Existem poucas sensações tão ruins quanto a de sofrer um acidente de carro. Imagine, então, com um carro de competição a 250 km/h! Na maioria dos casos, o piloto tem sorte se sair vivo. Foi exatamente sobre os acidentes não-fatais mais chocantes do automobilismo que tratou nossa última Pergunta do Dia, que já rendeu a primeira parte da lista com as sugestões. Vamos à segunda?
Geoff Bodine, Daytona International Speedway, 2000
“Vamos cruzar os dedos”. A frase do comentarista depois do acidente de Geoff Bodine resume bem o quanto foi tenso. Era a corrida de estreia da Truck Series, categoria de picapes da Nascar, realizada no oval Daytona Speedway. Na 57ª volta, a Ford F-150 de Bodine foi atingida por Rob Morgan que, por sua vez, havia sofrido um toque do novato Kurt Busch. Bodine foi empurrado contra o muro a mais de 310 km/h, e a força do impacto destruiu sua picape, rompendo o tanque de combustível e deixando só a gaiola de proteção. Tudo isto enquanto capotava ao longo do asfalto e acertava outras picapes. No total, 13 carros se envolveram no acidente, que é considerado até hoje um dos maiores da história da Nascar.
Bodine sofreu diversos ferimentos: fraturas no punho direito e na face, uma vértebra e no tornozelo direito, além de uma concussão. Nove espectadores também se feriram. Por causa do acidente, Bodine acabou perdendo boa parte da temporada — ele participou de apenas 14 das 34 corridas. Depois de um tempo para se recuperar, Bodine voltou às pistas em 2002.
Mike Harmon, Bristol Motor Speedway, 2002
Você já deve ter percebido que a Nascar contribuiu muito com esta lista. Em 2002, Mark Harmon protagonizou aquele que é conhecido até hoje como um dos mais impressionantes acidentes da categoria. E também foi com uma picape da Truck Series!
Aconteceu durante uma sessão de treinos no circuito de Bristol Speedway, no Tennessee. Harmon perdeu o controle do carro e acertou um dos portões de acesso à pista. O portão não estava bem trancado e se abriu com o impacto, fazendo com que o carro atingisse o muro de concreto perto da entrada e ricocheteasse de volta para o asfalto.
O impacto foi tão forte que o carro se partiu ao meio. Como se não bastasse, o carro ainda foi acertado por outro, pilotado por Johnny Sauter, mas por sorte o piloto não foi atingido. Ele saiu andando, ileso.
Diumar Bueno, Autódromo Internacional de Guaporé, 2012
Quer algo mais impressionante do que um caminhão de corrida sem freios? Foi exatamente o que aconteceu com Diumar Bueno em 2012, em uma corrida da Fórmula Truck em Guaporé, no Rio Grande do Sul. Seu Volvo perdeu os freios antes de uma curva e, em uma tentativa de reduzir a velocidade do caminhão, Bueno decidiu seguir reto pela grama. O esforço foi inútil e o caminhão passou por cima da barreira de pneus, atravessou o muro e bateu nas árvores fora da pista.
Bueno sofreu mais de 30 fraturas pelo corpo, incluindo o braço e as duas pernas. No entanto, ficou consciente durante todo o tempo e disse, em entrevistas posteriores, lembrar de cada momento do acidente.
Federico Kroymans, Laguna Seca, 2004
Mesmo que você não conheça a história deste acidente, talvez já tenha visto esta foto. Ela mostra o piloto Federico Kroymans com as pernas para fora da metade da Ferrari F399 que Michael Schumacher pilotou em 1999. Naquele ano, Schumi quebrou a perna em Silverstone e foi substituído por Mika Salo.
O acidente de Kroymans aconteceu em 2004 durante o Monterey Historic, corrida de clássicos que acontece todos os anos no Circuito de Laguna Seca e faz parte da Monterey Speed Week — assim como o Concours d’Elegance Pebble Beach. O carro se partiu em três pedaços e vários destroços se soltaram, fazendo com que os fiscais da corrida se apressassem para chegar até o local.
Kroymans ficou com as pernas expostas porque o bico do carro se soltou, mas saiu ileso do acidente.
Allan McNish, Circuito de La Sarthe, 2011
Este acidente sem dúvida é um dos mais chocantes dos últimos anos. Em 2011, quando a Audi ainda dominava as 24 Horas de Le Mans, o piloto escocês Allan McNish acertou o muro com seu R18 nº 3 logo na primeira hora de corrida. McNish brigava pelo terceiro lugar e, foi com muita sede ao pote em uma curva, tentando ultrapassar a Ferrari 458 de Shaun Lynn, da CRS Racing. O escocês acabou tocando o carro do retardatário, perdendo o controle e acertando o muro de proteção em cheio.
O impacto foi violentíssimo. Centenas de destroços voaram em direção ao público e só não acertaram as pessoas por causa das barreiras de proteção. O carro ficou parado de cabeça para baixo, todo destruído, enquanto a equipe da Audi e todas as pessoas que acompanhavam a prova torciam para que o pior não tivesse acontecido. A poeira só acrescentou mais drama à cena.
Depois que a equipe de salvamento conseguiu colocar o carro de volta na posição correta, McNish desceu do carro caminhando e acenou para a multidão, confirmando que estava bem.
Alex Zanardi, EuroSpeedway Lausitz , 2001
ATENÇÃO: Cenas fortes
É simplesmente impossível fazer uma lista como esta e não citar Alex Zanardi. O piloto italiano já havia corrido na Fórmula 1 entre 1991 e 1994 e na CART entre 1995 e 1997, além de ensaiar um breve retorno à F1 em 1999. Em 2000, ele voltou a correr na CART e, no ano seguinte, sofreu o acidente que lhe custou as duas pernas. Como no caso de Niki Lauda, fizemos uma análise detalhada do acidente de Zanardi na coluna Doctor Gas, que dá uma boa noção de como tudo aconteceu.
O acidente, ocorrido em setembro de 2001 no Lausitzring, Alemanha, se deu em uma circunstância de pista totalmente atípica. Zanardi, que liderava a prova e saía do pitlane após uma parada, acabou perdendo a traseira de seu monoposto no momento de reaceleração (vale lembrar que em circuitos ovais os carros usam pouquíssima pressão aerodinâmica e ficam muito ariscos em velocidades medianas), atravessou o gramado e foi parar no meio do traçado de alta velocidade.
Patrick Carpentier conseguiu evitar o contato, o que não foi possível para Alex Tagliani. O impacto monstruoso na lateral do carro de Zanardi a 300 km/h causou lesões severas às suas duas pernas, motivando seu transporte ao Klinikum Berlin-Marzahn onde, após uma cirurgia que durou cerca de três horas, suas duas pernas foram amputadas acima da altura dos joelhos.
Zanardi decidiu que não deixaria de pilotar e por isso, assim que se recuperou, deu início a um ambicioso programa de reabilitação que incluiu projetar suas próprias próteses, feitas de fibra de carbono e desenhadas especialmente para pilotar carros de corrida.
Veja aqui como funciona o Z4 GT3 adaptado de Zanardi
E, como se não bastasse voltar a pilotar, Zanardi também se tornou paraciclista. Suas primeiras competições sérias começaram em 2007 e, desde então, ele se tornou um dos melhores do mundo, acumulando sete medalhas de ouro e três medalhas de prata — nos Jogos Paralímpicos de Londres em 2012 e nos campeonatos mundiais em 2013 e 2014. E voltará a representar a Itália nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, que acontecerão em setembro.