O conceito de um esportivo com configuração mecânica, construção e proporções de supercarro, porém com o tamanho e a potência de um hot hatch, sempre me atraiu. Não um carro como o Lotus Elise – que também é fantástico, mas também é um tanto frugal e old school demais para o que estou dizendo. Algo como… o Alfa Romeo 4C.
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É realmente uma pena que o pequeno esportivo que a Alfa lançou em 2015 não tenha feito o sucesso projetado pela fabricante. Ele deveria ter sido o retorno triunfal da Alfa Romeo ao mercado norte-americano, e marcar a volta da empresa aos modelos de tração traseira em grande estilo. Ele acabou fazendo bastante barulho nos primeiros meses, mas acabou não sendo um grande sucesso, mesmo considerando o preço elevado – nos EUA, apenas 238 exemplares foram vendidos em 2018, para se ter ideia, representando uma queda de 42% em relação ao ano anterior. Assim, o cupê foi descontinuado e, por enquanto, toma-se como certo o fim da versão Spider depois de 2020. Muito dificilmente a Alfa Romeo colocará no mercado um sucessor.
Isto não quer dizer, de modo algum, que o Alfa Romeo 4C não seja um carro fantástico, do ponto de vista técnico. O pequeno esportivo de motor central-traseiro usa um monocoque de fibra de carbono com subchassis de alumínio na dianteira e na traseira, além da própria carroceria de fibra de carbono. Com isto, tem um peso seco de apenas 895 kg (ou 1.050 kg na versão norte-americana, que tem proteção extra contra impactos). O motor é um quatro-cilindros de 1,75 litro (exatos 1.742 cm³), turbinado, com 240 cv a 6.000 rpm e 35,7 kgfm de torque, e é moderado por uma caixa de dupla embreagem e seis marchas. O zero a 100 km/h é cumprido em 4,5 segundos, e a velocidade máxima é de 258 km/h – para um supercarro em miniatura, está ótimo.
Enfim, chega de enrolação – o caso é que uma empresa italiana conseguiu algo que parecia improvável: deixar o 4C ainda mais bacana. Uma pena que isto só tenha sido feito no fim da vida do carro.
O nome do projeto é Mole Construzione Artigianale 4C e, como deve ter ficado evidente, trata-se de um 4C construído artesanalmente por uma empresa italiana chamada Mole Automobili. O trabalho foi todo feito em parceria com a Adler Group, que é a empresa terceirzada pela Alfa para a construção do monocoque do 4C.
O trabalho do designer Umberto Palermo consistiu em mais do que uma mera atualização do 4C – ele pode ser encarado como um estudo para uma hipotética nova geração, usando de elementos estéticos comuns a outros modelos lançados pela Alfa Romeo depois do 4C, em especial o sedã Giulia e o SUV Stelvio. Isto fica evidente no desenho dos faróis, pequenos projetores alojados em aberturas de formato inspirado pela face do Giulia; e no cuore sportivo mais avantajado. Repare que, na verdade, a silhueta dos faróis é formada por um elemento vazado, que permite escoamento aerodinâmico, dando apenas a ilusão de uma peça integral.
A lateral também ganhou novas linhas, com vincos mais marcados, e o emblema da Alfa Romeo estilizado no espaço atrás das janelas. Já a traseira foi totalmente reformulada, trocando o tradicional para-brisa por um conjunto de cinco fendas – que dão um ar bem mais conceitual à área. Nas lanternas, foi conferido um tratamento semelhante ao que ocorreu nos faróis, com lentes menores e uma moldura aberta, com um formato semelhante ao usado pela Zagato em seus modelos mais recentes. O aspecto geral é mais imponente e limpo, nesta parte do carro.
Se parece que o carro ficou maior, é mais do que impressão: no total, o Mole Construzione Artigianale 001 é 30 cm mais longo que o 4C original, e 6 cm mais largo.
O interior também foi totalmente reformulado, adquirindo um desenho mais refinado e conceitual, com revestimento em couro bicolor marrom e preto, painel de instrumentos remodelado e saídas de ar reposicionadas. Ao que parece, o interior perdeu o rádio – ou seja, ficou ainda mais minimalista do que antes.
A ideia da Mole Automobiles, a princípio, era vender uma série limitada do Construzione Artigianale 001. Contudo, depois de apresentar o carro em um evento na cidade de Turim, no fim de 2018, e no Salão de Genebra há alguns meses, a empresa decidiu que ele permaneceria um one-off. O carro foi leiloado no final de maio pela RM Sotheby’s em Villa Erba, na Itália, por € 166.750 – o equivalente a pouco mais de R$ 730.000 em conversão direta.
A Alfa não vai dar um sucessor para o 4C – em vez disso, como revelado recentemente, o plano é lançar um supercarro híbrido de mais de 700 cv como sequência do belo (e incompreendido) 8C. Olhando para o Construzione Artigianale 001, porém, é inevitável ficar um pouco triste… só um pouco.
Sugestão do leitor Manoel Cintra