Brescia, Itália. 2015. O que um dia fora um monastério, hoje abriga um museu de uma das mais famosas competições de todos os tempos, a lendária Mille Miglia, uma corrida de 1.600 km pelas estradas da Itália realizada entre 1927 e 1957. Fundado em 10 de novembro de 2004 pelo automóvel clube da Brescia, o Museo Mille Miglia conta com aproximadamente 200 veículos de vários membros do clube.
O antigo monastério Santa Eufemia está bem preservado e possui um forte apreço arquitetônico e arqueológico, o que valoriza o museu, unindo diferentes períodos da história. Foi fabuloso poder visitar este lugar e perceber a importância de manter a história da Mille Miglia viva para turistas e entusiastas do antigomobilismo. É possível encontrar vasto material de pesquisa sobre a competição. O museu conta com um acervo de aproximadamente 130.000 documentos entre fotos, jornais, revistas e anotações da época, pilotos, escuderias (1927 a 1957 e de 1958 a 1961). O mais bacana de tudo isso é que, qualquer “doente” por automobilismo pode consultar estes arquivos! Foram todos digitalizados e você só precisa entrar em contato com eles para ter acesso ao acervo histórico.
Os carros estão organizados por ordem cronológica, primeiramente os de 1927 a 1957, 1958 a 1961 e um pequeno espaço para contemporâneos. Ao longo do percurso são mostrados os veículos dos colecionadores, que são periodicamente substituídos. Sempre caminhando sobre uma extensa via vermelha, simbolizando a famosa “flecha vermelha”. Também é aqui que são organizadas as reuniões de organização dos eventos, encontros e competições.
Desta vez, aluguei um carro e fui diretamente ao museu. Parti de Bergamo e percorri cerca de 60km, aproximadamente 45 minutos até o local. A entrada custou $ 7.00 euros e para minha sorte, não havia mais ninguém visitando o museu.
Honestamente, eu admiro muito quem praticou este esporte!
Lindo painel com todos os pilotos e carros vencedores de 1927 até 1957.
E aqui começa nossa visita! Não somente carros, mas também haviam manequins representando roupas de época, tanto masculinas quanto femininas, retratando o cotidiano de quem era piloto e de quem ia assistir as competições.
Este Aston Martin é o 7º carro oficial dos 18 construídos para participar das 24 Horas de Le Mans de 1931. Tem motor 1.5 de quatro cilindros e 80 cv. Sua velocidade máxima é de 160km/h Aqui é possível constatar como a indústria automobilística e a aeronáutica estreitaram suas relações, tamanha quantidade de relógios e interruptores.
Esta “Maserati” tem motor Alfa de 6 cilindros e velocidade máxima de 240km/h. O carro foi adquirido pelo seu piloto e mecânico Roman Placido Prete, um pouco antes da Segunda Guerra. Prete pagou muito barato por tê-lo comprado com motor fundido.
Alfa Maserati Prete
Não conseguindo arrumar o motor original, fez algumas modificações em um motor Alfa 2300cc que já tinha e claro, adaptou neste carro para correr. Com o trabalho, passou para 2500cc conseguindo 200Hp. Participou de diversas competições de 1947 a 53. Seu melhor resultado foi um modesto 3º lugar na Targa Florio de 1949.
Repare na carroceria de alumínio toda modelada à mão.
Este Bentley tem motor de quatro cilindros de 175 cv e pesa 2.400 kg!
Que tal este Riley? Carroceria toda de alumínio. Já ouviu falar sobre câmbios automáticos na década de 1930?
Este simpático senhor abaixo é um Cisitalia 202 SC de 1950, desenhado por Pininfarina, ele tem motor quatro-cilindros de 1.089 cm³ e 60 cv sua velocidade máxima era de 160km/h.
A primeira impressão é de que tem alguma coisa errada, mas não há. Os faróis deste Fiat 1947 ficam escondidos atrás da grade dianteira. Pesando somente 460 kg e com 72 cv produzidos por seu quatr-cilindros de 1.089 cm³ com dois carburadores duplos, ele chegava a 135km/h de velocidade final.
Eu confesso que fiquei bastante surpreso com marcas de carro que nunca havia lido antes. Como conhecedor de carros americanos, tudo isso foi novidade para mim. Este Moretti tem apenas 750 cm³ e produz 75 cv para chegar aos 140km/h.
Eu gostei desse carro, quando vi o interior então… Acima do câmbio, que já fica perto do volante, estava o distribuidor e uma parte da tampa de válvulas. Como em sua grande maioria os mecânicos também eram os pilotos, nada melhor do que juntar o útil ao agradável, regulando o ponto do carro dentro do carro, juntando design e usabilidade. Fantástico puro sangue!
Pausa para uma geral. No teto é possível acompanhar a história, também em ordem cronológica, propagandas de época e fotografias das antigas competições.
Outra descoberta foi este Fiat S MM Gobbone 1948. Seu motor de 1.089 cm³ produz apenas 51 cv, mas a final é de 155 km/h.
Outro espécime que não conhecia é o Siata Daina Grand Sport 1500. São 900 kg com um motor de 76 cv e 140km/h de velocidade máxima. Nada mau para os padrões de 1952.
Ao lado deste carro abaixo dizia: “Esemplare Unico”. Trata-se de um Zanussi Fiat Fontebasso Sport 1948, com motor quatro-cilindros de 750 cm³ e 50 cv e velocidade máxima de 130km/h — com 480Kg a relação peso/potência era de apenas 9,6 kg/cv. As linhas exóticas são uma atração à parte.
Este Ermini 357 Sport foi fabricado em 1955, e tem 70 cv. Mais impressionante é a velocidade máxima de 180 km/h de velocidade final. Mais um belo e raríssimo exemplar.
Em seu interior, tudo que um carro esporte deve ter!
Este Fiat de 1937 tinha um motor de apenas 712 cm³, mas pesava somente 320 kg, e por isso chegava aos 130 km/h.
Cisitalia 202 coupe Mille Miglia 1949
Este é um Fiav 8V Berlinetta “Ottovù”. Apesar do nome remeter a oito válvulas (ou oito volts…), trata-se de uma nomenclatura diferente para o motor V8 que está em seu cofre.
O modelo não pôde usar o nome V8 pois ele estava registrado para a Ford, daí a Fiat decidiu inverter a ordem da letra e número. O “ottovù” (oito-vê, em italiano) tem 105 cv e pode levar o Fiat a 190km/h de velocidade final. Como a maioria dos outros carros da tinham motores de quatro cilindros, o “Ottovù” era um carro bastante exclusivo, e um modelo nitidamente voltado aos clientes que procuravam algo mais luxuoso.
Carlo Bonera, o dono da colezione abaixo, foi um empresário dono de uma revenda Mercedes Benz em Brescia, e um grande entusiasta da marca. Tanto que possui uma belíssima coleção das raras flechas de prata. Mercedes 300 SL de 1955 a chamada “asa de gaivota” outra de 1957 conversível também 300 SL.
Abaixo a rara Mercedes 300S/Ca, W 188 1 de 1952. Foram produzidas apenas 560 unidades.
Esta linda Alfa Romeo 1900C Super Sprint 1956 chegava aos 180km/h com seu motor 1.9 de 115 cv produzidos com ajuda da carburação dupla Solex.
Ali ao lado estava nada menos que um Lotus 11 Le Mans, 1957. Seu motor Coventry-Climax de 1.098 cm³ produzia 100 cv, mas como só carregava 412 kg, o “ultraleve” de Colin Chapman chegava aos 230 km/h.
Não havia muitas informações sobre este Bandini, abaixo. É um 750 Sport “Saponetta” que usava um motor Bandini Crosley de 747 cm³ com 71 cv. Como era leve, apenas 340 kg, podia chegar aos 180 km/h! Participou da prova de 1957 da Mille Miglia, e o interior é fantástico!
Aqui está o Bugatti T35A 1926, mais conhecido como Tecla. O carro usava um 2.0 de oito cilindros em linha, com três válvulas por cilindro e 90 cv. O modelo disputou a primeira edição da Mille Miglia, em 1927 e até hoje participa das edições históricas.
Além desses ilustres desconhecidos, havia também outros carros mais famosos, como o Porsche Carrera 1956, o Alfa Romeo Giulietta 1955, um exemplar do AC Ace (o roadster-base do Shelby Cobra) e um simpático Fiat 750 Zagato 1957.
Bom pessoal, esta foi a minha “volta rápida” pelos museus da velocidade aqui do velho continente. Espero que tenham gostado da matéria e em breve espero voltar com mais uma dose para vocês!
Abraços!