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Automobilismo

Os melhores substitutos da Fórmula 1

Neste último final de semana vimos um pedaço da história da Fórmula 1 ser escrita. Oliver Bearman, o novato que substituiu Carlos Sainz Jr. na Ferrari, tornou-se o terceiro piloto mais jovem a disputar um Grande Prêmio e o terceiro mais jovem a pontuar. Além disso, falando no universo ferrarista, ele foi o primeiro piloto a estrear na Fórmula 1 pela Scuderia desde Arturo Merzario — algo raro nestes tempos de “equipes-satélite”.

Foi um feito e tanto do jovem Ollie, afinal, a Fórmula 1 limita os treinos nos circuitos do calendário com o carro da temporada, e a preparação costuma ser feita em simuladores. É por isso que a posição de piloto reserva ou piloto de testes é um bom sinal para os jovens talentos: é ali que eles terão a chance de participar de uma sessão de testes ou até mesmo de substituir um piloto titular que, eventualmente, seja impedido de correr — aconteceu com Pietro Fittipaldi em 2020, por exemplo, quando ele substituiu Romain Grosjean na Haas.

Pietro não teve tanta sorte: correndo pela Haas, no final do campeonato, sem treinos e depois de um ano desde seu último contato com o carro, ele não conseguiu fazer muito e terminou na última posição as duas corridas que disputou. O mesmo aconteceu com Liam Lawson na Alpha Tauri em 2023, Robert Kubica em 2021, Brendon Hartley em 2017 e vários outros nesses tempos de treinos limitados.

Mas… houve uma época em que os treinos eram liberados e os pilotos substitutos tinham mais chances de entrar em cena mostrando serviço. Pensando nisso, veio a pergunta: qual foi o melhor substituto de todos os tempos na Fórmula 1? Revisando os substitutos ao longo das mais de 70 temporadas da categoria, chegamos a uma lista com os cinco melhores desempenhos de um substituto na Fórmula 1.

 

Phil Hill – Ferrari, 1958

Imagine a situação da Ferrari ao longo da temporada de 1958: dos três principais pilotos da Scuderia, dois morreram durante a temporada. Luigi Musso sofreu um acidente fatal no GP da França, a sexta etapa do campeonato. Na prova seguinte, o GP da Alemanha, o mesmo aconteceu com Peter Collins. A tragédia abriu as portas para o americano Phil Hill, que já vinha tentando uma vaga na Fórmula 1 havia algum tempo, mas sempre foi preterido por Enzo Ferrari, que o mantinha apenas nos GT do Mundial de Carros Esporte.

Diante da tragédia, contudo, Enzo viu em Phil Hill um substituto para tentar salvar o campeonato — que pela primeira vez teria um título para construtores. O americano estreou na penúltima corrida do ano, o GP da Itália e mesmo sob a pressão da torcida, terminou em terceiro lugar. Na corrida seguinte, o GP de Marrocos, Phil Hill chegou ao segundo lugar, mas entregou o posto a Mike Hawthorn, que se tornaria campeão com o resultado, e terminou em terceiro.

O desempenho impressionou Enzo, que o recompensou com um contrato para a temporada de 1959. Hill pontuou em todas as corridas que terminou, mas não chegou a vencer — seus melhores resultados foram os segundos lugares na Itália e na França. No ano seguinte veio a primeira vitória, no GP da Itália e, em 1961, Hill foi ao pódio em seis das sete corridas que disputou, sendo duas em primeiro, duas em segundo e duas em terceiro, suficiente para conquistar o título mundial naquele ano.

 

Sebastian Vettel — BMW Sauber, 2007

Lembra daquela pancada monstruosa do Robert Kubica no GP do Canadá de 2007? Foi uma das batidas mais violentas e impressionantes da história da Fórmula 1, com o carro se despedaçando enquanto rolava pelo circuito, depois de ser submetido a um pico de 75G de desaceleração. Apesar da violência, Kubica saiu do acidente apenas com uma concussão leve e uma torção no tornozelo, mas por precaução, os médicos não o liberaram para disputar o GP dos EUA na semana seguinte.

O jeito foi chamar um substituto, o novato Sebastian Vettel. Ele já era piloto de testes da equipe desde a temporada anterior, mas o acidente de Kubica deu a ele a chance de disputar seu primeiro Grande Prêmio. Vettel classificou o carro em sétimo e se tornou o piloto mais jovem a disputar um GP até então — no dia da corrida, 10 de junho de 2007, Vettel tinha 19 anos e 53 dias.

Apesar de perder uma posição durante a prova e terminar em oitavo, ele quebrou outro recorde: tornou-se o piloto mais jovem a pontuar na Fórmula 1, superando o recorde anterior, de Jenson Button. O resultado rendeu a Vettel um contrato com a Red Bull, que o colocou na Toro Rosso apenas quatro rodadas depois, no GP da Hungria, substituindo Scott Speed. Ainda naquela temporada, ele chegaria em quarto no GP da China. Na temporada seguinte, Vettel conquistou sua primeira vitória, no GP da Itália. Em 2009 foi promovido para. Red Bull e terminou o campeonato em segundo. No ano seguinte conquistou o primeiro de seus quatro títulos mundiais.

 

Michael Schumacher — Jordan, 1991

Michael Schumacher não era exatamente um novato quando assumiu a direção do Jordan 191 para o GP da Bélgica de 1991. Ele vinha de uma bem-sucedida carreira nos protótipos, com uma sequência de pódios no Mundial de Carros Esporte (WSC) pela Mercedes. A mesma Mercedes que bancou o cheque de US$ 150.000 que o colocou na Jordan naquele final de agosto de 1991.

Bertrand Gachot, o piloto titular da Jordan, havia sido preso por ter brigado com um taxista no trânsito no ano anterior. De repente, a Jordan se viu sem pilotos e Schumacher estava na hora certa, no lugar certo e com a quantia certa. Logo de cara, Schumacher impressionou a equipe e o restante do grid, classificando-se em sétimo lugar, quatro posições à frente de Andrea de Crash Cesaris, o outro piloto da Jordan. Na corrida, Schumacher não completou nem a primeira volta, pois a embreagem do carro quebrou. Mesmo assim, o fato de ter classificado em sétimo garantiu um contrato com a Benetton para o restante da temporada.

Ironicamente, Schumacher entrou na Benetton substituindo um outro substituto que ganhou um contrato com a Benetton por ter se destacado como substituto. Estou falando de…

 

Roberto Moreno — Benetton, 1990

Moreno não era nenhum iniciante quando foi chamado pela Benetton para substituir Alessandro Nannini, que havia sofrido um acidente de helicóptero que quase arrancou seu antebraço direito. Na verdade, Moreno já começava a ser conhecido como o “Super Sub”, pela rotina de ser chamado para substituir pilotos machucados, como fizera no GP da Holanda de 1982, ao substituir Nigel Mansell na Lotus, e nos GP do Japão e da Austrália de 1987, substituindo Pascal Fabre na AGS.

Liberado pela EuroBrun nas duas últimas etapas do campeonato, Moreno aceitou o convite e foi correr ao lado de seu velho amigo de Brasília, Nelson Piquet. Na primeira corrida, o GP do Japão, Moreno se classificou em nono, a 0,53 de Piquet, que largou em sexto. Depois do acidente entre Senna e Prost na primeira curva — que rendeu a Ayrton seu segundo título na Fórmula 1 —, Piquet venceu a prova, seguido por Moreno. Foi um momento único na Fórmula1: uma dobradinha brasileira em uma equipe estrangeira, formada por dois amigos de adolescência que corriam de kart, no dia em que um brasileiro era campeão mundial. Foi também a última dobradinha do Brasil na Fórmula 1.

Na corrida seguinte, na Austrália, Moreno se classificou em oitavo — logo atrás de Piquet, que venceu a prova —, mas terminou em um razoável sétimo lugar. O bom desempenho lhe rendeu um contrato para a temporada de 1991. Foi a primeira vez que uma equipe estrangeira teve uma dupla de pilotos brasileiros.

A temporada seguinte foi razoável para ambos os pilotos, mas a direção da equipe — formada por Tom Walkinshaw e Flavio Briatore — decidiu que a Benetton precisava de um piloto para renovar o time. Alguém mais novo que Piquet e Moreno. Foi quando Briatore trouxe Schumacher e demitiu Moreno.

Há quem diga que Moreno se moderava para não superar Piquet — que mais tarde admitiria que desde seu acidente em Imola, havia perdido a profundidade de campo de sua visão, e que ficou na Fórmula 1 “somente pela grana”. Sem a posição na Benetton, a Jordan, que teve Schumacher “roubado” por Briatore, ofereceu o carro vago ao brasileiro. Ele classificou a Jordan em nono, à frente de Andrea de Cesaris, mas na corrida rodou na segunda volta e abandonou. Na corrida seguinte, o GP de Portugal de 1991, Moreno se classificou em 16º e terminou em décimo. Depois disso, ele foi substituir Gianni Morbidelli na Minardi, para o GP da Austrália, classificando-se em 18º e terminando em 16º.

Nas duas temporadas seguintes, Moreno disputou a Fórmula 1 pela Andrea Moda e pela Forti Corse, mas sem resultados expressivos nas duas equipes, acabou deixando a categoria.

 

Mika Salo — Ferrari, 1999

Quando Michael Schumacher quebrou as duas pernas em seu acidente no GP da Grã-Bretanha de 1999, a Ferrari chamou o finlandês Mika Salo para substituir o então bicampeão mundial. Era um desafio e tanto, especialmente porque seu companheiro de equipe seria o competitivo e temperamental Eddie Irvine.

Em sua primeira prova, o GP da Áustria, Salo chegou em um modesto nono lugar. Mas no GP da Alemanha, a prova seguinte, ele largou em quarto e liderava a prova no final, quando a Ferrari pediu que ele entregasse a posição a Irvine, que tinha mais chances de vencer o campeonato. Irvine, em retribuição, deu a Salo o troféu da prova.

Apesar do desempenho mediano nas provas seguintes, Salo ainda terminaria o GP da Itália em terceiro, colaborando com o título de construtores da Ferrari depois de um longo jejum de 16 anos.