Hoje é terça-feira, o que significa que a semana está só começando e que, talvez, você ainda não tenha entrado no pique. Quer uma forcinha? Pode contar com a gente. Que tal uma bela injeção de ânimo pelos ouvidos?
“E como isto funciona, FlatOut?” Simples, caro leitor: o ronco de um carro é a forma mais visceral de conhecê-lo — depois, é claro, de dirigi-lo. Pegue dois carros idênticos, mas troque o sistema de escape de um deles por algo menos restritivo e mais agressivo, e veja a mudança em sua personalidade. Ou melhor – ouça:
Dois Golf GTI Mk6. O vermelho, com escape original e o branco, com um sistema dimensionado Magnaflow
Inegável, não é? O Golf GTI branco não soa muito melhor? Pois é — a gente quase esquece que é um quatro-cilindros turbinado.
Mas este é só um aperitivo. Hoje, estamos aqui para falar de roncos de carros de rali — para muitos, a forma mais radical de automobilismo. Dá para entender: em sua era de ouro, o Campeonato Mundial de Rali tinha carros de mais de 600 cv acelerando até o limite em estradas estreitas, cheias de curvas traiçoeiras, em um piso sem aderência alguma e deslizando de lado o tempo todo.
O público não tinha pudor algum em ficar na beira da pista, ou até no meio dela, até poucos instantes antes de as máquinas passarem. Tudo para conseguir aproveitar ao máximo a experiência de assistir a um rali ao vivo — ou até fotografar e filmar. Acidentes eram frequentes, e nem sempre os envolvidos saíam ilesos. Pelo contrário: foram dois acidentes fatais que trouxeram o fim do Grupo B, considerado o auge do rali a nível mundial, que tinha um conjunto de regras quase cômico de tão permissivo.
Uma competição tão insana não poderia ter uma trilha sonora sem graça. E não estamos falando só do Grupo B ou do WRC, mas do rali em geral. Provas regionais, especialmente as que acontecem no Leste Europeu, provam que o espírito do rali continua muito vivo — basta lembrar de todos os vídeos incríveis de carros acelerando em estágios na Polônia, na Romênia ou na Rússia. Nem sempre a estrutura ou os carros acompanham, mas o nível de competitividade (e de barulho) é sempre alto.
Sendo assim, nada mais justo que celebrar os sons do rali com uma coletânea de vídeos que tragam apenas o ronco dos carros de rali — nada de narração ou música. E que também vão te fazer acordar de uma vez por todas nesta gelada terça-feira. Bora?
Falando em motores de quatro cilindros turbinados, é difícil superar este: o 1.8 turbo de mais de 300 cv do Lancia Delta Integrale HF. A Lancia começou a competir com ele logo após o fim do Grupo B, e isto seria meio broxante se o Delta não tivesse se tornado o maior campeão do WRC em todos os tempos — foram 46 vitórias e seis títulos consecutivos entre 1987 e 1982. Só escuta.
Antes do Lancia Delta, porém, quem dominava tudo era este cara: o Audi Quattro — nada menos que o responsável por tornar a tração integral algo essencial no mais alto nível do rali. Seu primeiro título foi conquistado em 1982 e o segundo, em 1984. No entanto, ele colecionou 23 vitórias entre 1981 e 1985. A versão mais radical, o Sport Quattro S1, tinha um entre-eixos ridiculamente curto e um cinco-cilindros de 2,5 litros com turbo, cabeçote de vinte válvulas e pelo menos 450 cv — fala-se em uma potência máxima de quase 800 cv.
A Ferrari quase colocou a 308 para competir no WRC nos anos 1980 mas, na década anterior, outro bólido com motor de Maranello fez história no Mundial de Rali: o Stratos, campeão de 1974 a 1976, que usava um V6 Dino de 2,4 litros com comando duplo nos cabeçotes (que eram e alumínio), bloco de ferro fundido, 65° entre as bancadas de cilindros e algo entre 275 cv e 320 cv na versão de competição. O ronco é inegavelmente italiano — os devoradores de macarrão realmente sabem fazer motores V6.
Isto não quer dizer, porém, que eles não davam chances para outros tipos de motores: o Lancia 037, sucessor do Stratos, tinha um quatro-cilindros de dois litros projetado por Aurelio Lampredi com cabeçote de 16v, compressor mecânico Volumex e, no carro campeão de 1983 (o último com tração traseira a vencer o WRC), cerca de 320 cv. No vídeo, quem comanda a fera é o onipresente Walter Röhrl…
… que, neste outro vídeo, demonstra suas habilidades ao volante do Audi Quattro mais uma vez. O cara é realmente um monstro. O carro, idem.
Agora, se o Lancia 037 tinha um compressor mecânico e venceu o título de 1983 do WRC, o Lancia Delta S4 (seu sucessor), era ainda mais louco. A base era a mesma do Lancia 037, porém com tração integral, carroceria que lembrava um Lancia Delta e motor com compressor mecânico e turbo ao mesmo tempo — o famoso dual charged. Com dois litros de deslocamento, o quatro-cilindros entregava no mínimo 500 cv.
Avançando bastante no tempo e mudando de país: o Porsche 911 também manda bem nos ralis! Olha só este GT3 RS da geração passada (997) colocando o flat-six para trabalhar — estamos falando de pelo menos 3,6 litros e 415 cv. Pelo menos.
Mas você quer algo realmente insano? Então confira estes pouco mais de 30 segundos de Ari Vatanen no comando de seu Ford Escort RS1800 preto no rali de Isle of Man. O homem não precisa de mais que isso para nos deixar boquiaberto com sua ousadia ao volante — e nem o ronco do motor 1.8 que, mesmo sem qualquer tipo de indução forçada, entregava quase 300 cv. Tudo isso no início dos anos 1980!
E que tal um carro de rali com motor de supercarro? Foi o caso do Metro 6R4, que não ganhou nada mas fez história ao ser um fracasso no Grupo B mas, depois, ceder seu motor ao impressionante Jaguar XJ220. No Metro, o motor V6 tinha três litros, virabrequim feito sob medida, carburadores Weber e até 410 cv. No Jaguar, ele passou a deslocar 3,5 litros, ganhou dois turbos e 550 cv — suficientes para dar ao XJ220 o título de carro mais veloz do mundo por alguns meses, como contamos aqui.
Mas vamos deixar as lendas um pouco de lado e falar de carros humildes. O Lada Laika, por exemplo, pode se tornar um grande carro de rali com a dedicação da pessoa certa — estes monstrinhos aqui, em sua maioria com motores de 1,8 litro turbinados, provam que estamos falando a verdade.
A pergunta é: como fazer uma coletânea de carros de rali sem a presença do Subaru Impreza? Impossível — ainda mais quando estamos falando da primeira geração e do lendário Colin McRae, que fez história ao volante do Impreza WRC 555. O motor é um flat-four turbinado de dois litros e mais de 300 cv. O ronco é simplesmente inconfundível e, para nós, uma escolha mais do que justa para fechar esta seleção. Pronto, pode começar o seu dia!