“Odiado por muitos, adorado por quase todos”. É com esta frase que os fãs do Trabant costumam descrever o “carro de papelão” feito na Alemanha Oriental que, além de motorizar o país por bem mais que os dez anos previstos pela fabricante, acabou se tornando um símbolo da queda do Muro de Berlim.
De qualquer forma, se você já leu o especial sobre o Trabant que publicamos no fim de 2014, no aniversário de 25 anos da queda do Muro de Berlim, sabe que ele não é feito de papelão, e sim de uma resina plástica reforçada com fibras de algodão ou lã chamada Duroplast.
Sabe também que ele não era exatamente potente, rápido ou espaçoso, mas era barato, prático e mecanicamente simples o bastante para ser um dos carros mais populares do país por quase três décadas.
E você lembra daquele Trabant com motor de 600 cm³ preparado para produzir 80 cv que tinha desempenho melhor do que vários carros preparados “de verdade”, como o Golf Mk1 e o BMW M3, na pista? Se não lembra, vamos refrescar sua memória:
Se esta não for uma prova de que o Trabi tem potencial, não sabemos o que mais seria.
Na verdade, sabemos sim: este outro Trabant preparado – desta vez, por um bando de alemães insanos que queriam transformar o Trabi em um monstro para subidas de montanha. Bem, do Trabi só sobrou mesmo o chassi e alguns painéis da carroceria. De resto, tudo mudou – especialmente o motor, que deixou o cofre e deu lugar a algo mais moderno, potente e melhor posicionado: um Honda H22 de 2,2 litros, equipado sistema V-TEC e instalado em posição central traseira. Segundo seus criadores, é o Trabant mais rápido do planeta.
O H22 equipava o Honda Accord de quinta geração em meados dos anos 90, e também o Honda Prelude mais potente da linha até o fim de sua produção, em 2001. Originalmente a potência do H22 varia entre 185 e 220 cv, dependendo do ano e do modelo do carro equipado com ele. Para a Urland, equipe de hillclimb que criou o monstrinho, não era o bastante, e uma preparação leve garantiu de adicionar pelo menos mais 50 cv à conta, visto que agora são 270 cv para empurrar apenas 866 kg de carro.
A caixa manual de cinco marchas original do Accord que cedeu o motor também foi aproveitada, e o conjunto é capaz de levar o Trabi aos 100 km/h em apenas 3,2 segundos.
Repare no scoop no teto para direcionar ar para o motor
Com bitolas alargadas, centro de gravidade rebaixado, potência dez vezes maior (o Trabant 601 S tinha 23 cv) e uma grande asa traseira, esse Trabi é um canhãozinho no asfalto sinuoso do circuito europeu de subida de montanha.
O ronco de um Honda girador é sempre incrível
O Honda H22 tem um regime de trabalho bastante rápido — a linha vermelha do conta-giros começa em 7.800 rpm e o corte de combustível, entre 8.200 e 8.400 rpm. Não são os 9.000 rpm do S2000 (afinal, o H22 foi empregado em sedãs de família e cupês com quê de grand tourer), mas ainda é mais que os 6.000/6.500 rpm dos carros que costumamos guiar todos os dias.
Onboard com o Trabant da Urland’s na Glasbachrennen 2013
O Trabi com motor Honda participa ativamente do circuito europeu de campeonatos regionais de subida de montanha, em provas como a tradicional Glasbachrennen — literalmente, “Corrida de Glasbach” — batizada assim por ser um trecho de 5,5 km com 35 curvas em uma rodovia próxima ao município de Mellenbach-Glasbach, estado da Turíngia, na Alemanha.
Este compacto com um resumo da Glasbachrennen do ano passado dá uma boa ideia de como a coisa funciona
A Glasbachrennen acontece desde 1974 e, nos últimos três anos, o Trabi 601S da Urland participa da competição. Vê-lo acelerando no asfalto sinuoso é incrível até pela internet, então você deve imaginar o quanto ele impressiona ao vivo (a gente imagina).
É, com um pouco de imaginação, um bólido do Grupo B para o asfalto da Alemanha Oriental. Falando nisso, adoraríamos vê-lo com suspensão levantada e pneus apropriados em um estágio de rali…