Este Project Cars é escrito por um português que, mais do que detalhar projetos, vai contar uma estória de amor. Entre 1986 e 1992 houve um mito que varreu asfalto, levantou poeira e mais títulos que qualquer outro carro de ralis até hoje. O seu nome é Lancia Delta HF Integrale. Em seis anos de competição o Delta ganhou seis WRC e mostrou que um pequeno carro urbano pode ser um grande carro esportivo.
Nasci em 1986, por isso essa realidade passou ao meu lado. E devo confessar que o Sega Rally foi o grande responsável por esse amor.
A compra do meu primeiro carro foi a oportunidade de efetivar esse sentimento. Felizmente existem várias versões de Deltas por aqui, mas infelizmente eu só tinha dinheiro para a mais barata – a LX.
No universo Fiat, essas duas letras são sinônimo de luxo e, para mim, era mesmo. Apesar dos seus 15 anos de uso ( era um modelo 1991) os 85 cavalos do motor 1.5 8v carburado me faziam sentir um autêntico Carlos Sainz. A verdade é que muitos anos depois, continuo amando o seu comportamento em curva e o motor atrevido.
Após um restauro que ultrapassou largamente o seu custo de compra, ele parecia um carro que acabara de sair da fábrica. O “problema” é que comecei a ganhar gosto pela estrada, a ir a encontros do Clube Lancia HF Portugal e a querer cada vez mais…
Pode parecer estranho, mas a maioria dos carros que comprei “quase” vieram ao meu encontro e este foi o primeiro: um Lancia Delta HF Turbo de 1988 com apenas 74.000km, batido na lateral e prestes a ser transformado em sucata. Sim, na União Europeia há um programa que subsidia o desmanche de carros com mais de 15 anos na compra de um novo. Era a oportunidade de salvar um carro e de colocar as mãos em um motor 1.6 turbo 8v que gerava 142cv.
O restauro foi bem simples, envolvendo funilaria, a colocação de faróis, aerofólio e capô, que equipavam a última versão do HF Turbo e que, anteriormente, tinham sido usadas no descontinuado Integrale 16v. A Lancia tinha o costume curioso de usar peças de uma versão mais sofisticada descontinuada para alavancar as vendas de uma mais simples.
Estava feliz com o carro mais divertido que já tinha dirigido, até que o rei dos Deltas veio “quase” bater à minha porta. Como conseguiria resistir a um Integrale 16v de 1992 com apenas 60.000 km rodados, em um estado perfeito e com um preço ridículo? Claro que não consegui! De pronto, vendi e recuperei todo o investimento feito no HF Turbo e parti para o carro dos meus sonhos.
Durante três anos tive um carro verdadeiramente incrível. Nunca esquecerei o som do motor 2.0 16v que gerava 210cv, a aceleração monstruosa que levava 5.7 s do zero aos 100km/h e me deixava colado aos Recaro, e a tração integral que oferecia uma perfeita aderência à estrada.
Até ao dia em que o carro que nunca fugia em curvas, fugiu das minhas mãos. A realidade é que a vida me levou a escolher um outro rumo — algo que nunca seria possível sem a venda do meu brinquedo favorito.
O projeto
Como muitos de vocês, vejo diariamente classificados e, por vezes, compro algumas peças raras que surgem a bons preços. Um dia, “por acaso”, cruzei com o anúncio de um HF Turbo de 1990 com 140.000 km num estado razoável (esse vermelho da foto acima), um bom preço e ainda a informação de que era negociável. Tinha que tentar! Em poucos dias fechei negócio pela metade do valor anunciado. Para fazer esse investimento, vendi o meu Lancia Delta LX. Foi uma decisão difícil, mas ele precisava rodar para continuar a ser o carro que era. E eu tinha um novo projeto em mente, o qual contarei nos próximos posts. Até lá!
Por João Pedro Batista, Project Cars #125