Precisão e eficiência costumam ser as características mais lembradas dos alemães, e isto inclui seus carros. E, de fato, a dedicação dos alemães em fazer os melhores carros do mundo – em diversos aspectos diferentes, e não só economia ou performance – é tamanha que não faltam carros alemães que viraram ícones.
Perguntamos aos leitores quais eram estes ícones, e agora temos a primeira parte da lista com as respostas!
Volkswagen Fusca
Sugerido por: quase todo mundo
Se você acha que vamos falar que o Fusca é o carro mais alemão de todos por causa de sua nefasta associação com o regime nazista, se enganou – é muito mais do que isto. É muito mais do que isto: estamos falando de um projeto que nasceu nos anos 1930 como um meio de transporte popular e barato, mas acabou ajudando a estabelecer uma fabricante de automóveis, lutou na Segunda Guerra, motorizou a Alemanha depois do conflito e permaneceu em produção por mais seis décadas.
Isto mostra que, antes de qualquer coisa, o Fusca é um atestado da eficiência da engenharia alemã – que sabe fazer coisas que funcionam, sejam elas sofisticadas ou extremamente simples. Quatro cilindros, arrefecimento a ar, motor e câmbio na traseira, carroceria sobre chassi e carroceria facilmente reparável com a troca dos painéis. O Fusca não precisava de mais do que isto.
Tanto que hoje, oito décadas depois de sua concepção, o Fusca permanece. Virou carro de hippie, bugue para cruzar o deserto, hot rod, conversível, carro de corrida. Deu origem a outros carros, dentro da própria VW e fora-de-série (e não só no Brasil, hein!). E, hoje em dia, há quem insista em sonhar com um Fusca para chamar de seu mesmo que exista uma infinidade de opções mais modernas, eficientes, rápidas e econômicas. O nome disso é carisma.
Porsche 911
Sugerido por: quase todo mundo, também (sério)
O Fusca foi projetado por Ferdinand Porsche, fundador da companhia que leva seu sobrenome. O Porsche 911, por Alexander “Butzi” Porsche, neto de Ferdinand Porsche. Desse modo, dá para considerar o 911 o neto do Fusca.
A essência do projeto era a mesma, com um motor boxer arrefecido na traseira, bem como a transmissão e a tração. Mas o motor dinha dois cilindros a mais e a proposta era criar um esportivo. No entanto, o que Alexander Porsche criou foi uma lenda.
Desde que nasceu, em 1963, o 911 é aclamado por sua dirigibilidade e pela excelência mecânica. As décadas passaram e a receita básica continuou, mas foram sendo adicionados novos elementos, como turbocompressores na década de 1970, e arrefecimento líquido nos anos 1990 – que também trouxeram a tração integral. Na virada da década de 2000 veio uma carroceria completamente nova (depois de quase quatro décadas!) e, de lá para cá, a reputação do 911 enquanto esportivo só foi ficando mais firme.
O esforço da Porsche em melhorar o 911 sem perder sua essência original é, sem dúvida, admirável. E é por isso que ele está nesta lista.
Mercedes-Benz 300SL
Sugerido por: PortnoyLima
O Mercedes-Benz 300SL é considerado um dos carros mais bonitos de todos os tempos. Ele também já foi um dos mais rápidos, quando chegou a espantosos 260 km/h em 1954 – sessenta anos atrás! E ele foi o primeiro carro de rua do mundo equipado com portas “asa de gaivota”, ou gullwing doors. Precisa mais?
Beleza: o 300SL nasceu nas pistas. Sua origem está no protótipo W194, vencedor das 24 Horas de Le Mans de 1952. Dele, vinham o design básico, o motor de seis cilindros e três litros (que, com injeção de combustível, entregava 215 cv em vez dos 180 cv do carro de corrida) e, claro, as portas asa de gaivota.
E, como bom esportivo alemão, o 300SL consegue ser um grand tourer de respeito e, ao mesmo tempo, mandar bem nas pistas. Tanto que, dos cerca de 1.400 exemplares fabricados, poucos são os que sobreviveram ao teste dos anos – apesar de ser um carro extremamente robusto e bem construído, muitos deles foram convertidos em carros de corrida e se aposentaram nas pistas. O que também é admirável, claro!
BMW M3 E30
Sugerido por: Caio Cavalcante
Se os esportivos da divisão M da BMW são referência em desempenho, dá para dizer que tudo se deve ao M3 da geração E30. Como se pudesse ser diferente: criado como especial de homologação para colocar o Série 3 no Campeonato Alemão de Carros de Turismo (Deutsche Tourenwagen Meisterschaft, ou simplesmente DTM), o M3 E30 era um cupê esportivo de tração traseira que unia baixo peso, disposição para curvas e um girador quatro-cilindros de 2,3 litros que entregava 195 cv sem qualquer tipo de indução forçada, o que não era pouca coisa 30 anos atrás – e o suficiente para que o M3 E30 chegasse aos 100 km/h em menos de sete segundos.
Foto: Sheldon Rodriguez
A versão de competição era capaz de entregar 320 cv e girar a mais de 8.000 rpm — não foi à toa que o M3 abocanhou o título da DTM logo em 1987, seu ano de estreia, e novamente em 1989, ajudando a fomentar a fama do M3 e a transformá-lo em um ícone.
Diferentemente do que a Porsche fez com o 911, a BMW nunca teve medo de usar o M3 como vitrine de suas evoluções, que também se tornaram clássicos: o E36 e o E46 fizeram fama com seus seis-em-linha aspirados, o E90 apostou na força de um V8 naturalmente aspirado e o atual F80 decidiu apostar no downsizing e trouxe um seis-em-linha biturbo. Mas tudo começou com o E30.
Trabant
Sugerido por: Japonês da Kombi Voador 変態
Depois da Segunda Guerra mundial, com a Alemanha dividida em duas, a metade ocidental andava de Fusca. A oriental, de Trabant. Ele foi concebido na década de 1950 para ser um meio de transporte barato, econômico e prático enquanto a a economia do país se reestabelecia. No fim das contas, porém, foram 34 anos produzindo o “carro de papelão”, como costumam dizer seus detratores.
O Trabant não era de papelão, mas usava materiais alternativos e componentes de baixo custo. A estrutura monobloco (uma das poucas características inovadoras do carrinho) era de aço, com teto, portas, para-lamas, capô e portas em Duroplast, material composto de resina reforçada com materiais reciclados, como algodão e lã. A concepção de motor e tração dianteiros também era moderna na época, e permitia aproveitar melhor o espaço interno. A potência, contudo, era de apenas 18 cv.
Nada disso impediu que o carro fosse um dos mais populares ao longo das quase três décadas e meia em que foi fabricado. Não que existissem muitas opções, claro, mas o carrinho de plástico da Alemanha Oriental fez sucesso.
E, mais do que isto, o Trabant é o símbolo da reunificação alemã. Assim que o Muro caiu, milhares de pessoas finalmente puderam morar do lado que bem entendessem, e muitos Trabants (muitos mesmo, pois foram produzidos cerca de 3,5 milhões) atravessaram a fronteira que desaparecia.
Audi RS2 Avant
Foto: LennardLaar
Sugerido por: gibagehrke
Em um mundo cada vez mais cheio de SUVs, crossovers e similares, a Audi deve ser a marca que mais aposta nas super peruas. E, se hoje é possível entrar em uma concessionária Audi e comprar uma RS4 Avant, com seu V8 biturbo de 450 cv e tração integral, devemos isto à RS2 Avant.
A RS2 é como uma versão ainda mais esportiva da S2, versão esportiva do Audi 80 Avant. Se o “S” do S2 significava Sport, a designação “RS” adotada para o RS2 significava RennSport, ou Racing Sport. Já deu para entender as intenções da Audi, não é?
Foto: Chris Droesch
Quer dizer: da Audi e da Porsche, porque na verdade a Audi fabricava todos os componentes básicos, mas a montagem do carro e boa parte das modificações do motor era feita pela Porsche em Stuttgart, que recebia as carrocerias que vinham de Ingolstadt. O motor era baseado no cinco-cilindros de 2,2 litros do Audi S2 mas, com um turbo maior e outras mudanças, chegava aos 315 cv, que iam para as quatro rodas através do sistema de tração integral quattro — que tinha um diferecial traseiro com blocante ativado manualmente. Os freios eram Brembo e a suspensão tinha os amortecedores retrabalhados pela Porsche.
Foto: Andrés Jaskiewicz
O resultado era um carro capaz de chegar aos 100 km/h em apenas 4,8 segundos, com velocidade máxima de impressionantes 262 km/h, e que fazia curvas melhor do que qualquer perua deveria ter permissão de fazer. É disso que a gente gosta.