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Mercedes-Benz Classe C W204: o que saber antes de comprar? | Guia de Compra FlatOut

Lembra da época em que o Classe C vendia mais que álcool em gel? Pois é… entre 2008 e 2014 nosso mercado foi inundado pelos Mercedes W204, a quarta geração da Classe C. O carro se tornou um dos importados mais vendidos, chegando a concorrer indiretamente com versões de topo dos sedãs médios nacionais e se tornou figurinha fácil de encontrar no trânsito das grandes cidades. Foi um fenômeno semelhante ao que aconteceu nos anos 1990 com seu ancestral, o W202 (a segunda geração da Classe C).

E como o W202, esse sucesso do W204 significa que agora você pode encontrá-los por preços atraentes no mercado de usados.

O W204, como mencionei acima, é a quarta geração da Classe C, embora seja apenas a terceira a usar esta designação “Classe C”. Lançado em 2007 como modelo 2008, ele chegou ao Brasil naquele mesmo ano, inicialmente na versões C180 Kompressor, C200 Kompressor e C280.

As duas primeiras vieram com o motor 1.8 M271, de quatro cilindros e sobrealimentação por um compressor tipo Roots. As diferenças estavam na taxa de compressão e na pressão produzida pelo compressor. Desta forma o C180 tinha 156 cv e o C200 tinha 184 cv. Os dois eram equipados com o câmbio 5G Tronic, automático de cinco marchas — o mesmo usado pelo W202 e pelo W203. Já o C280 usava um motor V6 aspirado, o M272, com três litros de deslocamento e 231 cv. A transmissão aqui já era a mais moderna 7G Tronic, automática de sete marchas. Todos foram oferecidos na versão Avantgarde e Elegance, diferenciadas pela grade dianteira: a Avantgarde tem a estrela na grade, e a Elegance tem a estrela no topo do capô, com a grade com duas colunas de aletas.

Em 2008 a Mercedes lançou a primeira versão do C180 Bluefficiency, uma proposta mais eficiente em termos de consumo e emissões, como já sugere seu nome. Por essa razão, ela tinha um motor 1.6 em vez do 1.8, mas a potência e o torque permaneciam os mesmos. O carro também ganhou aprimoramentos aerodinâmicos, como a grade dianteira parcialmente fechada, frestas dos faróis/carroceria vedadas, retrovisores e rodas redesenhados para menor arrasto, pneus com menor resistência à rolagem, para-brisa mais fino e rodas mais leves para redução de peso (entre 19 kg e 32 kg, dependendo da configuração do carro). Com as modificações, estes modelos não ficaram apenas mais econômicos, mas também conseguem um melhor desempenho devido ao coeficiente aerodinâmico mais baixo — 0,25 nos BlueEfficiency e 0,33 nos Elegance.

Esta versão, contudo, durou apenas um ano. Em 2009 a Mercedes abandonou os compressores de polia em favor dos turbocompressores tanto no C180, que voltou a ser equipado com o motor 1.8, quanto no C200. Os números de potência e torque continuaram os mesmos. A linha de quatro cilindros ganhou um novo integrante: o C250, que usava o mesmo motor 1.8 do C180 e C200, porém com 204 cv e decoração mais esportiva. Também em 2009 o C280 mudou de nome, sendo “promovido” para C300. E naquele mesmo ano, veio o novo modelo de topo: o saboroso C350.

O C350 era o máximo da esportividade que você teria antes de partir para o C63 AMG (que será abordado em outro Guia). O carro tinha suspensão rebaixada em 15 mm, kit AMG com para-choques e rodas de 17 polegadas, mas o ponto forte era a nova configuração do V6 de 3,5 litros com injeção direta de combustível, agora com 292 cv, que o levava aos 100 km/h em 6,2 segundos e à máxima de 250 km/h.

Este arranjo da linha em 2009 — C180, C200, C250, C300 e C350 – permaneceu praticamente inalterado até o fim da produção do W204 em 2015. Praticamente, porque em 2011 o C300 deixou de ser produzido e não deixou sucessor.

Em 2012 os modelos passaram por um facelift muito sutil, que deu a todos novos para-choques, rodas, um painel redesenhado, com uma tela multimídia integrada ao cluster do quadro de instrumentos. E nada muito além disso. Esteticamente falando, claro.

Mecanicamente o C180 trocou mais uma vez o motor M271 1.8 por um motor 1.6, mas desta vez um novo projeto, mais moderno, usado até hoje, o M274. A potência foi mantida nos 156 cv, assim com os números de desempenho declarados pela fabricante. Tanto ele quanto o C200 e o C250 ganharam o novo câmbio 7G Tronic, automático de sete marchas.

O C350 também mudou: o 3.5 M272 foi aposentado depois de quase dez anos de estrada e, em seu lugar, entrou o novo M276, também com 3,5 litros, aspirado e injeção direta, mas agora com 306 cv.

Em 2015, concluindo o ciclo de sete anos do modelo, a Mercedes encerrou a produção do W204 para dar lugar à nova geração, W205.

 

Por que você quer um Mercedes Classe C W204?

Um sedã com motor longitudinal dianteiro e tração traseira, a receita clássica do carro alemão. Isso, por si, é um motivo mais que suficiente para pensar em um W204. Depois tem os preços: apesar da alta geral dos carros usados no Brasil nestes últimos anos, o W204 se manteve estável, o que os torna mais atraentes ainda se você tiver em mente que sua manutenção pode ficar salgada em algumas ocasiões.

Mesmo na versão de entrada o W204 é um carro com bom desempenho. Praticamente todas as versões são econômicas, considerando o desempenho do carro — os modelos mais recentes já são suficientemente modernos em termos de eficiência. E sendo um modelo premium no Brasil, ele é bem equipado mesmo em sua versão mais básica.

Além disso, por ter sido vendido em grande volume no Brasil, a oferta de peças é abundante e é possível encontrar itens de desgaste natural até mesmo fora da rede autorizada, o que ajuda a gastar menos na manutenção periódica. Também por isso, não é difícil encontrar mão-de-obra especializada no modelo — há, literalmente, centenas de oficinas especializadas em modelos Mercedes nas grandes cidades brasileiras.

Ah, e mais uma coisa: o W204 também foi oferecido na versão perua!

Tudo o que você precisa é saber qual modelo comprar e em que ficar de olho para não entrar numa roubada. Mas é para isso que estamos aqui, não?

Colaboraram com este guia: Tomás Andrade (proprietário), Fernando Camargo (proprietário), Gabriel Sgobin (proprietário), Lucas Leal (proprietário), Oliver de Paula (proprietário), Guilherme Bogossian (técnico certificado Daimler-Benz)

 

Qual modelo escolher?

Como sempre digo nestes guias, o melhor modelo depende do que você espera do carro. Se você quer um pouco de esportividade, os modelos C250 e C350 são os que você deve ficar de olho. Os dois têm itens da AMG na decoração externa e interna, têm suspensão rebaixada e rodas maiores, além de para-choques exclusivos, e são o topo de linha de cada família de motores — o C250 é o quatro-cilindros mais potente e o C350 é o V6 mais potente.

Os demais modelos, são todos muito parecidos. Todos foram oferecidos com teto solar, por exemplo, ainda que ele fosse opcional nos C180 e C200. Todos têm sistemas de segurança ativa e passiva, todos têm motores eficientes para os padrões atuais. Então depende do que você espera e de quanto você tem no bolso. O que você precisa saber é que os modelos turbo com câmbio de sete marchas são os mais econômicos e têm melhor desempenho, também são mais atualizados em termos de design interno.

 

Quanto custam?

Um C180 Kompressor, com quilometragem condizente com sua idade, dos primeiros anos de mercado, custa cerca de R$ 45.000. É possível encontrar mais barato, mas ele estará mais rodado e não muito bem conservado, e certamente não terá teto solar. Os C200 Kompressor também giram em torno dos R$ 45.000 – R$ 50.000 nas mesmas condições do C180. Na faixa dos R$ 50.000 você também encontrará o C280 2008-2009.

Os modelos com motor turbo partem dos R$ 55.000 e chegam aos R$ 90.000 no caso do C250 Sport. As peruas também são mais valorizadas, e giram na casa dos R$ 70.000 a R$ 80.000. Por último, o C350 parte dos R$ 75.000 nos modelos do primeiro ano (2011) e pode passar dos R$ 100.000 se você quiser a versão de 306 cv com baixa quilometragem.

 

Em que ficar de olho?

Motor: no motor quatro-cilindros (M271) algumas unidades podem apresentar um desgaste crônico da engrenagem das polias do virabrequim. Não chega a ser um defeito crônico do motor, mas não é raro acontecer. O reparo é caro e consiste na troca do par de polias, o conjunto de correntes, tensores, guias e polia do virabrequim.

No motor V6, pode ocorrer desgaste semelhante no sistema de sincronismo do motor. O defeito, contudo, é raro, com baixa frequência de ocorrências. Mais comum é o desgaste dos coxins do motor e transmissão nos modelos V6, algo que você perceberá ao acelerar e aliviar o acelerador bruscamente.

Acabamento externo: os pontos críticos aqui são as canaletas de escoamento de água do teto do carro. Elas têm o acabamento frágil e sua pintura pode se descascar nos carros que ficam mais tempo expostos ao tempo. Alguns proprietários repintam, outros fazem a substituição canaletas do teto. Elas podem entregar se o carro foi bem guardado ou se ficava exposto ao tempo.

Ainda no lado de fora, a tampa central das rodas também é propensa à descamação do acabamento. O conjunto de calotas também é relativamente barato e podem ser encontradas peças paralelas.

Acabamento interno: observe se os difusores de ar do sistema de ventilação estão íntegros e podem ser direcionados amplamente. É um dos pontos críticos do interior, e não é raro ver difusores com aletas e travas quebradas. Ainda no interior, você deverá topar com botões dos vidros elétricos, comandos do computador de bordo e do ar-condicionado com pequenos descascados no acabamento. É algo comum, que acontece em todos os Mercedes W204.

Outro ponto frágil do interior é a cortina do console central, que fecha o compartimento de objetos. Ela é fácil de quebrar, muitos carros a têm quebrada ou removida, mas ela é uma peça barata, que pode ser comprada facilmente no eBay.

Elétrica: o ponto crítico aqui é o módulo ESL/ELV. Trata-se do sistema que reconhece a chave eletrônica e destrava a ignição e direção do carro. Ao inserir a chave é possível ouvir este motor atuando com o ruído característico de um motor atuador elétrico. Se ele parecer muito lento ou irregular, o módulo pode estar com problemas. A solução consiste na troca do módulo completo por outro novo, original, ou na substituição por um emulador eletrônico.

Transmissão: as duas transmissões usadas pela Mercedes-Benz no W204, a 5G Tronic (722.6) e a 7G Tronic (722.9) são transmissões confiáveis e robustas, porém exigem a troca do lubrificante a cada 50.000 km para evitar desgaste dos componentes.

 

Onde encontrar peças?

A Mercedes-Benz oferece peças de reposição para todos os seus modelos de qualquer época. Nem sempre à pronta entrega, mas por encomenda você pode encontrar absolutamente tudo para o carro. É claro que isso tem seu preço, mas, ao mesmo tempo, permite que o carro seja reparado exatamente de acordo com o padrão original.

Os catálogos de peças podem ser encontrados online e servem como uma excelente fonte de consulta para garimpar as peças — seja nas concessionárias ou nos desmanches. Estes, aliás, são uma alternativa pois o W204 foi um modelo muitíssimo bem-sucedido no Brasil e a oferta de modelos sucateados para doar peças é imensa.

Há dois fóruns de proprietários muito bem-conceituados, o Portal Mercedes e o Portal Mercedes Brasil. Lá é possível encontrar informações sobre as oficinas especializadas, peças e componentes, além de catálogos e manuais técnicos.

Um nome recomendado como especializado em peças para Mercedes foi a Marimport, de São Paulo. Também é possível encontrar peças paralelas no Mercado Livre, eBay e até nos grandes marketplaces chineses, uma vez que o W204 foi um modelo oferecido globalmente.

 

Depoimentos

Oliver de Paula, proprietário de um C200 2013

Fiz o meu carro pra mim, por isso ele tem algumas particularidades que não são originais. Ele tem os cintos vermelhos e as rodas dos modelos AMG e molas Eibach. Comprei esse carro de um amigo. Logo que eu vi esse carro, me chamou a atenção o estado de conservação e o fato de ser branco com teto solar, uma combinação difícil de achar. Logo avisei ao meu amigo: “quando vender o carro, me dá um toque, porque eu quero ele pra mim”. E assim aconteceu: no início deste ano ele me ligou, negociamos e eu fiquei com o carro.

Não tenho nada a reclamar do carro. Ele está com 80.000 km e não tive nenhum problema. Acredito que esse modelo tenha um ou outro problema crônico, mas até agora não aconteceu comigo. Da linha Mercedes esta carroceria é a que eu mais gosto.

É meu carro de uso diário. É um carro muito bom para andar, tanto no dia-a-dia quanto no fim de semana, viagens. Fiz uma viagem de distância considerável, é um carro bem econômico, chega a 10 km/l na cidade e na estrada, com o câmbio de sete marchas, ela roda 14 km/l, 15 km/l.

 

Fernando Neto, proprietário de um C200 2014

Tenho uma C200 2014, black over black, desde janeiro. Peguei ela com 60.000 km cravados do segundo dono. Antes dela tive um Focus e um Jetta R-line. Sempre gostei dos alemães e senti que era hora de ter um. Depois de refletir muito entre o A4, o 320i e o Classe C, dentro do orçamento (até R$ 80.000) decidi pela Mercedes.

Nesse período, o carro tem sido meu daily. Rodei cerca de 12.000 km sem problemas. O que eu mais gosto, além do comportamento de um sedã de tração traseira, é a solidez absurda que esses carros têm. Você se sente seguro nele, percebe que tem engenharia e cuidado de construção. Silêncio e estabilidade na estrada são fantásticos também. Ela a 150 km/h, 160 km/h, me passa mais segurança que o Jetta a 120 km/h e o Jetta era bem mais novo.

Quanto à escolha do modelo, eu pesquisei e acabei chegando à conclusão de que a C200 é o sweet spot da gama. Ela tem um motor substancialmente mais forte que o da C180, o acabamento interno bem superior (metal de verdade nos apliques por exemplo) e o teto solar. Outra coisa que a C200 agrega são os faróis ILS que dão uma diferença absurda versus os halogênio da C180 (vieram apenas algumas C180 com esses faróis num pacote chamado “vision”). O multimídia é maior e agrega o GPS, o volante é mais moderno de três raios e acho que são essas as principais vantagens.

Das coisas que não sou tão fã: é um carro pra quem não se preocupa muito com firula. Por exemplo não tem câmera de ré ou sensor de estacionamento na frente (que meu Focus 2014 tinha), não tem sistema de som chique e o multimídia não envelheceu muito bem (pelo menos tem o bluetooth que pareia fácil). A dianteira do carro vai raspar fácil. Os vizinhos reclamam no meu prédio pq tenho que subir a rampa da garagem na diagonal por exemplo. Então muito mais cuidado que o usual.