diesel YAMZ-238 de 14,9 litros e 335 cv.

O motor do veículo em si era muito, muito maior – um monstruoso V12 turbodiesel de 42,4 litros capaz de entregar pelo menos 1.500 cv. Ele ficava montado entre as duas cabines, ambas com volante e pedais, de modo que o condutor A transmissão era composta por duas caixas de quatro marchas sincronizadas que levavam a força para as 12 rodas, de acordo com a maioria das informações publicadas.

Em alguns documentos, porém, fala-se que a tração na verdade ficava em apenas oito das 12 rodas. A transmissão era feita por engrenagens planetárias. O MAZ-7904 tinha carga útil de até 220 toneladas – mais que o dobro do necessário para carregar o foguete Energia.

Os testes iniciais foram feitos por 550 km antes que o veículo fosse transportado para o Cazaquistão. Lá, mais 4.000 km de testes foram realizados. A ideia era mostrar que, apesar do tamanho gigantesco e da logística complicadíssima para fabricação e montagem, o MAZ-7904 era um veículo viável. Os testes eram realizados apenas de madrugada, pelas estradas mais inóspitas da União Soviética.

Acontece que, bem, ele definitivamente não era viável. Além da logística complicadíssima para a produção, o veículo em si não era exatamente eficaz. Sua velocidade máxima era de risíveis 27 km/h, e o raio de giro era maior que 50 metros. Na prática ele não poderia circular na maior parte das vias soviéticas da época. Além disso, havia outro problema técnico – por mais que fosse feito para percorrer terrenos acidentados, os componentes do MAZ-7904 não estavam à altura da função. Os rolamentos das rodas quebravam com frequência caso o veículo não estivesse sobre o asfalto, e simplesmente não havia rolamentos de melhor qualidade à disposição da equipe de engenharia da MAZ.

 

Assim, o MAZ-7904 foi colocado em um depósito no Cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, presumivelmente à espera de novos componentes. Mas eles nunca vieram – e, uma vez que a União Soviética foi dissolvida, quaisquer chances que existiam de retomar seu desenvolvimento caíram por terra.

O gigante ficou abandonado por anos, cada vez mais deteriorado. A corrosão tomou conta da estrutura e das rodas; os pneus murcharam, ressecaram e acabaram se partindo; e em 2007 o governo do Cazaquistão decidiu livrar-se de uma vez por todas do MAZ-7904, desmanchando-o para aproveitar o que podia ser aproveitado. O restante, pelo que se sabe, foi direto para o triturador.

Apesar desta breve e triste história, porém, o MAZ-7904 é admirado pelos entusiastas de maquinário bélico antigo. Recriações em miniatura e virtuais como na foto que abre esta matéria, são a melhor forma de ver como ele deveria ser quando novo – bem como modelos em 3D feitos para simuladores, como este que pode ser instalado no game Spintires:

Contudo, a verdade é que jamais se saberá exatamente como era dirigir um veículo como este, que se tornou mais uma lembrança das estranhas e perigosas ambições da Guerra Fria.