Nos primeiros 20 anos do Corvette, a GM fez das versões especiais do seu esportivo uma forma de driblar a proibição do envolvimento direto das fabricantes com o automobilismo, imposta por um acordo entre as próprias fabricantes nos anos 1950. Sim, a GM fez um acordo de cavalheiros e mandou o cavalheirismo para o espaço logo em seguida — sem perder a pose, claro.
A ideia era simples: o pessoal da divisão do Corvette (Zora Arkus-Duntov e sua turma) desenvolvia a receita ideal para as pistas e depois usava o sistema de pedidos especiais, criado para personalizar carros para frotas e agências estatais, para oferecer o Vette às equipes. Teoricamente era apenas um pacote opcional disponível, e não um carro desenvolvido pela GM para as pistas. Questionável, claro, mas foi assim que as primeiras gerações do Vette ganharam as versões especiais que ajudaram o Corvette a se tornar uma lenda nas pistas e nas ruas.
Na terceira geração, especialmente depois da crise do petróleo de 1973, quando a gasolina ficou cara e os esportivos foram amansados, a GM descobriu uma nova receita para fazer grana com o Vette, sem precisar apelar ao desempenho — algo que ele não tinha de sobra na época: séries especiais para colecionadores. Transformar um Corvette comum em algo especial pela raridade se tornou um bom negócio, que acabou repetido dali em diante e também marcou as versões especiais do Corvette de quarta geração.
As versões de alto desempenho, por sua vez, deixaram de ser “especiais” para equipes de corrida e se tornaram séries limitadas voltadas ao público. Foram apenas três nesta quarta geração, porém elas foram importantes porque deram origem às atuais versões regulares de alto desempenho, como você verá a seguir.
Corvette Indy 500 Pace Car 1986
A quarta geração do Corvette chegou ao mercado em 1984, depois de ser apresentada no ano anterior — há um único Corvette 1983; todos os demais são feitos a partir de 1984. Como na geração anterior, esta nova teve um design evolutivo, como se diz hoje, mantendo os traços mais marcantes da identidade do carro, porém com um estilo atualizado, condizente com as tendências da época.
A principal diferença, era a ausência de uma versão conversível — uma ausência justificada, afinal, a GM havia tirado o conversível de linha em 1977 devido à queda da demanda, mantendo apenas a versão targa, com a porção central do teto removível, apenas. Quando a quarta geração foi lançada, a alternativa ao cupê fechado era, novamente, o “targa top”.
A GM, contudo, vinha monitorando a demanda por um Corvette conversível em pesquisas de opinião com os consumidores. Havia a possibilidade de voltar a oferecê-lo e a fabricante encontrou a oportunidade perfeita em 1986, quando colocou o Corvette para ser o Pace Car da 500 Milhas de Indianápolis daquele ano. E ela decidiu que o Corvette perfeito para isso seria o novo conversível.
Aquela era a primeira vez que o Corvette conversível seria feito pela própria GM, com um monobloco desenvolvido para ser conversível — os Corvette das duas gerações anteriores eram convertidos a partir dos cupês, e tinham baixa rigidez estrutural. Desta vez o Corvette conversível seria feito pela GM com um monobloco reforçado por um elemento estrutural cruzado (X brace) no monobloco.
Para faturar uma grana extra e aumentar o valor percebido do Corvette, a GM novamente fez uma série limitada de réplicas do Pace Car da Indy 500, como fizera em 1978. E diferentemente do que aconteceu em 1978, ela foi radical na identificação dos carros para evitar reproduções de fundo de quintal baseadas em um Corvette qualquer: todos os Corvette conversíveis de 1986 são réplicas do Indy 500 Pace Car.
O problema é que quando tudo é especial, nada é especial. E foi exatamente o que aconteceu com o Vette Pace Car 1986: a demanda reprimida por um Corvette conversível fez daquele ano um dos mais populares para o modelo. Foram vendidas nada menos que 7.315 unidades, 21% da produção anual do Corvette. E todos eram “versões especiais”, com os adesivos “Official Indianapolis 500 Pace Car”. Mesmo os que não fossem amarelos como o Pace Car oficial.
Como os adesivos não vinham colados na carroceria (eles eram entregues ao comprador, que poderia optar por colar ou não), os Pace Cars 1986 são idênticos aos conversíveis dos anos posteriores. Todos eram equipados com o motor L98 de 350 pol³ (5,7 litros) e 230 hp, com bloco de ferro fundido e cabeçotes de alumínio.
Não havia nenhum emblema especial (exceto uma pequena medalha no painel do ar-condicionado), nem acabamento interno ou rodas exclusivas. Sem nenhum elemento de diferenciação prática, os Pace Cars de 1986 se tornaram a série especial menos valorizada do Corvette, embora os 732 conversíveis amarelos — que são as “legítimas” réplicas do Pace Car — são os mais valiosos por serem idênticos ao Pace Car oficial.
Corvette 35th Anniversary Edition
Dois anos depois do Pace Car, a GM lançou a segunda versão especial do Vette C4: a edição comemorativa dos 35 anos do esportivo. Ela foi a primeira edição especial do Corvette feita do jeito certo. Sim, porque os anteriores não eram limitados, ou não tinham detalhes exclusivos. Desta vez foi diferente.
Para começar, o Corvette de 35 anos tinha uma combinação de cores exclusiva, a chamada “triple white” pois tinha carroceria branca, com interior branco (bancos, volante e painéis de porta) e rodas brancas. Depois, ele tinha emblemas comemorativos nas laterais e no console central, bancos com ajuste elétrico, ar-condicionado automático, sistema de áudio Bose, retrovisores com desembaçador e porção central do teto feita de vidro.
Sob o longo capô, o clássico V8 350/5.7, agora em sua terceira geração, com a famosa “tuned port injection” (injeção eletrônica no coletor) e um acerto exclusivo da versão, que resultava em 245 hp — 15 hp a mais que os demais Corvette.
A GM planejou fazer apenas 2.000 exemplares, que eram identificados pelo código RPO Z01. O carro foi apresentado no Salão de Nova York de 1988 e esgotou quase que imediatamente, o que levou a GM a produzir mais 50 exemplares,
Corvette ZR1
Percebeu que, depois da crise do petróleo não houve mais Corvettes de alto desempenho? Pois é… isso incomodou também Dave McLellan, engenheiro-chefe do Corvette na época, que decidiu fazer a versão de alto desempenho que o Corvette já não tinha desde o início dos anos 1970. E para isso, ele contou com uma pequena ajuda da Lotus, que na época pertencia à GM.
O projeto começou com um novo motor baseado na arquitetura small block da Chevrolet, então em sua terceira geração. A Lotus fez um 350/5.7 como se esperava em um Corvette, porém em vez de um arranjo de bloco de ferro com cabeçotes de alumínio como nos L98 da época, neste especial, o motor era todo de alumínio e até mesmo as dimensões internas eram diferentes — o L98 tinha diâmetro e curso de 102 mm x 88 mm, enquanto este novo motor tinha 99 mm x 93 mm.
A mudança mais radical, porém, foi no trem-de-válvulas: comando duplo nos cabeçotes e quatro válvulas por cilindro. Era um projeto muito mais sofisticado, que distribuía melhor o rendimento do motor ao longo da faixa de rotações. O motor ainda era equipado com um coletor de admissão desenvolvido pela Lotus e alimentado por um sistema de injeção sequencial com 16 injetores. Era um motor tão diferente dos demais que recebeu um novo nome: LT5.
O LT5 entregava 380 cv a 6.000 rpm e 51,1 kgfm de torque a 4.800 rpm, suficientes para que o carro chegasse aos 100 km/h em 4,6 segundos, embora alguns testes tenham registrado 4,2 segundos. A velocidade máxima era de 290 km/h — não era o carro mais rápido do mundo, mas para ser mais rápido que um Corvette ZR-1 em 1990 era preciso ter uma Ferrari Testarossa ou um Lamborghini Countach.
O carro foi lançado em 1990, e era tão radical que tinha até uma “chave do manobrista”, que limitava a potência do carro a 200 cv. Em 1993, com mudanças no perfil dos comandos de válvulas, polimento nos dutos e um novo sistema de escape, a potência passou a 410 cv, que agora apareciam mais cedo, às 5.800 rpm; e 53,2 kgfm às mesmas 4.800 rpm.
Com isso, a aceleração baixou para quatro segundos, e a velocidade máxima se manteve em cerca de 290 km/h. O ZR1 foi produzido até 1995, quando a quinta geração do Corvette entrou na fase final de desenvolvimento. A partir dela, o ZR1 deixou de ser uma versão especial para se tornar uma versão regular, lançada em cada um das gerações do Vette desde então.
Corvette 40th Anniversary ZR-1
O Vette ZR1 também deu origem a uma outra série especial: o modelo comemorativo de 40 anos do Corvette, batizado “40th Anniversary ZR1”. Sendo uma edição especial de uma edição especial, ele é um dos mais raros de sua espécie, com apenas 250 unidades produzidas em 1993, o único ano em que foi oferecido — afinal, foi só em 1993 que o Corvette fez 40 anos. Para comprá-lo, era preciso selecionar o pacote Z25 do pacote ZR1.
Como vimos acima, 1993 foi o ano da introdução do motor LT5 de 410 cv, então foi ele quem equipou os 250 Corvette 40th Anniversary ZR-1. Todos foram pintados de vermelho rubi metálico, e tinham bancos de couro vermelho rubi — uma combinação exclusiva do modelo de aniversário.
Todo o restante — equipamentos e acessórios — não eram oferecidos em pacotes, mas como opcionais avulsos, então era possível equipar o carro com absolutamente tudo o que a GM oferecia para o Corvette, incluindo um sistema “keyless” primitivo.
Corvette Indianapolis 500 Pace Car
Em 1995 o Corvette voltou a ser o Pace Car oficial da Indy 500 e a GM novamente aproveitou para lançar uma série especial de réplicas como fez em 1978 e 1986. Desta vez, eles fizeram a série do jeito certo: um modelo com características próprias e exclusivas, em produção limitada, que não podia ser reproduzido usando um Corvette comum.
A decoração é de gosto questionável, e hoje é um tanto datada, mas tem a cara daquela metade dos anos 1990. A pintura é de dois tons, tipo saia-e-blusa, com a parte superior roxa e a parte inferior branca — incluindo as rodas de cinco raios. Nas laterais, os adesivos que o caracterizam como um Pace Car e os emblemas do Indianapolis Motor Speedway.
Por dentro, ele era caracterizado com bancos de couro preto e roxo, em um padrão exclusivo, e com os emblemas da prova no encosto de cabeça. Sob o capô estava o motor LT1 de 350 pol³ / 5,7 litros com 300 cv, sempre ligado ao câmbio automático de quatro marchas.
A GM fez apenas três exemplares oficiais, usados na corrida — dois manuais e um automático —, e fez 527 exemplares para venda ao público. Destas, 87 foram levadas a Indianapolis para serem vendidas ao longo do evento, 20 foram exportadas e as outras 420 foram enviadas às concessionárias que mais vendiam o Corvette nos EUA — cada uma teria um destes Pace Cars como chamariz para vender os Corvette regulares.
Corvette Grand Sport
O Grand Sport é outra versão regular do Corvette que nasceu como versão especial, e isso aconteceu nesta quarta geração do Vette, já em sua reta final, durante 1996. Era um Corvette especial à moda antiga: um pacote opcional que você aplicava ao cupê ou conversível.
O pacote Grand Sport consistia na pintura azul “Admiral Blue” com uma faixa branca centralizada ao longo da carroceria, e duas faixas vermelhas menores (conhecidas como “Sebring Stripes”) no para-lama dianteiro esquerdo. Se você é um “corvetófilo” já sacou a referência: o Grand Sport de pista dos anos 1960. O pacote também incluía as rodas e pneus do ZR-1, mas em vez dos para-lamas mais largos na traseira, ele usava alargadores sobre os arcos de roda.
Por dentro, o pacote tinha duas opções de revestimento: todo preto ou preto e vermelho, sempre com um emblema “Grand Sport” no encosto de cabeça dos bancos.
Mecanicamente todos eram equipados com o câmbio manual de seis marchas e com o motor LT4, uma derivação do small-block 350 recém-lançada na época, capaz de produzir 330 hp e com faixa de corte em 6.300 rpm — o que também levou a GM a adotar um conta-giros especial com escala até 8.000 rpm. A velocidade máxima? 300 km/h.
Embora o LT4 fosse oferecido em todas as versões do Corvette como opcional, no Grand Sport ele tinha pintura vermelha e cabos de ignição vermelhos. Foram feitos 1.000 exemplares do Grand Sport, todos com número de identificação.
Corvette Collector
Edição Collector de um Chevrolet você já sabe o que significa: fim de produção e despedida. O Corvette Collector veio em 1996 quando a GM encerrou a produção desta quarta geração, abrindo o caminho para o Corvette C5.
O pacote era composto pela pintura prata “Sebring Silver”, exclusiva da versão, rodas de cinco raios, emblemas na carroceria e bordados nos bancos. Foram feitos 5.412 exemplares desta edição de despedida, todas com o motor LT4 combinado ao câmbio manual de seis marchas.
Leia também:
O guia de versões especiais do Corvette – as duas primeiras gerações
O guia de versões especiais do Corvette – a terceira geração