Em 1957, a Fiat lançou o Nuova 500 — um minicarro com motor de apenas 479 cm³ montado na traseira que, embora fosse pequeno e fraco, ajudou a motorizar a Itália no pós-Guerra. Só que isto já aconteceu há quase 60 anos, e hoje boa parte das quase 4 milhões de unidades fabricadas não precisa mais ser o único carro de uma família.
Alguns são peças de museu, outros são carros de uso diário para quem curte antigos, e outros, ainda, são modificados para garantir um desempenho melhor do que um motor de 0,5 litro consegue oferecer. Mas, como sempre dizemos, tem gente que não sabe brincar. Gente como a Oemmedi Meccanica, uma oficina na Itália que parece ter um fetiche em dar a seus Fiat 500 motores bem maiores do que eles foram feitos para suportar.
Ao olhar para o Fiat 500 da Oemmedifica fica óbvio que tem algo estranho nele. O carro cresceu bastante para os lados, com para-lamas e bitolas alargadas, e que o entre-eixos está estranhamente longo. Ajuda se colocarmos um 500 original ao lado dele como referência:
Não é difícil lembrar de vários carros que tiveram modificações parecidas apenas pelo bem da estética (ou não) ou para dar mais espaço aos ocupantes. Acontece que, nesse caso, o espaço extra é para o motor: um V8 Ferrari de três litros, ou seis vezes a capacidade do original, refrigerado a ar, que morava naquele cofre.
O motor em questão é um V8 emprestado de um Lancia Thema 8.32, uma versão do sedã italiano com motor V8 Ferrari — o mesmo usado na 308 e na Mondial. Com virabrequim de plano cruzado (para reduzir vibrações) e algumas modificações nas válvulas, cilindros e pistões, a potência é de 215 cv a 6.750 rpm e torque e 29 mkgf de torque a 4.500 rpm (conheça toda a história do Lancia Thema 8.32 aqui!). Para ser colocado no cofre do 500, o motor não recebeu nenhuma modificação — e, sinceramente, achamos que elas nem seriam necessárias.
O câmbio manual de cinco marchas também foi cedido pelo Lancia — o que permitiu o posicionamento transversal do motor e economizou algum espaço. Mas isso não significa muita coisa, porque a carroceria precisou ser extensamente modificada para acomodar os novos componentes mecânicos: além do motor Ferrari, o carro recebeu várias peças de um Fiat Coupe: a suspensão independente nas quatro rodas (McPherson na dianteira, braços arrastados na traseira) e os freios a disco.
Além dos para-lamas e bitolas (bem) mais largos e do entre-eixos maior, o carro recebeu entradas de ar na dianteira e nos para-lamas traseiros, para-choques embutidos na carroceria e as lanternas do Fiat Coupé. E, se você acha que tem muita fibra ali, pense de novo: é tudo metal, como manda a tradição italiana. Melhor ainda, as modificações se misturam surpreendentemente bem à carroceria clássica do 500. Não vamos chegar ao ponto de dizer que parece original, mas também não é uma transformação radical a ponto de acabar com o caráter do carro.
Por dentro, o capricho continua: o Fiat Coupe que doou a suspensão e os freios também forneceu os instrumentos (recalibrados para o motor Ferrari), o cluster do painel e alguns detalhes de acabamento. O carro também ganhou bancos de competição, e o interior ganhou uma forração vermelha que contrasta de forma bastante agradável com a carroceria Preto Nero.
O contato com o chão, por sua vez, fica por conta das rodas Momo Corse de 15×6,5 polegadas, calçadas com pneus 195/45 na dianteira e 205/45 na traseira.
E quanto ele anda? Bem, a Oemmedi não informa os dados de desempenho. Contudo, sabendo que o Lancia Thema leva 6,8 segundos para chegar aos 100 km/h e segue acelerando até 240 km/h, podemos imaginar o que o V8 faz neste carrinho tão leve. E vê-lo em movimento também dá a dica:
Agora, se o conceito de um engine swap insano envolvendo o Fiat 500 não é estranho para você, a razão pode ser esta:
Trata-se de um 500 que segue a mesma receita, porém o motor é um V12 de Lamborghini Murciélago. O carro foi feito pela Oemmedi depois que o 500 com motor Ferrari ficou pronto e é mais famoso que seu irmão mais velho — e também traz modificações muito mais aparentes e exageradas.
Só que a gente prefere o 500 com motor de Ferrari — ele parece ser mais dócil de guiar e o fato de ele usar componentes da Lancia, Fiat e Ferrari parece contribuir para que ele tenha tudo “no lugar”.
E tem mais: antes destes dois carros, a Oemmedi colocou um motor Porsche — um Boxer de seis cilindros e 3,6 litros — na traseira de um 500. E, segundo o Speedhunters, o próximo projeto dos caras é colocar um V6 Chrysler em… um Fiat 500 — aproveitando a recente fusão dos dois grupos, talvez?
Precisamos dizer que somos fãs desses caras?
[ Fotos: Oemmedi Meccanica, Speedhunters ]