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Car Culture

O Aston Martin original de James Bond pode ter sido encontrado depois de 20 anos desaparecido

No último dia 12 de julho, um Aston Martin DB5 original dos filmes de James Bond foi leiloado durante o Festival of Speed em Goodwood. O carro apareceu nas cenas iniciais de “007 Contra Goldeneye” (Goldeneye – 1995), na famosa perseguição à Ferrari F355 da vilã Xenia Onatopp e foi arrematado por 1,9 milhão de libras esterlinas, algo próximo dos R$ 9,5 milhões. Apesar do valor impressionante para um carro com mais de 1.000 unidades produzidas, este não é o DB5 mais valioso e muito menos “o” Aston Martin original de James Bond.

Como dissemos ao contar a história da linhagem DB, o Aston Martin original de James Bond é, na verdade, o DB Mark III, ou DB3, conforme o livro “Goldfinger” de Ian Fleming. Contudo, na hora de transformar a novela em filme, o DB3 já estava fora de linha havia quase dez anos, e por esse motivo o DB5 acabou se tornando o carro de James Bond no cinema.

Na gravação de “007 Contra Goldfinger” (Goldfinger – 1964) a Aston Martin forneceu dois carros à Eon Productions (produtora da franquia até hoje): o protótipo original do DB5, usado em cenas “normais”, e um modelo de série usado nas cenas de ação. Ambos foram usados por Sean Connery, o James Bond “original”, mas o carro das cenas de ação é o mais valioso de todos os DB5 do agente secreto, mesmo tendo sido comprado por apenas US$ 250.000. Como isso é possível? Bem.. este valor foi pago há 32 anos. E o carro está desaparecido há 21 anos.

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Depois de ser usado nas gravações de Goldfinger, o carro foi vendido ao colecionador Richard Losee diretamente da Aston Martin por US$ 12.000 (cerca de US$ 95.000 em 2018). Losee manteve o carro até 1986, quando o vendeu a outro colecionador chamado Anthony Pugliese III, que guardou o carro em um hangar no aeroporto de Boca Ratón, na Flórida. Foi neste hangar que o carro passou os 11 anos seguintes. Mas ele não saiu de lá porque Pugliese decidiu usá-lo com mais frequência ou vender o carro. Ele foi arrancado do hangar por ladrões, em uma operação digna dos filmes de espionagem — uma daquelas situações curiosas em que a vida imita a arte. 

O roubo foi mesmo uma ação de cinema: nenhum alarme disparou, nenhum guarda desconfiou, nenhum outro veículo foi tocado ou movido ou danificado e nenhuma evidência da invasão e da remoção do carro foi deixada. Como explicaram os investigadores de polícia na época (e como bem sabemos hoje em dia), esse tipo de roubo é feito por encomenda. Assim, tudo o que restou do carro foram marcas de pneu no piso do hangar. Nenhum vidro foi quebrado e, pelo tempo da operação, é provável que nem mesmo arrombado o carro fora.

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Na época a polícia trabalhou com a hipótese de que o carro tivesse sido arrastado para fora do hangar por um caminhão, usando uma corrente enrolada ao eixo traseiro do carro, mas o único carro visto na região naquela noite foi um Range Rover verde de um morador do bairro. Um SUV britânico como aquele dos vilões modernos de James Bond. Um coincidência curiosa em um fato ocorrido nos EUA.

 

O caso foi arquivado como não-solucionado, o que gerou uma série de especulações e lendas urbanas. Uma delas diz que o carro foi jogado no mar enquanto era transportado sobre as Florida Keys, e nas profundezas das águas cristalinas permanece até hoje. A história soa tão absurda que até impressiona que tenha se tornado tão popular. Afinal, quem gastaria uma fortuna para cometer um crime perfeito apenas para descartar um carro com potencial para custar milhões de dólares?

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Aliás, na época do roubo Anthony Pugliese III estava iniciando o processo de avaliação do carro. Tendo passado dez anos guardado e com o antigomobilismo ganhando força e popularizando seu status de investimento, poderia ser uma boa hora de recuperar o valor investido e faturar algo.

Nos últimos 20 anos os entusiastas do personagem de Ian Fleming e da Aston Martin especularam a possível localização do carro e acreditava-se que o carro estaria no Oriente Médio. Agora, porém, o mistério pode estar perto do fim: uma empresa especializada em localizar obras de arte e objetos colecionáveis roubados chamada Art Recovery International recebeu uma pista sobre o carro, e já está muito perto de encontrá-lo.

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Caso isso se concretize, é provável que Pugliese acabe vendendo o carro para minimizar suas dívidas, que ultrapassam os US$ 40 milhões. Agente imobiliário, ele foi processado por falsificar notas de serviço e condenado a pagar US$ 23 milhões à vítima, dos quais ainda restam US$ 13 milhões em débito. O valor do Aston é estimado em mais de 10 milhões de libras esterlinas — coincidentemente US$ 13 milhões ou R$ 50 milhões.

O outro carro usado em Goldfinger, conhecido como “road car”, foi vendido em outubro de 2010 por um valor bem menos suntuoso: US$ 4,1 milhões. Havia ainda dois carros usados para fins promocionais: um deles está em uma coleção particular e foi vendido por US$ 2,1 milhões em 2006, e o outro está no Museu Louwman em Haia, na Holanda.