Poucos carros podem ser considerados unanimidades entre os entusiastas. Na verdade, é impossível saber com certeza, mas apostamos que não existe alguém que não goste do clássico Alfa Romeo Giulia, cupê de tração traseira com carroceria projetada por Giorgetto Giugiaro, motor de quatro cilindros com comando duplo no cabeçote, baixo peso e dinâmica absurdamente divertida. Entre os Alfa pequenos e esportivos, fica difícil competir com ele. Na verdade, dependendo da sua paixão pela Alfa Romeo, talvez você ache que não existe carro melhor que um Giulia.
E ele fica ainda melhor quando é transformado em um carro de competição, trabalho que era feito com louvor pela oficina italiana Autodelta, especializada em Alfa Romeo, na década de 1970. Era o Giulia GTA, cujo “A” do nome significa Alleggerita — que pode ser traduzido como “aliviada”. De fato, com painéis de aço substituídos por alumínio, janelas de plástico e interior reduzido ao que fosse estritamente necessário para acelerar, eram carros bem leves — pesavam, em média, 850 kg.
Há quem diga que um GTA é o supra-sumo da Alfa Romeo na década de 1970, ou mesmo em todos os tempos. Não é fácil ir contra esta afirmação — tente puxar na memória um carro que fez tanto sucesso nas pistas quanto o Giulia de corrida e talvez você lembre do Alfa 155 que competiu na DTM, mas este era um carro de corrida mais avançado e específico, e o modelo que lhe serviu de base era um sedã de tração dianteira. Não é a mesma coisa.
Dizem que o melhor dos GTA era o Giulia GTAm. Não se sabe ao certo a origem da sigla — há quem diga que o “Am” significa Alleggerita Maggiorata (em tradução livre, “mais leve e aumentada”), mas há quem acredite que seja uma abreviação para “America”, pois a Autodelta usou como base alguns exemplares de origem americana além dos europeus. O carro usado como base era o Giulia 1750 GTV, que teve o motor de 1,75 litro e 122 cv aumentado para 1.985 cm³ (daí o Maggiorata) e recebeu um novo cabeçote com duas válvulas por cilindro. A potência passou a generosos 240 cv, e mesmo que o GTAm não tivesse todos os painéis da carroceria substituídos por alumínio, ainda pesava saudáveis 940 kg. Como superá-lo?
Um bando de ingleses malucos que lida com estes carros desde a década de 1970 tem a resposta. Estamos falando da Alfaholics e, como o nome diz, eles são viciados em Alfa Romeo, especialmente o Giulia — ou “105-series”, porque eles gostam de usar o código do modelo. Sob o comando de seu fundador, Richard Banks, a Alfaholics começou restaurando e realizando manutenção nos carros. Quando seus filhos, Andrew e Richard, completaram idade suficiente para entrar no negócio, eles começaram a correr com o Giulia GTA. Com o passar dos anos e o sucesso nas pistas, veio a ideia de comercializar os componentes desenvolvidos para seus carros de corrida. Hoje em dia, esta é a principal atividade da Alfaholics.
O carro que você vê nestas fotos e vídeos é o Alfaholics GTA-R 270. Ele tem este nome porque, com 835 kg e e um quatro-cilindros de dois litros e 225 cv, tem relação peso-potência de 270 cv/tonelada. O motor é o Twin Spark vindo de um Alfa Romeo 75 — o último motor derivado do projeto original da década de 1960.
Feito todo de alumínio, com comando duplo no cabeçote (que segue o projeto utilizado pela Autodelta, que cuidou da equipe de fábrica da Alfa Romeo na década de 1970), corpos de borboleta individuais, curso de 94 mm e diâmetro de 87 mm, o motor é capaz de girar a pouco mais de 7.000 rpm. Nada muito extravagante mas, meu amigo, o som dessa coisinha é de outro mundo. Aliás, foi para ouvi-lo que a gente te chamou aqui:
Este aqui é um vídeo onboard feito em 2013, quando o carro tinha 240 cv/tonelada e já era capaz de dar trabalho a um Porsche 911 GT3 RS modificado. Seu tempo no Nürburgring Nordschleife foi nada menos que 8:15,7 — realmente impressionante, considerando a potência do motor. Mas dá para entender ao conhecer melhor o resto do carro.
A carroceria foi aliviada usando fibra de carbono no capô e nas portas (repare também nos para-lamas alargados). O câmbio manual de cinco marchas é ligado a um diferencial de deslizamento limitado desenvolvido pela própria Alfaholics e feito sob medida para o projeto. A suspensão, que é do tipo double wishbone na dianteira com eixo rígido na traseira, teve a geometria retrabalhada e recebeu molas e amortecedores ajustáveis modernos, além de uma barra estabilizadora na dianteira.
As rodas de 14 polegadas originais foram modificadas para ficar com 15 polegadas. Além de receber pneus maiores e mais borrachudos, elas agora podem acomodar discos de freio ventilados de 30 cm na dianteira e sólidos de 26 cm na traseira.
A direção tem assistência elétrica progressiva e o peso correto, e o conjunto todo torna o carro inacreditavelmente delicioso de guiar. Na verdade, a palavra usada pelos caras da Evo foi “viciante”. Não duvidamos que seja verdade.
O lado de dentro é, a seu modo, tão atraente quanto o lado de fora. Os bancos são Recaro e receberam costuras de aspecto retrô, há uma gaiola de proteção integral, painel de fibra de vidro revestido em camurça, instrumentos de aspecto envelhecido (só para dar um charme) e um pequeno volante de três raios. Não é preciso muito mais do que isto mesmo.
Se você tem um Giulia (cara de sorte, hein!), saiba que os caras da Alfaholics podem deixar seu carro igualzinho a este — tanto que a oficina dos caras, na região de Bristol, no Reino Unido, recebe de 30 a 40 carros por mês, em média. Ou melhor — te mandar um kit com absolutamente todas as peças necessárias para modificar o motor, o interior e a carroceria. A demanda é boa, com um kit completo sendo vendido a cada semana, e a maioria deles para fora do país.
Se você tiver dinheiro, mas muito dinheiro mesmo, as coisas ficam bem mais fáceis: é só depositar £ 198 mil (cerca de R$ 1 milhão) e eles te venderão um carro exatamente igual a este. Quem já andou no Alfaholics GTA-R 270 diz que vale cada centavo.