Não é difícil ver entusiastas nostálgicos por uma época que não viveram — muitos queriam ter presenciado o mundo automotivo de décadas atrás, e dá para entender o porquê. Contudo, maior ainda deve ser a nostalgia de quem viveu aquela época que considera os anos de ouro do automóvel. É o caso do italiano Bruno Dorigo, que conheceu a Abarth em seu auge e hoje tem um museu dedicado à preparadora em sua própria casa.
Dorigo teve a sorte de conhecer diversos pilotos de Fórmula 1 e Turismo na Europa nos anos 1960 e 1970: Chris Amon, John Surtees e Jim Clark são só alguns dos nomes. Mas para ele seu encontro mais marcante foi com Hans Ortner. O piloto alemão quase desconhecido por estas bandas foi campeão de subidas de montanha e piloto de testes da Abarth — o favorito de Carlo Abarth nos dez anos em que trabalharam juntos.
Dorigo estava em lua de mel em Turim, na Itália, e deu um jeito de convencer sua esposa a irem conhecer a sede da Abarth. Ortner estava logo na entrada. Dorigo acenou para ele, e Ortner o chamou para perto e o convidou para entrar. Simples assim. Ele conta que não conheceu Carlo Abarth, mas foi visitá-lo em seu túmulo pouco depois de sua morte, em 1978. Bruno diz que sente falta daqueles tempos, quando pilotos, equipes e preparadoras famosas eram mais acessíveis e o automobilismo, muito mais popular. É provável que os carros o ajudem a lembrar daquela época, e foi por isso que, em 2010, Dorigo teve a ideia de criar um museu dedicado à Abarth.
Algumas destas histórias ele conta no vídeo ali em acima — que tem uma atmosfera diferente dos que costumamos postar aqui, visto que é um pequeno documentário produzido por italianos, sobre carros italianos e protagonizado por um italiano. E, ao assisti-lo, temos mais uma prova de que a paixão dos italianos por seus carros ocupa quase todo o espaço em seu cuore.
Colecionando fotos e documentos históricos relacionados à Abarth desde a década de 60 e comprando carros e equipamentos desde a década de 80, Bruno Dorigo acabou acumulando um acervo invejável dedicado à preparadora do escorpião. Há contratos com pilotos e equipes, blueprints de carros, motores e componentes, além de, claro, fotos de época e dele mesmo ao lado dos carros que tanto admira.
É óbvio, porém, que a atração principal são as peças e os carros. Há prateleiras cheias de motores, volantes pendurados nas paredes, pilhas de rodas e pneus, motos (para quem não lembra, a carreira de Carlo Abarth nas pistas começou com as motos que ele construía sozinho) e nove carros históricos: um Abarth Scorpione SS, um Abarth 1000 TCR Radiale, um furgão Fiat 600T (usado como carro de apoio pelas equipes nos anos 60 e 70), um monoposto Abarth Formula 2000, um 695 SS Asseto Corsa (o mais famoso de todos), um Abarth 1000 TC e um Abarth 1000 Bialbero (com duplo comando de válvulas).
Acima, o Abarth 1000 TCR Radiale. Seu nome leva os incautos a acreditarem que se trata de um carro equipado com motor radial, mas a verdade é que “radiale” é uma referência às câmaras de combustão hemisféricas. Com 982 cm³ (o deslocamento máximo possível usando como base o motor do Fiat 600) e taxa de compressão altíssima, o pequeno bicilíndrico entrega respeitabilíssimos 110 cv a 8.200 rpm e é capaz de levar o carro até os 201 km/h.
Não é o carro favorito dele, contudo — este posto fica com o Abarth 1000 TC, que é baseado no Fiat 600 e usa um motor de um litro e quatro cilindros. Com 91 cv, ele arranha os 200 km/h, mas o que Bruno mais gosta é o ronco. Afinal, quem não gosta?