Olá, meu nome é Paulo Kise. Trabalho com pisos industriais há 14 anos e meu hobby é meter a mão na graxa inventando coisas ou mexendo em carros e motos.
Gosto de qualquer coisa que tenha motor e, por isso, estou montando uma caranga para participar de campeonatos de drift organizados pelos meus primos da Drift Show. A ideia surgiu quando eu estava assistindo a um dos eventos num fim de semana qualquer, em 2012, e um deles me convidou para participar.
Não era tão simples assim, afinal, eu não tinha um carro japonês com tração traseira, diferencial blocado e motor preparado como os Skyline, Chaser, Mark II e todos aqueles outros carros que eu adorava ver andando de lado.
Então lembrei do meu Mercedes-Benz S600 Coupe 1995 com motor V12 e câmbio automático, todo original, com apenas 42.000 km. Eu havia trocado o carro “na chave” com uma Saveiro Surf 2004. Ele estava com problemas eletrônicos, e depois de gastar muito dinheiro em cinco oficinas diferentes, e passar por um período difícil na minha empresa, acabei encostando o carro.
Expliquei a situação do carro para os primos, e eles me apresentaram um cara excepcional chamado Leandro Matraka, que trabalhou por dez anos fazendo carros de drift no Japão. A solução para o Mercedes veio na simples adaptação de uma injeção Fueltech FT-400. Em duas semanas o V12 estava roncando.
A preparação
Enquanto o Matraka ia fazendo a ligação da FT-400, fui removendo toda a parte elétrica, eletrônica, módulos (são uns 10), suportes, fios, chicotes, botões, painel, bancos, forrações, tapetes, lampadinhas e tudo que não ia usar mais e pudesse aliviar peso, pois o carro original já vem pesando 2.200 kg — a Baleia, como apelidei o carro, era blindada, para piorar a história.
Entrando um pouco na parte técnica (puristas saiam da sala!) que poderá ajudar muitos donos de hot rod, BMW, Audi e outros importados que querem ver o motor berrar sem fazer questão de estar original, para fazer o V12 funcionar, adaptamos duas bobinas de Omega seis cilindros pois a Fueltech FT-400 emite sinal para até 6 cilindros, mas com a ligação dupla conseguimos ativar os 12 cilindros.
Para a leitura de rotação do motor, os dois sensores de rotação do virabrequim foram desativados e soldamos uma roda fônica de Fiat Uno na polia frontal do motor com o sensor de rotação para fazer a leitura. Também instalamos sensores de pressão de óleo e gasolina e um chicote novo. Com tudo pronto, demos a partida e o motor roncou bonito.
O motor V12 de seis litros originalmente tem 385 cv, 60 mkgf de torque e estava originalmente limitado a 5.000 rpm, com as válvulas injetoras com 60% de abertura. O preparador abriu a vazão para 100% e aumentou o corte de injeção para 6.800 rpm. Imagine o ronco do monstrão!
A primeira borrachada foi ali mesmo, na garagem. Sumimos no meio da fumaça. Depois repetimos o burnout na rua, e o carro mal saiu do lugar com o torque brutal. Na terceira brincadeira, o câmbio automático quebrou depois de deixar uma bela lixada no asfalto.
Na etapa seguinte, instalamos um câmbio de seis marchas tirado de um Audi RS2, supostamente projetado para suportar até 90 mkgf de torque. Pareceu ideal para drift.
A tarefa não foi fácil, mas também não foi impossível. Faltava um pedal de embreagem, a embreagem completa e o atuador hidráulico, novos suportes, um cardã específico para o novo câmbio e uma flange para adaptar o câmbio no motor.
Começamos cortando a flange das duas caixas para soldar a flange Mercedes no câmbio Audi, para usar tudo na posição original. A embreagem de cerâmica foi feita sob medida pela Displatec, toda em aço. Com a caixa no carro, bastou adaptar o cardã na nova medida.
Ainda falta solucionar o pedal da embreagem. Tentei usar o do Volkswagen Fox, mas ele tem pouco curso, e por isso acho que foi acabar fabricando um novo. Outra mudança que precisa ser feita é o trambulador, que ainda não funcionou muito bem.
Por dentro, adaptei um banco concha Sparco, com cinto de cinco pontos. Preciso comprar mais um para levar a patroa para passear! Também ganhei um volante da Lotse, com engate rápido e instalei um jogo de rodas 18×10 que combinaram bem com a Baleia.
Fiz toda a suspensão na Noopcar usando os amortecedores originais com mais carga e todo o embuchamento em PU. Ficou um monstro. O tanque de 100 litros eu troquei por um menor, de 20 litros, feito de inox, alimentado por mangueiras com rosca de alta pressão e duas bombas elétricas.
Ainda falta fazer a gaiola de proteção, terminar a substituição dos vidros blindados por policarbonato, arrancar o resto da blindagem quitar o IPVA e sair para testar o carro. Mas isso tudo é história para os próximos posts. Até lá!
Por Paulo Kise, Project Cars #60