Há alguns anos circula uma imagem manipulada que mostra um crescimento insano do Porsche 911 em seus 50 anos de história. Você provavelmente já a conhece porque falamos dela em 2016 — e explicamos o quanto o Porsche 911 cresceu realmente ao longo desse tempo todo.
Agora há uma imagem semelhante da Fórmula 1 (essa logo abaixo), que foi compartilhada por Lewis Hamilton, que compara seu McLaren compacto da era V8 ao lado de seu Mercedes-AMG atual, mostrando como os carros da Fórmula 1 ficaram ridiculamente grandes em tão pouco tempo.
Mas… será que esta comparação é real?
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Bem, como no caso do Porsche, esta também é uma imagem fora de escala, porém não muito: os carros da Fórmula 1 tiveram mesmo esse crescimento radical nos últimos cinco anos. Os carros da temporada de 2019 (que são praticamente os mesmos da temporada de 2020) têm entre 5,65 metros e 5,73 metros de comprimento e entre 3,62 metros e 3,70 metros de entre-eixos. O Mercedes W10 de Hamilton é justamente o mais longo, com 5,73 metros de comprimento e 3,70 metros de entre-eixos.
Já seu McLaren MP4-23 de 2008 era um carro significativamente menor, com 3,20 metros de entre-eixos e 4,7 metros de comprimento — ou seja: um metro mais curto que o atual carro de Hamilton.
Sim: três metros e setenta de entre-eixos. É o mesmo entre-eixos de um Rolls-Royce Phantom VIII, meio-metro mais longo que o entre-eixos dos carros do final da década de 2000, e um metro inteiro mais longo que o entre-eixos dos carros dos anos 1960. Foi esse aumento o principal responsável pelo crescimento dos carros de F1, uma vez que suas bitolas, sua altura e seus balanços são limitados pelo regulamento.
O aumento é ainda mais notável pela velocidade em que ocorreu — adotando uma progressão geométrica. Entre 1968 e 1988 a média do entre-eixos aumentou de 2,60 para 2,80 metros – 20 cm em 20 anos. De 1988 para 2008 a medida foi de 2,80 para 3,20 metros — 40 cm em 20 anos. Entre 2008 e 2018 foram mais de 40 cm em apenas dez anos. Por isso nos espanta tanto a comparação dos carros de 2008 com os atuais.
E essa rápida evolução tem relação direta com o desempenho dos motores e com as limitações aerodinâmicas. Enquanto você e eu nos distraíamos reclamando do foco demasiado na aerodinâmica e apontando o dedo para as asas e apêndices absurdamente complexos, o comprimento dos carros aumentava para equilibrar a evolução técnica dos motores, das suspensões e da aerodinâmica — especialmente desta última, que, por ser extremamente avançada, exige previsibilidade dinâmica do chassi para que o carro seja controlável e, consequentemente, competitivo.
Note que o aumento mais significativo aconteceu justamente com o salto de potência que os carros tiveram a partir da adoção dos motores híbridos turbinados. Não se trata de espaço para o conjunto de baterias como você pode estar pensando. O pacote é compacto e o motor tem um cilindro a menos em cada bancada. Não é algo que vá consumir meio metro do chassi.
O que aconteceu, basicamente, é que, a partir de 2014, as mudanças no regulamento aerodinâmico começaram a restringir as dimensões das asas e, a partir de 2017, também dos difusores. Nesse contexto o entre-eixos mais longo trouxe duas características necessárias a estes projetos: mais espaço para difusores mais longos e maior momento de inércia polar, o que parece ruim para um carro de F1, mas acaba trazendo a previsibilidade necessária para o nível de refinamento aerodinâmico atual.
Note que, mesmo com o entre-eixos quase 70 cm mais longo que os carros do início dos anos 2000, eles conseguem tempos similares de volta — e isso não se deve apenas à maior potência e melhores retomadas de velocidade, mas principalmente à maior velocidade carregada para a curva, o que é possibilitado pelos pneus mais largos mas, principalmente, pelo avanço aerodinâmico.
Além disso, o aumento das bitolas e da largura dos pneus pelo regulamento de 2017, também exigiu o aumento do entre-eixos como compensação — quando você aumenta as bitolas, é como se o entre-eixos fosse proporcionalmente encurtado, daí a necessidade de aumentá-lo.
Com o novo regulamento que entrará em vigor em 2022 os carros continuarão dependendo do fluxo aerodinâmico no fundo do carro e um pouco menos das asas. Portanto, eles dificilmente voltarão ao tamanho que tinham há dez ou vinte anos atrás, mas também dificilmente ficarão mais longos do que são atualmente.
Sugestão do leitor Julio Mayo