Sim, o visual pode ser o cartão de visitas de um carro, mas isto nunca impediu as fabricantes de, ocasionalmente, colocar no mercado carros que nos fazem duvidar do bom gosto de toda uma equipe de design. No entanto, nem todos são completos casos perdidos: alguns carros, por mais feios que sejam, acabam sendo legais por outros aspectos — especialmente por causa da mecânica.
Foi pensando nisso que ontem (31) perguntamos aos leitores quais eram os carros que, apesar de feios, conseguiam ser incríveis. Nossa sugestão foi o Nissan Juke-R, o desajeitado crossover que recebeu o motor do Nissan GT-R, em uma das combinações mais deliciosamente bizarras que já vimos. Agora, vamos ver quais foram as sugestões de vocês!
Morgan Aero 8
A Morgan é mais conhecida pelo 3-Wheeler, a pequena maravilha com motor de moto, três rodas e visual que parece ter vindo direto do início do século 20. Acontece que não é por causa do 3-Wheeler que a Morgan está nesta lista, mas sim por causa do Aero 8 — o famoso carro “vesgo”.
A fabricante diz que o esportivo, fabricado desde 2001, é “leve, potente e estiloso sem esforço algum”. Leve ele é, de fato — com estrutura e carroceria de alumínio, ele tem apenas 1.180 kg. É mais que o suficiente para que os 367 cv do motor V8 BMW de 4,8 litros o levem até os 100 km/h em 4,3 segundos, com máxima de 270 km/h.
Agora, é preciso fazer bastante esforço para achá-lo estiloso: o fato de ser o primeiro projeto totalmente novo da Morgan desde 1948 não justifica a dianteira com dois faróis redondos e estrábicos. O resto da carroceria retrô é até aceitável. De qualquer forma, a gente não recusaria um test drive.
BMW M Coupe
O BMW M Coupe na verdade é um hatchback (um dos melhores do universo) e, bem, não é bonito: não é à toa que ele foi apelidado de Clownshoe, ou “sapato de palhaço”. Mas, olha, ele é um carro incrível.
Para começar, ele foi feito às escondidas por uma equipe de engenheiros que estavam meio incomodados com o roadster Z3, cuja plataforma era a mesma do Série 3 E36. Ele era um bom carro, mas não deveria ser um conversível — uma carroceria fechada seria o ideal para aproveitar as qualidades dinâmicas do Z3.
A fim de convencer os executivos de que era uma boa ideia, os caras precisaram fazer de tudo para que a maior quantidade possível de componentes fosse intercambiável entre as duas versões de carroceria. O resultado foi um visual meio desajeitado e desproporcional que à primeira vista pode espantar, mas fica bacana depois de um tempo.
Além disso quem vai reclamar de um hatchback esquisito com tração traseira e um seis-em-linha de 3,2 litros e 325 cv, capaz de acelerar até os 100 km/h em 4,3 segundos (há quase 20 anos, veja bem), fazer o quarto-de-milha em menos de 13 segundos e chegar aos 270 km/h?
Lotus Europa
Como todo Lotus dos anos 1960, o Europa era um esportivo leve, com chassi do tipo “espinha dorsal” e preocupação máxima com a leveza. Isto explica a opção pela fibra de vidro na hora de fabricar a carroceria. Só não explica esta silhueta estranha, que parece a de uma picape — atrás do habitáculo, o que se vê é um enorme volume que até parece um porta-malas bem avantajado, mas na verdade abriga só o motor.
A explicação da Lotus era a aerodinâmica — de fato, o coeficiente aerodinâmico era baixíssimo (ou seja, o carro sofria menos resistência do ar quando acelerava). E, pesando apenas 700 kg, ele não precisava de mais que um quatro-cilindros de 1,5 litro e no máximo 126 cv (na versão com comando duplo no cabeçote) para garantir a diversão.
Na verdade, graças ao primoroso acerto de suspensão, a imprensa especializada chegou a dizer que, em termos de dinâmica, o Europa era “o mais próximo de um carro de Fórmula 1” que se poderia comprar na época. Ou seja: não foi à toa que quase 10 mil unidades foram fabricadas entre 1967 e 1975.
Spada Codatronca
Dizem que os italianos sempre fazem os supercarros mais bonitos, mas existem exceções. Faróis de Lamborghini, chassi de Corvette e um V8 de sete litros e 640 cv — é o Spada Codatronca, que tem um belo nome mas definitivamente não é bonito. A base é o Corvette C6, da geração passada, mas a mistura de elementos modernos na dianteira com uma leve inspiração no clássico Corvette Sting Ray não deu muito certo…
A versão cupê foi lançada em 2008, enquanto o roadster Spada Codatronca Monza apareceu em 2012. É possível que seu visual bizarro seja o motivo pelo qual pouca gente ouviu falar dele, mas quem teve a coragem de comprar um não deve ter ficado arrependido: estamos falando de um feioso capaz de chegar aos 100 km/h em 3,4 segundos com máxima de 350 km/h!
Só tem um problema: é mais fácil achar vídeos dele em simuladores do que do carro de verdade…
Yamaha OX99-11
O Yamaha OX99-11 nasceu quando a Yamaha decidiu entrar na Fórmula 1, em 1992, e projetado por uma empresa britânica chamada IAD, que prestava consultoria em engenharia e design para a indústria automobilística. O chassi era feito de fibra de carbono, a carroceria de alumínio feita a mão, e o motor V12 de 3,5 litros e 60 válvulas era posicionado em posição central traseira, com 400 cv urrando a 10.000 rpm. As suspensões dianteira e traseira usavam braços triangulares sobrepostos (double wishbone), com acionamento dos amortecedores por pushrods.
Ele podia não ser bonito, mas era — ou seria — rápido: com essas especificações o OX99-11 seria capaz de atingir os 100 km/h em 3,2 segundos e continuaria ganhando velocidade até os 350 km/h, quando a sexta marcha acabasse. Seria o desempenho semelhante ao de um carro de Fórmula 1 da época.
Na verdade, o projeto inicial era um monoposto, mas como a Yamaha desejava um carro de dois lugares, foi sugerida a configuração tandem, onde o passageiro viaja atrás do banco do motorista – algo que combinava com as motos Yamaha.
Infelizmente, porém, o projeto final nunca viu a luz do dia: com apenas seis meses para terminar o carro e uma recessão estourando no Japão, a Yamaha paralisou o projeto até 1994, prometendo retomá-lo quando a economia voltasse a se estabilizar. Mas ao perceber que não haveria clientes dispostos a comprar seu biposto de 800.000 dólares, a Yamaha cancelou definitivamente o projeto.
Alfa Romeo SZ e RZ
Quem vê a cara de carro conceito do Alfa Romeo SZ (e de sua contraparte conversível, o RZ) pode duvidar que ele tenha sido produzido em série — limitadíssima, com 1036 exemplares produzidos do cupê e 284 do conversível. E pode ficar ainda mais difícil de acreditar que o estúdio italiano Zagato tenha sido responsável por seu design. Os apreciadores de esportivos obscuros e exóticos (grupo no qual este escriba está incluso) até conseguem enxergar beleza neles, mas a maioria das pessoas normais só consegue enxergar os seis faróis na dianteira, o perfil meio desproporcional, a traseira abrupta e as folgas entre os painéis da carroceria.
O Alfa Romeo SZ Zagato foi apresentado em 1989 no Salão de Genebra, com o nome de ES-30 (Experimental Sports Car 3.0), em uma parceria entre os departamentos de design da Alfa Romeo e da Fiat e a Zagato. O design e a fabricação ficaram a cargo da própria Zagato, enquanto a Alfa Romeo fornecia plataforma baseada no Alfa 75 — seu último modelo com transeixo.
O motor era um V6 de três litros e 210 cv, acoplada a uma caixa de cinco marchas, enquanto a suspensão vinha da versão de corrida do Alfa Romeo 75, acertada por Giorgio Pianta, que trabalhava nas equipes de fábrica da Lancia e da Fiat no WRC. Ou seja, não era um carro ruim — nem um pouco. Só foi incompreendido.