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Car Culture

Os melhores hot hatches do universo: Alfa Romeo 145 Quadrifoglio Verde

Em 1994, já fazia quase dez anos que a Alfa Romeo havia se tornado uma divisão da Fiat — e dois anos que a marca havia abandonado a tração traseira de uma vez por todas, com o fim da produção do Alfa Romeo 75, em 1992. Para os fãs mais radicais, o “fim” da Alfa foi anunciado ali. Contudo, para nós, muita coisa legal ainda vestiu o cuore sportivo. O Alfa Romeo 145 é uma delas. E dizemos mais: ele é um dos melhores hot hatches do universo.

O Alfa 145 é um dos frutos da “globalização” de plataformas introduzido pelo grupo Fiat no início dos anos 1990. Sua base era a plataforma Tipo Due, que estreou no Fiat Tipo (um nome bastante criativo, por sinal) e, modificada, também seria utilizada nos Fiat Brava e Marea, além de modelos da Lancia como o Delta e o Dedra.

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Era um hathback de visual marcante, com soluções de design arrojadas, algumas inusitadas para a época — que podem ser explicadas com duas palavras: Chris Bangle. Dianteira baixa, em forma de cunha, e uma ampla área envidraçada que envolvia todo o perímetro do carro, vincos laterais marcantes que se uniam na dianteira e na traseira, formando um “V”. Os faróis pequenos ladeiam o cuore sportivo, e a traseira traz as lanternas alongadas que, por muito tempo, foram a marca registrada do design alfista.

Mas nós não estamos aqui para falar sobre o visual divisor de opiniões deste carro, e sim de sua versão mais desejável: o Alfa Romeo 145 Quadrifoglio Verde, ou simplesmente QV.

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O primeiro Alfa Romeo a ostentar o emblema Quadrifoglio foi um carro de corridas de 1923: o  Alfa Romeo RL que, sob o comando de Ugo Sivocci, conseguiu sua primeira vitória na Targa Florio naquele ano, depois de uma sequência de segundos-lugares. Além de sua grande pilotagem e do motor do Alfa RL (um seis em linha de três litros e 90 cv), atribui-se sua vitória à decisão de colar um triângulo branco com um trevo de quatro folhas na grade do bólido como amuleto de sorte. Nascia ali uma tradição que nunca deixou as pistas — foi usada até a década de 90, com o trevo aparecendo no Alfa Romeo 155 V6 TI da DTM.

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A adoção do Quadrifoglio como diferencial para versões luxuosas e esportivas começou na década de 1960, com modelos como o Giuila Ti Super, que trazia o trevo de quatro folhas nos para-lamas dianteiros e também era conhecido como Giulia Quadrifoglio. Seu motor era um quatro-cilindros de 1.570 cm³ com comando duplo no cabeçote, dois carburadores Weber e 112 cv.

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O Alfa Romeo 145 QV, lançado em 1995, honra o nome que tem, tendo recebido o motor de dois litros e 16 válvulas usado em algumas versões do Alfa Romeo 155, sedã conhecido por sua vocação para divertir ao volante mesmo nas versões que não são declaradamente esportivas. O que acontece quando você coloca um motor que já é potente em um carro menor e mais leve? A resposta: um hot hatch instantâneo!

E que hot hatch: o motor é o famoso Alfa Romeo Twin Spark, com duas velas de ignição por cilindro e comando duplo variável no cabeçote. A alimentação fica por um sistema multiponto sequencial. Com diâmetro de 83 mm e curso de 91 mm, o deslocamento total é de 1.969 cm³, e a potência é de 150 cv a 6.200 rpm e o torque, de 18,9 mkgf a 4.000 rpm. O resultado é um carro capaz de chegar aos 100 km/h em exatos nove segundos, com velocidade máxima de 210 km/h — algo impressionante há vinte anos e empolgante até hoje.

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A plataforma Tipo Due foi bastante elogiada pela imprensa especializada na época. Boa parte disso se deve à suspensão independente nas quatro rodas — McPherson na dianteira e com braços arrastados e molas helicoidais na traseira, além de trazer barras estabilizadoras nas duas extremidades — com calibração bem rígida, ainda mais do que nos outros Alfa (que era posicionada como a divisão esportiva da Fiat). As rodas de 15 polegadas calçadas com pneus 195/55 também fazem o seu papel — além de embelezar a lateral do carro com seu desenho composto por seis grandes buracos circulares, marca da Alfa nos anos 1990.

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O interior traz um painel grande e imponente, com influências estilísticas do Alfa 164. Mas o que impressiona é a atenção à posição de dirigir, começando pelo generoso apoio dos bancos, passando pelo o volante de pegada exemplar, ladeado por comandos de fácil acesso, e chegando aos pedais cuidadosamente posicionados para facilitar a execução do punta-tacco. 

Dirigir o Alfa Romeo 145 Quadrifoglio Verde é uma experiência agradável a todos os sentidos, e isto inclui a audição, claro. Porque uma das maiores qualidades do motor Twin Spark é este ronco:

Este ronco, meus amigos…

Em 1998, o Alfa 145 passou por uma leve atualização, ganhando novos para-choques, grade e roda, além de novas saídas de ar redondas no painel. A versão QV acompanhou as mudanças, e a potência do motor passou a 155 cv.

Infelizmente, seu estilo inovador não agradou logo de cara, e seu desempenho nas vendas foi apenas razoável entre o grande público. Os entusiastas, contudo, consideram o 145 QV como o último hot hatch puro feito pela Alfa Romeo — sem adotar tecnologia demais e sem comprometer a pura experiência ao volante.

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O 145 Quadrifoglio Verde não foi vendido apenas na Itália, mas também em outros países — na Inglaterra, por exemplo, se chamava 145 Cloverleaf (que é “trevo” em inglês). E ele veio para o Brasil de forma oficial — o que o torna um dos poucos carros da nossa série sobre hot hatches que você tem chance de encontrar na rua — ou comprar, se for um verdadeiro entusiasta. Não é difícil encontrar exemplares na casa dos R$ 15 mil — só é preciso ter cuidado com o estado de conservação, pois ele não é um carro exatamente comum.

Se encontrar o seu, compre e seja feliz. Só não se esqueça de nos chamar para dar uma volta!

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[ Sugestão de Rodrigo Augusto Stach ]