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Car Culture

Oito carros (e uma nave espacial) que você só encontra no museu da Porsche

A Porsche é uma marca boa para fazer pegadinhas com entusiastas distraídos. Em algum dos vários episódios do FlatOut Podcast, nós despistamos os ouvintes no Desafio do Ronco, dizendo que o carro em questão tinha um “motor V8 e um cavalo em seu logotipo”. O público, claro, ficou entre Mustang e Ferrari, esquecendo-se completamente da existência do Porsche 928, que também tem um cavalo (rampante!) em seu logotipo.

Da mesma forma, é muito comum falar da “marca de Stuttgart” para se referir à Porsche, ou “dos esportivos de Stuttgart”, mas se eu fizesse uma charada perguntando qual dos esportivos de Stuttgart tinha um motor de oito cilindros em linha, muita gente ia bater a cabeça procurando “straight-8 Porsche” ou até pensaria no Porsche 908 (que tem um flat-8), enquanto a resposta seria o Mercedes-Benz 300SLR.

Por alguma razão, o fato de a Mercedes também ser sediada em Stuttgart (ou na Estugarda, como dizem os convenientes portugueses) não é tão lembrado como o fato de a Porsche estar ali na região. “Carro de Stuttgart”, quase sempre, é uma metonímia para Porsche, não para Mercedes.

O museu corporativo mais antigo: Mercedes-Benz em Estugarda

As duas fabricantes estão separadas por cerca de 10 km, e você só descobre isso quando faz um roteiro para visitar o museu de ambas usando algum serviço de mapa/GPS online. O fato de a Porsche estar em Zuffenhausen e a Mercedes estar sempre em “Stuttgart”, faz parecer que elas estão mais distantes do que realmente são, ou até mesmo que a Porsche está em uma espécie de distrito rural/industrial da cidade, mas ambas estão na região urbana de Stuttgart (a Mercedes fica em uma região chamada Bad-Cannstadt, vizinha a Zuffenhausen).

Isso tudo significa que você pode visitar o museu da Mercedes em uma manhã, almoçar e visitar o museu da Porsche à tarde. Não precisa nem voltar para o hotel.

O acervo começou como um pequeno salão junto à fábrica da Porsche em Zuffenhausen, Suttgart em 1976, e tinha espaço para apenas 20 carros — os modelos expostos eram substituídos periodicamente por outros. O atual museu foi inaugurado somente em 2008, e, como o antigo, exibe além dos carros feitos pela Porsche, algumas criações Porsche feitas para outras marcas, como o Lohner-Porsche do início do século XX, ou o Fusca.

Como tantos museus, o da Porsche tem parte do seu acervo exposta de forma permanente, e outra parte levada ao museu de forma temporária. Neste momento, por exemplo (outubro de 2023), o museu tem a mostra comemorativa dos 75 anos, com 10 carros que simbolizam momentos históricos da atuação da marca.

Começando por ela, os carros são o 356 Nº1, o 908/2 Spyder, o 956, o 911 GT2, o Cayman S Sport, o 919 Hybrid, o 911 Dakar, o Mission X Concept e o Gran Turismo Vision GT, além do S-91 Pegasus Starfighter.

O mais importante, claro, é o 356 número 1, o primeiro exemplar do Porsche 356, um protótipo ainda com carroceria de alumínio, motor central-traseiro de 1,1 litro e 40 cv, tudo muito derivado do Fusca — o motor continuaria nos demais 356, mas a carroceria de alumínio e a posição do motor, não. Um fato curioso é que o carro foi usado pelos Porsche, mais especificamente pelo filho de Ferdinand, Ferry Porsche. Por isso, ele foi emplacado e rodou pela primeira vez em 8 de junho de 1948.

Depois dele há o 908/2 Spyder, que disputou o Mundial de Carros Esporte (WSC) e, claro, as 24 Horas de Le Mans no fim dos anos 1960, quando a Ford dominou a corrida. Normalmente quando se fala nos protótipos de resistência da Porsche é o 917 ou o 956 ou ainda o 962 que vêm à memória, mas o 908/2 foi o começo de tudo.

Ele chegou em segundo lugar na 24 Horas de Le Mans de 1969, brigando pela vitória com o Ford GT40, e ainda ajudou a Porsche a conquistar o título de construtores do WSC naquele ano. Isso, claro, sem contar a sequência de mais de 50 vitórias e 100 pódios que ele teria a partir daquele ano de 1969 com seu flat-8 de três litros e 350 cv a 8.000 rpm. Sem ele não haveria 917, 956, 962, nem o recorde de vitórias da Porsche em Le Mans.

Ainda desta exposição, vale destacar o 911 GT2 993, que foi o primeiro GT2, um descendente moderno do 911 Carrera RSR Turbo de 1974, que evoluiu na forma do 935. Até então o 911 mais radical em termos de desempenho absoluto e potência era o 911 Turbo, embora a Porsche já desse sinais de uma linha inspirada nos carros de rua desde a geração 964, que teve o Carrera RS e o Clubsport.

Então, em 1995 eles colocaram nas ruas um novo modelo que combinava o Carrera RS ao Turbo para fazer o GT2, inaugurando a era do 911 como supercarro.

A base do 911 GT2 era o 993 Turbo, mas a transformação era radical, incluindo a adoção de componentes de alumínio no lugar do aço (portas e capô), interior aliviado e o retorno à tração traseira que, além de tornar o comportamento do carro mais ágil — e difícil de segurar —, contribuía para a redução do peso. Uma série limitada de 75 carros de rua foi criada com as mesmas especificações básicas do modelo de competição.

Dessa mostra temporária, um destaque é o S-91 Pegasus Starfighter, que não tem nome de Porsche porque é uma nave espacial feita para o filme Star Wars. A presença de um mockup espacial como ele, aparentemente mostra a diversidade de atuação da Porsche e também exibe como a Porsche aplica seus próprios conceitos de design a uma nave espacial, como a vista baixa, que remete aos protótipos de Le Mans dos anos 1960 e 1970, com a ventoinha sobre o motor, além de elementos como a grade traseira e a terceira luz de freio dos 911 modernos.

Já na coleção permanente do Museu, um dos maiores destaques é o 911 vermelho de 1964, também conhecido como 901 nr. 57 por ser um modelo fabricado como 901, mas vendido como 911. Ele é simplesmente o mais antigo de todos os 911 existentes, e está no acervo da Porsche há menos de 10 anos, por mais incrível que pareça.

O carro foi encontrado por um programa de TV alemão chamado “The Junk Troop”, abandonado em um galpão. Os historiadores do Porsche Museum verificaram o carro e o certificaram não apenas como um 901 legítimo, mas também como o mais antigo existente. Ao menos por enquanto.

O carro foi restaurado por inteiro — motor, transmissão e interior hoje são exatamente como eram em 1964 – em um trabalho que levou três anos. Em 2017 ele foi exposto no museu e está lá até hoje, representando o início da história do 911.

Um dos carros mais famosos do museu é o 956 com a pintura da Rothmans, que fica exposto pendurado de cabeça para baixo no teto do expositor. O carro está assim para representar o foco da Porsche no efeito solo — ele é um dos carros sobre o qual, dizem, é hipoteticamente possível de se pilotar no teto de um túnel, tamanha a downforce produzida.

O carro exposto é a unidade usada por Jochen Mass e Vern Schuppan nas 24 Horas de Le Mans de 1982, quando a Porsche conquistou os três primeiros lugares. Este, além da segunda colocação na corrida, também foi usado como mula de testes para o motor TAG Porsche V6 biturbo, que seria usado pela McLaren na Fórmula 1 a partir de 1983.

Depois, um modelo menos conhecido — e lamentavelmente um protótipo, em vez de carro de produção: o 918 RSR. Sim, um 918 Spyder de corrida. Ele foi desenvolvido paralelamente ao conceito do 918 Spyder, apresentado em 2010, e apresentado logo no início de 2011 — como conceito, claro. O V8 é o mesmo do 918 Spyder, derivado do Porsche RS Spyder que venceu a Le Mans Series na LMP2.

Além do V8, ele tinha dois motores elétricos no eixo dianteiro, que usavam a eletricidade gerada a partir da conversão da força das frenagens por um volante inercial (esse equipamento que ocupa o lugar do passageiro na cabine do carro). Como o carro não era adequado a nenhuma série de corridas, ele foi usado apenas para testar tecnologias para powertrains híbridos – incluindo aquele usado no 919 Hybrid.

Ainda na temática roadster com motor de oito cilindros atrás da cabine, o museu tem o 914/8. Sim, um 914 com motor de oito cilindros — mais exatamente o flat-8 de três litros do 908. Sim, um 914 com motor de oito cilindros de um protótipo de Le Mans.

Como o 914 é um carro de rua, ele é uma versão amansada, com 300 cv, em vez de 350 cv. Ele foi o presente de aniversário da Porsche a Ferry Porsche em seu 60º aniversário. Por mais incrível que possa parecer, Ferry não gostou do carro, e simplesmente deixou de usá-lo.

Para encerrar, vamos deixar um exemplar que é as duas coisas ao mesmo tempo: um carro de corrida e um carro de rua — e não estou falando do 550 Spyder, mas do 911 GT1 Strassenversion, que é, basicamente, um 962 adaptado para o regulamento da GT1 com uma cara de 911 996.

Ele foi feito em uma série de 25 unidades e é exatamente o carro que correu em Le Mans em 1996 e 1997, porém com equipamento de segurança exigido para licenciamento na União Europeia, e pneus esportivos sulcados. O motor é o mesmo flat-6 3.2 biturbo do carro de corrida, mas com menos potência — 540 cv em vez de 600 cv.

Nas próximas semanas teremos uma série especial de vídeos com uma visita aos museus da Mercedes, Porsche e BMW na Alemanha — esta matéria é parte do aquecimento para estas visitas. Infelizmente não há como descrever todos os carros do acervo por aqui — a Porsche tem mais de 700 carros em sua garagem histórica e cerca de 200 são carros de corrida —, então fique ligado no site e no canal do FlatOut no YouTube para ver estes e todos os demais carros do museu.