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Miura Saga: veja como era o “esportivo mais desejado do Brasil” em 1988 – em vídeo

Entre 1976 e 1990, caso você quisesse um carro zero-quilômetro exclusivo, não poderia entrar em uma loja e comprar um importado: o mercado brasileiro era fechado para automóveis fabricados lá fora. Com isto, explodiram em popularidade os fora-de-série – carros feitos por empresas menores, normalmente de forma artesanal, usando como base plataformas e motores de modelos nacionais.

Na época, alguns deles eram os carros mais caros e bem equipados que se podia comprar no Brasil. O Miura e suas diferentes versões, por exemplo: lançado em 1977, ainda sobre a plataforma e mecânica do Fusca, o cupê de motor traseiro e desenho inspirado no Lamborghini Urraco não tinha mais que os 65 cv (brutos) de seu motor boxer 1600 arrefecido a ar, e por isso mal passava dos 130 km/h, com zero a 100 km/h de 23 segundos.

Com o passar dos anos, porém, foi ganhando motores mais potentes e equipamentos que eram difíceis de encontrar até mesmo em importados. Em 1981, o boxer deu lugar ao quatro-cilindros em linha do Passat TS, ainda montado na traseira. Em 1984, o Miura deixou de utilizar a plataforma do Besouro para adotar um esquema de construção com chassi tubular e carroceria de fibra de vidro, mudando a localização do motor para a dianteira e encontrando finalmente sua identidade: a de um esportivo bem equipado, de visual futurista, feito para quem queria algo mais arrojado e ainda mais exclusivo que um Alfa Romeo 2300 Ti4 (o carro mais caro vendido no Brasil na época) e podia pagar ainda mais dinheiro por isto.

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Acontece que o Miura dos anos 1980 era, bem, um carro dos anos 1980. E produzido fora de série por um empresário do ramo de acessórios automotivos que, como muitos outros, decidiu tentar a sorte no ramo automotivo. Havia uma demanda real por carros caros e exclusivos, e a Besson Gobbi S/A, empresa gaúcha por trás do Miura, não mediu esforços para cumpri-la.

O vídeo abaixo traz uma breve reportagem a respeito do modelo 1989 do Miura Saga II, apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo de 1988. Dá para ver como era um carro “luxuoso e futurista” no fim dos anos 1980.

Os faróis escamoteáveis são só o começo. Nesta época, o Miura ainda tinha a barra de neon, mas esta agora ficava só na dianteira e (talvez felizmente) não aparece no vídeo. Ao entrar no carro, o representante da Miura começa a mostrar ao repórter tudo o que o carro tem. Para começar, o interior é imaculadamente branco: bancos, portas, carpete e tapetes, o painel de Ford Del Rey modificado e o volante dois raios exclusivo do modelo. Na porta do motorista havia até um compartimento para arma de fogo!

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Foto: MiuraClube.blogspot.com

Os grandes atrativos dos Miura sempre foram seus recursos tecnológicos inéditos em carros nacionais: ajuste elétrico da coluna de direção e dos bancos, retrovisor eletrocrômico, abertura das portas por controle remoto, sensor crepuscular para acionamento dos faróis e computador de bordo com sintetizador de voz. Era muito atraente e certamente impressionante para a época, mas nada era muito refinado — mesmo comparando com o que havia na época lá fora.

O ajuste elétrico do volante não é muito preciso, o encostro do banco descia mais rápido do que subia. O retrovisor fotocrômico exigia um ajuste prévio de fotossensibilidade, o controle remoto das portas era um enorme controle de portão eletrônico e os faróis escamoteáveis eram embutidos, apenas cobertos por uma tampa plástica. Por fim, havia o “sintetizador de voz” do computador de bordo, que dava ao motorista um total de sete alertas falados, como “amarre o cinto de segurança” e “abasteça o tanque de combustível”. Era uma voz pré gravada digitalizada e robótica (muito parecida com a de Ned Gerblansky do South Park) – e repare como o representante da Miura dá um belo “chega pra lá” quando o repórter apoia a mão no rádio, provavelmente para não interromper a demonstração dos alertas falados (por volta de 1:30 do vídeo).

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Foto: Antigos verde e amarelo

No caso deste Miura Saga, o motor é o mesmo AP 2.0 carburado usado no Santana da época. A Besson Gobbi anunciava a potência bruta do motor, de 125 cv, em uma estratégia para tornar seus números mais atraentes.

O Saga II foi produzido somente por outros dois anos, embora a Miura tenha lançado outros modelos novos depois deste, como o Top Sport e o X11. Os modelos mais recentes ganharam a injeção eletrônica Bosch usada no Gol GTi e o Santana e eram bastante modernos para a época. Mas nem mesmo a lista de equipamentos inigualável no mercado brasileiro foi suficiente para encarar a chegada dos importados em 1990.

Por ser um carro artesanal, seu custo de produção era elevado e sua qualidade de construção era inferior à dos importados industrializados. Entre pagar caro por um carro brasileiro e usar o mesmo dinheiro comprar um importado de prestígio, o público escolheu a segunda opção. Assim, a fabricante gaúcha só durou mais dois anos após a abertura das importações, encerrando sua produção em 1992.