Bubble Gun Treffen, Encontro Brasileiro de Autos Antigos, Civic Nation, Encontro de Motociclistas, e claro, a XII edição do Mopar Nationals que você confere nesta página: cada vez mais, Águas de Lindóia se torna o grande pólo autoentusiasta do estado de São Paulo. Mas diferentemente do clássico encontro de antigos, o Mopar Nationals, organizado pelo Chrysler Clube do Brasil (o Mopar Clube de Jundiaí também organiza um evento anual de grande porte), não é realizado na Praça Adhemar de Barros, mas sim a um quilômetro dali, na Praça Dr. Vincente Rizzo, em frente ao Hotel Majestic.
O local forneceu uma experiência sensorial completa: perfume de gasolina podium, couro e curvim ao olfato, aos olhos uma explosão de cores capaz de causar convulsões a qualquer Corolla e a mais pura música mecânica para os ouvidos. Tudo isso também foi bacana para eu recarregar o espírito para com o meu interminável projeto Dart Games, atualmente interrompido (quem sabe no Mopar Nats de 2020 vocês poderão vê-lo), e para conhecer alguns de nossos leitores antigomobilistas. Obrigado pelas palavras de incentivo, pessoal!
O evento rolou entre sexta e domingo (28 a 30 de agosto) num clima ensolarado que variou de 11 a 31ºC e contou com cerca de 100 carros do grupo Chrysler, nacionais e importados, novos e antigos, originais e preparados. Estivemos por lá desde as primeiras horas da manhã do último dia, mas acabamos perdendo um punhado de clássicos que partiram no fim da tarde de sábado. Felizmente soubemos pelos presentes que a maior parte dos destaques permaneceu no domingo. Confira abaixo a nossa mega galeria do Mopar Nationals e não esqueça que as fotos são ampliáveis – é só clicar!
Chrysler do Brasil
Vamos começar nossa jornada com um dos carros mais raros já produzidos por aqui: o Dodge Dart SE 1975, com apenas 91 unidades produzidas. Foi o último ano da sóbria, esportiva e relativamente barata Special Edition, a porta de entrada para o mundo dos Dodge V8.
Esta unidade na cobiçada cor Amarelo Montego calça as famosas rodas Magnum 500 dos Dodge Charger R/T de entre 1971 e 1973, mas com os aros ampliados de 14″ para 15″ e alargados. O tecido xadrez, da mesma cor do carro desde os modelos de 1974, é um dos maiores desafios na restauração dos Dart SE.
Abaixo temos um Dodge Dart completamente caracterizado do modelo GTS 1969 norte-americano: adesivo tipo bumble bee e friso tipo “chapão” na traseira, flautas esportivas “340 Four Barrel” no capô, emblemas GTS, rodas Rallye com sobre-aros de borda reta, pneus de letrado branco, grade e lanternas equivalentes aos nossos Dodge V8 de entre 1969 e 1972. Até a cobertura do elemento do filtro de ar é a mesma do modelo norte-americano.
Podemos ver que algumas pimentinhas se fazem presentes: escape dimensionado, coletor de admissão Weiand e um carburador quadrijet podem ser apenas a ponta do iceberg…
O contraste de visual original com pneus e rodas maiores e customizadas ao estilo de época dão um discreto toque da bandidagem ao trio de Dart das fotos abaixo.
A partir de 1979, os Dart tiveram uma reestilização de dianteira e traseira que lhe renderam o apelido “bicudo”, caso do modelo bordô das fotos acima. Ao lado dele, um Dart 1973 preto calçando rodas Magnum era a maldade na forma de Dodge.
Abaixo, um Dart cupê 1971 com a grade de alumínio – “cara de lata” acabou virando o apelido da safra de entre 1969 e 1972, pois todos os Dart que vieram depois tinham a grade de plástico…
…caso do modelo abaixo, da geração 1975-1978, que apresentava o front end mais conservador e discreto de toda a linhagem. As rodas Rallye decoradas com calotas dog dish reforçam esta imagem.
Dodge Dart 1974 Verde Cordoba, calçando rodas Rallye similares às do Charger R/T do mesmo ano, com anéis decorativos e calotas centrais esportivas. Abaixo dele, um Dart De Luxo 1972 faz companhia a uma dupla de Dodge Polara.
Embora não sejam tão cobiçados quanto os cupês, os Dart Sedan (e sua variação luxuosa Gran Sedan) possuem o seu charme e apresentam uma grande vantagem estrutural: a presença da coluna “B”, que deixa o monobloco bem mais rígido. Nos EUA havia uma (quase inexplicável) versão sedã de duas portas, que concilia as vantagens de rigidez à torção do sedã com o peso reduzido do cupê, e por isso acabou sendo muito usada em provas de arrancada.
Falando em arrancada, que tal este Dart (provavelmente 1975) com pegada Drag Race? As patas traseiras são semi-slicks Mickey Thompson ET Street Radial 295/65 R15.
Os nossos Polara na verdade eram o Hillman Avenger com os emblemas da Dodge. Ele deu origem a um dos hot hatches mais nervosos da história: o Lotus Sunbeam. Nasceu no Brasil como Dodge 1800, ganhou o apelido de Dodginho, foi rebatizado como Polara em 1976 (alguns dizem que foi uma forma de melhorar a imagem do produto, que sofreu com problemas de controle de qualidade logo em seu início de ciclo) e permaneceu em produção até o fim da própria Chrysler do Brasil, em 1981, totalizando por volta de 93 mil unidades produzidas.
Com tração traseira, peso aproximado de 930 kg e entre-eixos de 2,49 m, o Dodge 1800/Polara é uma bela alternativa ao Chevette para um projeto enfant terrible…
Em 1979 a Chrysler do Brasil encontrava-se em plenos apuros devido à crise do petróleo e tentou trazer novos ares ao mercado com uma reestilização completa das linhas Charger e Dart e a introdução dos modelos Magnum e Le Baron, vertentes de luxo que usavam a mesma plataforma A-Body e os mesmos motores V8 5.2.
Dodge 100 e Dakota Sport: cerca de três décadas separam essas picapes, mas duas coisas conectam ambas – a cara da maldade e o motor 5.2 V8 (no caso, apenas nas Dakota R/T), da família LA na antiga e da família Magnum na última, uma evolução que incorporou injeção eletrônica, tuchos e comando roletados e cabeçotes completamente diferentes.
Agora, vamos aos Dodge Charger brasileiros, separados em ordem cronológica. Para começar com um soco na cara, vamos a este Charger “LS” 1971 que está na mesma família há mais de 40 anos. Esqueça o visual original: sob o capô este Mopar traz coisa séria. Motor 360 Magnum preparado com comando bravo, coletores de escape dimensionados, coletor de admissão Edelbrock Air Gap combinado a cabeçotes de alumínio da mesma marca, diferencial Dana com relação curta (3,90:1) e gordos pneus BF Goodrich calçando as rodas Magnum de aro negro, bem ao estilo dos R/T de 1971. A lata? Uma das mais lisas que já vimos.
Dupla de Dodge Charger: um brasileiro 1971 e um americano Charger 500, de 1970. Ambos compartilham o mesmo emblema, mas usam plataformas diferentes: o nosso é estruturado na A-Body, a mesma do Dart. O deles usa a maior e mais parruda B-Body, usada por uma série de modelos, como os Plymouth GTX e Fury e os Dodge Coronet e Monaco.
Em contraste ao Charger lá de cima, abaixo temos um legítimo survivor. Um Dodge Charger LS 1972 que jamais foi desmontado nem sofreu restauração parcial, mantendo toda a sua integridade de fábrica.
Em oposição ao LS de cima, o Charger R/T 1972 Branco Polar das fotos abaixo foi completamente restaurado ao nível concours, utilizando somente peças originais de estoque antigo da Chrysler do Brasil. Uma das únicas exceções são os pneus, que seguem o mesmo padrão dos originais de época: são os norte-americanos Goodyear Polyglas, diagonais, na medida E70 14. Eles são fabricados no Tennessee pela Coker Tire, sob licença da Goodyear.
Aqui temos uma dupla de Dodge Charger 1973: acima, um LS e abaixo um R/T. O primeiro possui algumas diferenças estéticas e de equipamentos, como a ausência de adereços esportivos (flautas no capô, faixas adesivas na lateral), bancos em jérsei em vez de couro, relógio substituindo o conta-giros do painel e motor azul, em vez de dourado, com 10 cv a menos (205 cv brutos), por conta de pistões com um ponto a menos na taxa de compressão.
O R/T 1975 Amarelo Montego é o carro que quase todo mundo visualiza quando pensa em Dodge Charger brasileiro. E não faltaram representantes: com rodas Rallye, com Magnum, todo restaurado, todo original… clique nas fotos abaixo e se esbalde!
A partir de 1976, a paleta de cores da Chrysler do Brasil começou a ficar cada vez mais sóbria. O volume de veículos brancos subiu, mas especialmente tons neutros (como o Bege Indiano e o Branco Madagascar) e metálicos, como o Castanho Araguaia, Prata Monterey, Verde Jade e Azul Capri, dominaram o mercado. Abaixo temos um Dodge Charger R/T 1976 Castanho Araguaia e um R/T 1977 Marrom Iguaçu.
O Vermelho Riviera era uma das poucas cores de alto impacto na paleta de 1977 da Chrysler. Abaixo temos um cofre bastante fiel ao padrão de fábrica.
Em 1977 surgiu pela primeira vez a opção de teto e interior bordô para os Dodge Charger. Na sequência temos os Charger R/T nas cores Prata Monterey e Branco Valência, ambos com este raro acabamento no padrão original.
Em 1978 o Dodge Charger adotou um visual bem mais conservador, com meio-teto de vinil (popularmente conhecido como “Las Vegas”, em referência ao Opala) e faixas adesivas bem ao estilo dos SUVs norte-americanos. A faixa mais grossa representa a cor do do teto de vinil e a mais fina, a cor do interior do veículo.
Uma das coisas mais bacanas deste Mopar Nationals foi a oportunidade de encontrar Reinaldo Silveira, dono do Dodge Charger R/T 1972 Branco Polar “LMS” – sim, o Project Cars número 28. É um carro com uma história maravilhosa (se você ainda não leu, devore seus quatro textos clicando aqui agora mesmo!) e que ficou nada menos que espetacular.
Ficamos realizados sempre que percebemos como a participação calorosa dos leitores no Project Cars ajuda a manter a chama acesa para quem está tocando seus projetos e de ver como ele também incentiva mais gente a descobrir este universo da restauração, da preparação ou da customização. É uma energia importante especialmente nos momentos de dificuldade – que sabemos, são muitos. Durante este brevíssimo ensaio que realizamos no meio do evento, um leitor fez questão de cumprimentar Reinaldo pela história que leu no site, tirando foto com o carro e tudo o mais. Para nós, nada menos que a felicidade de testemunhar isso.
American Muscle
Que tal um Dodge Super Bee 1970 big block (383) para começar a série dos Mopar norte-americanos?
O Super Bee era um derivado de alta performance e (relativo) baixo custo do Dodge Coronet, compartilhando o mesmo espírito, arquitetura e base mecânica do Plymouth Roadrunner. Ambos eram estruturadas na plataforma B-Body da Chrysler, que ganhou fama mundial com o cara aí embaixo: o primeiro ano da segunda geração do Dodge Charger – 1968. Abaixo dele, um raríssimo Dodge Charger 500 1970, um Charger SE da geração 1971-1974 e um sedã dos modelos mais novos.
Para os norte-americanos, o nome Dodge Polara significa uma coisa bem diferente da nossa: trata-se do nome deste baita full-size, baseado na plataforma C-Body, ainda maior do que a do Charger americano – seu entre-eixos media abismais três metros! Por lá, o nome nasceu em 1960 e foi aposentado em 1973, quando foi substituído de vez pelo Monaco, com o qual ele já apresentava sobreposição de posicionamento. Ao longo de suas quatro gerações, houve carrocerias do tipo cupê, sedã, conversível e perua.
O modelo das fotos a seguir é de 1965 e pertence à terceira geração: nesta época, o menor motor do Polara era o V8 5.2 (318). Todos os outros eram big block: 383, 413, 426 (Wedge, não o Hemi), 440.
Outro representante da plataforma full-size C-Body eram os Chrysler 300. Abaixo, temos um modelo de 1967. Este sedã só tinha opções big block no cardápio: 383, 413 ou 426 Wedge.
Ao lado dele, outro exemplar do Chrysler Three-Hundred, desta vez um cupê 1968. Note a quantidade de lata que existe para trás da porta dianteira. O design deste ano em específico é um espetáculo, misturando elementos mais clássicos do começo da década com a agressividade da cultura dos muscle cars.
Minivan Dodge B-Series, em sua vertente para passageiros Sportsman Royal (a de carga era conhecida como Tradesman). Era estruturada na mesma plataforma do Dodge Charger, com opções de motores seis cilindros e V8 – 318, 360, 400 e, pasmem, 440. Sua configuração de bancos permitia não só que os dianteiros girassem em torno de seu próprio eixo como também que as duas fileiras de trás fossem deitadas em 180º perfeitos, formando uma enorme cama de casal. O que ajuda a explicar o sucesso entre os jovens universitários nas décadas de 1970 e 1980…
Entre 1981 e 1983, o Chrysler Imperial de sexta geração ganhou uma série limitada mais que especial: a FS, com as inicias de Frank Sinatra. Com apenas 271 unidades fabricadas somente na cor azul Glacier Blue Crystal – de acordo com a fabricante, a cor dos olhos de Sinatra –, ele também era identificado pelos logos “fs” na carroceria e pela plaqueta “Frank Sinatra Signature Edition” na tampa do porta-luvas. O modelo acompanhava uma pequena maleta da Mark Cross – marca especializada em artigos de luxo feitos de couro –, que trazia 16 fitas cassete com gravações de Sinatra.
Em 1970 o Plymouth Barracuda estreou a nova plataforma esportiva E-Body. Entre várias novidades em termos de versões e motorizações (nossa favorita era a veloz e dinâmica AAR, dedicada à investida da Chrysler na categoria Trans Am), uma delas era a Gran Coupé, que trazia bancos de couro com desenho mais luxuoso, console de teto com avisos luminosos de combustível baixo e de portas abertas, frisos simulando madeira nos painéis de porta, frisos nas caixas de roda e pintura no painel traseiro em cinza claro. A pintura marrom caiu como uma luva nesta vertente luxuosa e pra lá de esperta: sob o capô temos um big block 383!
Para começar a reta final desta nossa cobertura, um quatrilho de E-Bodies em cores de alto impacto para arrebentar a boca do balão: ‘Cudas e Challengers! Dica: a dupla amarela de Challenger 1970 e Cuda 1973 está à venda, por R$ 250 mil cada. Interessados contatem a Junk Station, empresa focada na importação e restauração de veículos antigos, dos nossos amigos da America Parts.