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Car Culture

O “carro mais caro do Brasil”: todos os detalhes do Pagani Utopia

O Brasil voltou a ter um Pagani em suas ruas depois de quase 15 anos. Caso você não lembre, foi no começo dos anos 2010 que a extinta Platinuss trouxe três exemplares do Zonda ao Brasil — que logo depois foram vendidos para o exterior. Houve ainda um Zonda rodando no Brasil durante uma das edições do Dream Route, mas o carro era de um proprietário paraguaio. Agora, em pleno 2025, o Brasil voltou a receber não um, mas dois modelos Pagani, embora um deles tenha entrado por importação temporária para disputar a GT Series Cup. O outro ficará por aqui.

Os dois Pagani em questão são o Huayra R Evo e o Pagani Utopia. O primeiro é o que veio temporariamente e terá de ser levado de volta ao seu país de origem. O Utopia, contudo, veio para ficar, o que significa não apenas que ele é o carro mais caro do Brasil — há quem fale em R$ 60.000.000, o que coloca o preço original dele na casa dos US$ 4.500.000. O preço base do Utopia coupé é US$ 3.400.000, mas um proprietário mais animado com o programa de customização pode tornar o valor do carro muito mais alto.

A chegada do Utopia ao Brasil também significa que entramos no mapa dos hipercarros, considerando que há ao menos duas LaFerrari, uma Ferrari SP3 Daytona e um Bugatti Chiron — além dos Porsche 918, 935 e Carrera GT.

A unidade do Utopia que chegou ao Brasil é a 17/99, customizada com as cores branco “Benny Bianco Gloss” e azul “Blu Danubio Gloss”, rodas aeroblade com pinças vermelhas e revestimento interno de Alcantara cinza escura, couro Malevic e mais fibra de carbono exposta — uma combinação que não foi repetida em nenhum outro exemplar do Utopia.

O nome, aliás, é sugestivo — especialmente em 2025. Soa como uma utopia que se materializou — ainda que para apenas 99 pessoas. Honrando sua origem italiana, pense no carro como um monumento artístico sobre rodas, esculpido com titânio, fibra de carbono e o tipo de obsessão que só Horacio Pagani consegue transformar em algo viável. Apresentado em 2022 como sucessor do Huayra, o Utopia dispensa ou a eletrificação e abraçou a combustão, ignorando as tendências e provando que ouvir o que os clientes querem ainda é a coisa mais importante na hora de se projetar um carro.

Como em todo Pagani, o cofre central-traseiro tem um V12 da Mercedes-AMG, aqui o 6.0 biturbo de 864 cv a 6.000 rpm e nada menos que 112,2 kgfm de torque entre 2.800 rpm e 5.900 rpm. Nada disso, contudo, valeria a pena sem um câmbio à altura. Por isso, o Utopia oferece uma escolha rebelde para os tempos atuais: um câmbio manual de sete marchas, cortesia da Xtrac. Sim, um hipercarro manual. Se o pedal da embreagem te assusta, há a opção de uma transmissão manual automatizada de sete marchas, que Pagani afirma ser a mais rápida do tipo com engrenagens helicoidais. Este exemplar “brasileiro” usa a versão automatizada sequencial.

O monocoque do Utopia é uma ode à obsessão por materiais exóticos, combinando Carbo-Titanium HP62 G2 e Carbo-Triax HP62, compósitos proprietários da Pagani (lembre-se que Horácio Pagani é um dos pioneiros da fibra de carbono em supercarros), enquanto os subchassis dianteiro e traseiro são feitos de aço.

O Carbo-Titanium HP62 G2 é um compósito que combina fibra de carbono e fios de titânio trançados, resultando em um material extremamente rígido e resistente, mas surpreendentemente leve. A presença do titânio melhora a resistência ao impacto e a flexibilidade do monocoque, reduzindo o risco de fraturas estruturais sob alta carga.

O Carbo-Triax HP62 é uma evolução da fibra de carbono tradicional, projetado com uma trama de três direções (triaxial), aumentando a resistência à torção e melhorando a distribuição de forças ao longo da estrutura. Isso garante que o chassi do Utopia seja não apenas rígido, mas também otimizado para maximizar a performance e a segurança sem adicionar peso.

O resultado são menos de 1.280 kg — número que, para um hipercarro V12 biturbo, é quase miraculoso. Um detalhe que ajuda nesse feito é o escapamento de titânio com revestimento cerâmico, que pesa apenas 6 kg, o volante esculpido em alumínio, de apenas 1,7 kg, e as rodas, também esculpidas em alumínio forjado, que pesam apenas 7,2 kg na dianteira e 8,1 kg na traseira, apesar de terem 21 polegadas na dianteira e 22 polegadas na traseira — o tipo de coisa que faz um engenheiro perder noites de sono e os compradores perderem milhões de dólares com um sorriso no rosto.

As rodas calçam pneus Pirelli P Zero Corsa que foram desenvolvidos especialmente para ele — a silhueta do Utopia está gravada na lateral dos pneus. Os freios usam pinças de seis pistões na dianteira, quatro pistões na traseira, e discos de carbono-cerâmica nas quatro rodas.

O interior é minimalista — na Pagani, isso significa eliminar telas e manter tudo analógico. Sim, no mundo dos hipercarros digitalizados, o Utopia traz instrumentos de ponteiros, botões usinados e ergonomia voltada à direção, sem distrações tecnológicas. O painel é um espetáculo por si só, com detalhes em alumínio sólido, couro  e fibra de carbono.

Um carro batizado com o nome de algo inalcançável, mas que existe — para um grupo seleto de afortunados. Ele é uma rebeldia contra a eletrificação, contra a pasteurização dos esportivos modernos e ainda assim vai de zero a 100 km/h na casa dos 3 segundos, chega aos 350 km/h como qualquer supercarro atual estufado de eletrônica.

Quanto tempo ele ficará no Brasil é difícil saber. Os europeus e americanos são autorizados a importar carros usados e nenhum Pagani feito até hoje jamais desvalorizou — pelo contário: os Zonda já estão entre os carros mais caros do Século XXI, como vimos nos leilões mais recentes. Apesar da exclusividade, é difícil resistir a uma valorização desproporcional e inesperada, especialmente quando ela vem na forma de uma transferência bancária em dólares.

Mas… como aconteceu na década passada, o Pagani do momento está no Brasil e está acelerando, como foi projetado para fazer. Não pensemos no futuro. Vamos aproveitar o momento em que um dos supercarros mais especiais já feitos circula entre nós — algo que parecia utópico, mas aconteceu.