E chegaram ao fim as 24 Horas de Le Mans de 2017. Foi uma corrida praticamente dominada pelos LMP2, que só não ficaram com o lugar mais alto do pódio: atrás do Porsche 919 Hybrid #2, que deu aos alemães sua terceira vitória consecutiva (estaríamos entrando em uma nova “era Porsche” em LeMans?), vieram os Oreca 07 da Jackie Chan DC Racing em segundo e da Vaillante Rebellion em terceiro.
Este trouxe um grato presente aos brasileiros: Nelsinho Piquet foi um dos pilotos que revezaram ao volante do protótipo LMP2, completando o trio formado também pelo suíço Mathias Beche e pelo dinamarquês David Heinemeier Hansson.
Com isto, pela quinta vez na história das 24 Horas de Le Mans um brasileiro sobe ao pódio do Circuito de La Sarthe.
Por isso vamos relembrar os outros pilotos brasileiros a chegar entre os três primeiros nas 24 Horas de Le Mans.
José Carlos Pace – 1973
A edição de 1973 foi uma das poucas que a Porsche não venceu na década de 1970. Quem o fez foi a Matra, com o MS670B dividido por Henri Pescarolo e Gérard Larrouse, depois de 355 voltas – naquela época, era comum que apenas dois pilotos revezassem ao volante ao longo de toda a corrida.
A Porsche tinha o 911 RSR e o protótipo 908 na categoria S, para motores de até três litros, mas quem realmente competia pelo título naquele ano eram Matra e Ferrari. Enquanto o 911 tinha um boxer de seis cilindros, a Matra tinha um V12 e a Ferrari, um flat-12.
A Ferrari 312PB #2 de Arturo Merzario e José Carlos Pace tinha uma missão especial: ser a “lebre” da equipe italiana, completando voltas rápidas e induzindo os pilotos da Matra a acompanhar seu ritmo, a fim de forçá-los a trabalhar o motor até o limite e, com sorte, sofrer alguma pane mecânica, abrindo espaço para as outras Ferrari assumirem a ponta. No fim das contas, não foi o que aconteceu: o carro de Merzario e Pace foi o único a sobreviver às 24 horas de corrida e chegou em segundo lugar, com 349 voltas completadas. O carro #15, de Jacky Ickx e Brian Redman, era o “titular” da Ferrari em 1973, mas abandonou a prova perto do fim, depois de 322 voltas.
Raul Boesel – 1991
Levaria 18 anos para que outro brasileiro chegasse ao pódio em Le Mans. Foi Raul Boesel, em sua terceira e última participação nas 24 Horas de Le Mans. Ele já havia corrido pela Jaguar Silk Cut em 1987 e 1988. Na primeira vez, com o protótipo XJR-8, ele chegou em quinto dividindo o volante com o holandês Jan Lammers e o americano Eddie Cheever. Na segunda vez, o trio formado por Boesel mais o britânico John Watson e o francês Henri Pescarolo não conseguiu terminar a corrida.
Boesel voltou a Le Mans com Jaguar em 1991. Naquele ano, o Mazda 787B se tornou o único protótipo japonês (e o único carro equipado com um motor sem pistões reciprocantes) a vencer nas 24 Horas de Le Mans, feito que permanece até hoje. Mas, no Campeonato Mundial de Protótipos Esporte (WSC) de modo geral, aquele era o ano da Jaguar: um de seus pilotos, o italiano Teo Fabi, foi o campeão daquela temporada e a equipe britânica também ficou com o título.
E foram três exemplares do protótipo XJR-12, cada um deles movido por com um V12 de 7,4 litros preparado pela Tom Walkinshaw Racing, que concluíram as 24 Horas de Le Mans de 1991 atrás do Mazda 787B, que completou 362 voltas em 24 Horas. O XJR-12 #35 de Raul Boesel, do britânico Davy Jones e do francês Michel Ferté foi segundo colocado, com duas voltas a menos.
Ricardo Zonta – 2008
Durante a era de domínio da Audi somente os protótipos a diesel da Peugeot conseguiram quebrar a hegemonia da fabricante alemã ao vencer a corrida de 2009. Um ano antes, eles já haviam disputado de perto a vitória, completando as mesmas 381 voltas dos vencedores, o que significa que a corrida foi decidida na última volta.
O duelo acirrado nas 24 Horas de Le Mans de 2008 somado à ausência de uma cobertura completa como temos hoje, quase uma década mais tarde, talvez tenha obscurecido o terceiro pódio de um brasileiro na prova: Ricardo Zonta estava no terceiro degrau do pódio, após cruzar a linha de chegada em terceiro lugar com o segundo dos três Peugeot 908 HDi, dividido com Christian Klien e Franck Montagny, após 379 voltas — duas a mais que os dois primeiros colocados.
Lucas di Grassi – 2013, 2014 e 2016
De longe, o melhor desempenho nas 24 Horas de Le Mans por um brasileiro é o de Lucas di Grassi, que foi contratado pela Audi Sport em 2012, quando o italiano Rinaldo Capello se aposentou. Logo de cara, dividiu com o espanhol Marc Gené e com o britânico Oliver Jarvis a conquista do terceiro lugar nas 24 Horas de Le Mans de 2013, com 347 voltas completadas no Audi R18 e-tron quattro #3. À sua frente, apenas os colegas de equipe Allan McNish, Tom Kristensen e Loïc Duval, que venceram no carro #2; e o Toyota TS030 de Anthony Davidson, Stéphane Sarrazin e Sébastien Buemi.
No ano seguinte, di Grassi foi colega de Kristensen e Gené no R18 #1, que foi o segundo colocado na dobradinha da Audi com 376 voltas – três a menos que André Lotterer, Marcel Fässler e Benoît Tréluyer no carro #3. Foi a última vitória da Audi em Le Mans até agora.
Depois de chegar em quarto em 2015, o brasileiro voltou a subir no pódio de Le Mans no ano passado. Enquanto o Porsche 919 Hybrid vencia a prova e o Toyota TS050 Hybrid chegava em segundo, o Audi R18 e-tron encerrava sua carreira nas 24 Horas de Le Mans com um terceiro lugar. Di Grassi dividiu o volante com Loïc Duval e Oliver Jarvis e os três completaram 372 voltas em 24 Horas – 12 voltas atrás dos líderes.