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Mercedes-Benz 300SL “Gullwing”: os detalhes que você nunca viu do clássico alemão

O Mercedes-Benz 300SL “Gullwing” foi produzido por apenas três anos há mais de 60 anos. Foram feitas apenas 1.400 unidades do cupê com as lendárias portas asa-de-gaivota, mas não foi preciso mais do que isso para que ele entrasse para a história, inspirando entusiastas e influenciando os Mercedes esportivos ainda hoje.

Há quem diga que ele foi o primeiro “supercarro” da história, antes mesmo da invenção da palavra supercarro. Embora o título seja discutível, o 300SL foi, sem dúvida, o primeiro “carro de corrida para as ruas”, uma expressão que acabou se tornando um clichê usado cada vez mais fora de contexto. E não há dúvidas quanto a isso porque debaixo da carroceria curvilínea e elegante, está o mesmo chassi tipo spaceframe e o mesmo motor seis-em-linha que equipou os 300SL de corrida que fizeram sucesso nas pistas no início dos anos 1950, com uma vitória nas 24 Horas de Le Mans, inclusive.

Com tão poucas unidades produzidas durante tão pouco tempo, conhecer um 300SL Gullwing legítimo em detalhes é uma oportunidade que poucas pessoas terão em suas vidas. Especialmente nestes tempos em que seus preços já chegaram à casa dos milhões de dólares. Por isso, dando continuidade à nossa série de supercarros em detalhes, vamos conhecer os segredos do 300SL Gullwing.

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Começando pela abertura da porta, você verá a maçaneta pouco convencional que acabou influenciando o SLS AMG. Ela fica embutida na porta e, para abri-la, é preciso pressionar a extremidade para que ela se levante:

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Depois é só usá-la como uma maçaneta comum de alavanca.

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As portas levantadas revelam duas características exóticas do 300SL: as soleiras altíssimas e os amortecedores que sustentam a porta aberta.

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As portas asa de gaivota não foram uma mera excentricidade dos designers da Mercedes. Elas surgiram como solução prática às soleiras elevadas. E estas soleiras são consequência do chassi spaceframe, que é mais largo nas laterais para providenciar rigidez à estrutura, que pesa pouco mais de 50 kg. Sim: pouco mais de cinquenta quilogramas. Sem ter como fazer portas convencionais, a Mercedes decidiu fazer portas tipo escotilha, que se abriam a partir da altura das soleiras.

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Por esse motivo, entrar no 300SL não é como entrar em um cupê convencional: você joga a perna direita sobre a soleira ao mesmo tempo em que solta o corpo sobre o banco. Depois é só passar a perna esquerda enquanto gira o corpo para a posição correta. Em um carro de corrida esse contorcionismo é aceitável, mas em um esportivo de luxo feito para artistas do cinema e para os atletas mais bem-pagos da época, as posições não eram muito elegantes quando você recebia seu carro na entrada de um evento social. Por isso a Mercedes desenvolveu um sistema de articulação do cubo do volante para tornar esta manobra de embarque menos complicada:

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Já que estamos dentro do carro, podemos começar a conhecê-lo melhor por este lado. O quadro de instrumentos é típico dos esportivos da época, com marcadores de velocidade do motor, velocímetro (com escala de 270 km/h ou 160 mph na versão americana)…

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… marcador do nível do combustível e pressão do óleo à esquerda, sob o conta-giros; termômetro da água e do óleo do motor à direita, sob o velocímetro.

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A alavanca à direita aciona as setas. A luz espia do topo, entre os instrumentos principais, indica o acionamento do farol alto. As três menores, entre os instrumentos auxiliares, indicam o acionamento do afogador (branca à esquerda), o acionamento das setas (pequena ao centro) e o funcionamento da bateria/sistema elétrico (escura à direita).

Ao lado esquerdo dos instrumentos, você encontrará mais três controles: os comandos deslizantes abrem e fecham a ventilação superior e inferior do lado esquerdo. O interruptor com o ponto vermelho serve para ajustar o ponto de ignição (sim, o ajuste poderia ser feito manualmente); e o interruptor abaixo dos instrumentos ativa a bomba de combustível para a partida.

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No outro lado, à direita do volante, temos mais uma série de controles e interruptores. O primeiro, abaixo dos instrumentos é o interruptor da iluminação do painel, que não era interligada com as luzes do carro. Você podia desligá-las em viagens noturnas. Ao lado fica o interruptor das luzes de estacionamento. Elas não são muito comuns por aqui, mas você pode acender o farol e a lanterna do lado do carro que fica oposto à calçada ao estacioná-lo na rua.

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Acima, o interruptor com o ponto vermelho ativa a bomba auxiliar de combustível, usada quando o tanque está na reserva ou em partidas com o motor quente. Logo abaixo dela fica o seletor dos faróis, com quatro posições, e ao lado está a trava da ignição/direção e partida do motor. A primeira posição aciona o sistema elétrico, a segunda posição dá a partida e mantém o motor ligado. Abaixo do relógio fica o interruptor do limpador de para-brisa, com dois estágios. Puxe uma vez e ele aciona a velocidade baixa, puxe mais uma vez e ele aumenta a velocidade. E só. O sistema intermitente ainda não havia sido inventado naquela época. Mais ao lado você vê o seletor de temperatura da ventilação; a alavanca de cima ajusta a temperatura do lado esquerdo, e a inferior do lado direito. Sim: um sistema “dual zone” em 1954!

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Continuando para a direita, temos mais três interruptores antes do seletor de abertura/fechamento da ventilação do lado direito. O interruptor abaixo do SL no painel é a ativação da buzina, que poderia ser desligada. Ao lado está o acendedor de cigarros, e mais ao lado, com o ponto vermelho (antes do controle de ventilação) está o interruptor do sistema de ventilação para desembaçar os vidros com o carro parado. Abaixo, no vão dos pés, há um bolso porta-objetos. Aquele objeto preto é uma travessa do chassi spaceframe que fica aparente.

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Mais ao lado temos uma alça de apoio para auxiliar a entrada/saída do carro, a alça para puxar a porta e a tranca e a maçaneta interna. Assim simples mesmo. Olhando para o outro lado da cabine, podemos ver os bancos com encosto fixo (aqui com o clássico tartan da Mercedes) e o porta-malas. Sim: a bagagem do 300SL é levada nesse espaço atrás dos bancos. Aquela abertura lá atrás, no lado de fora, é mais um “porta-estepe” do que um porta-malas propriamente dito.

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Uma curiosidade aqui: o freio de mão não fica no túnel central. Ele fica no lado esquerdo do motorista, entre o banco e a soleira:

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A foto infelizmente não mostra, mas ele tem um parafuso tipo borboleta para ajuste manual do cabo, e logo à frente dele, sob o painel, fica a alavanca de abertura do capô, com puxador em T. A outra alavanca, com puxador circular e à direita do volante, sob o painel, é a alavanca do lavador do para-brisa, um opcional cobrado à parte:

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Falando em abrir o capô, veja só quem está ali: o lendário seis-em-linha M198 de três litros, com injeção mecânica direta e 218 cv de potência. Uma de suas particularidades é que ele ficava inclinado para a esquerda do carro, como você pode perceber pela posição da tampa de válvulas:

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Sim, ele trabalhava assim meio inclinado como metade de um V12 para manter a dianteira baixa e, como efeito colateral, otimizar a velocidade do ar admitido. No outro lado está a admissão, que fica mais alta que o cabeçote. Por esse motivo a Mercedes decidiu criar uma saliência no capô, assim o duto de admissão ganharia espaço. Por uma questão de simetria e estética, o capô ganhou um ressalto no lado direito, criando um dos elementos estéticos mais icônicos dos Mercedes esportivos: o capô com ressalto duplo. É por isso que todo modelo AMG usa este tipo de capô.

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Junto à parede corta-fogo podemos ver parte do mecanismo de abertura do capô e um dos vértices do chassi spaceframe. Aquelas travessas que cruzam o interior do carro no vão para as pernas dos ocupantes, entram por ali, na parede corta-fogo. Nas fotos abaixo podemos ver melhor o sistema de suspensão e o chassi tubular:

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Acima vemos o tanque de combustível, o sistema de escape e o diferencial traseiro junto da suspensão traseira. O tanque fica exatamente embaixo do falso porta-malas, que na verdade é o porta-estepe:

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Ao lado do pneu você tem o pescoço do reservatório de combustível, e à esquerda o acesso à bomba de combustível auxiliar. O martelinho de madeira é a “chave de roda”: como o carro usa cubo rápido com porca borboleta/estrela, você solta e aperta com marteladas.

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Por último, um panorama externo do carro, com suas curvas volumosas, lanternas minimalistas, ventilação no teto, e seu icônico respiro funcional do cofre. E claro…

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… sua inconfundível “asa de gaivota”.