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Os motores mais longevos e marcantes da indústria automotiva – parte 3

Atendendo a pedidos, decidimos fazer mais uma parte da lista dos motores mais longevos e marcantes de todos os tempos — perguntamos há alguns dias e, logo depois, fizemos a primeira e a segunda parte da lista, que você pode conferir nos links. Mas agora, chega de papo e vamos lá!

 

Fiat Fire – 1985-presente

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No Brasil, a Fiat adotou o motor Fire (ou FIRE) em 2000, com o Fiat Palio. O que nem todo mundo sabe, no entanto, é que o quatro-cilindros da Fiat — que é usado até hoje, na evolução Evo, em diversos modelos da marca, do Uno ao 500 — foi lançado em 1985, ou seja, 31 anos atrás, no Autobianchi Y10.

Fire, na verdade, é uma sigla — antigamente, escrevia-se FIRE, que significa Fuly Integrated Robotised Engine, ou “Motor Robotizado Totalmente Integrado”. O nome faz referência à montagem do motor, que era feita por robôs para conter custos.

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Trata-se de um motor de projeto simples, com comando no cabeçote e deslocamento que, ao longo do tempo, variou entre 769 cm3 (0,8 litro, arredondando com vontade) e 1.368 cm³ (1,4 litro). Teve versões de oito e dezesseis válvulas. O motor T-Jet, do Fiat Punto de mesmo nome, deriva do Fire, bem como o MultiAir que equipa modelos do Brasil e do mundo.

Alguns, nem mesmo são italianos Fiat, como é o caso do Dodge Dart e do Jeep Renegade. O motor MultiAir tem como diferencial o trem de válvulas, que usa um sistema eletro-hidráulico para variar o levante e o perfil do comando.

 

Chevrolet straight-six – 1929-1998

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Stovebolt, Jobmaster, 3800, 4100, 250-S… você deve conhecer o seis-em-linha que equipou o Opala e o Omega por três décadas a fio por vários nomes. Quando a Chevrolet decidiu usar o Opel Rekord como base para seu novo modelo no Brasil, uma coisa ficou clara: o projeto poderia até ser alemão, mas a mecânica seria americana. Assim, o Opala ganhou um seis-cilindros projetado nos EUA, com deslocamento de 3,8 litros, usado desde 1961 no Chevrolet Impala. Além do torque e do ronco característicos, o motor oferecia robustez e também servia como base para o quatro-cilindros de 151 pol³ (2,5 litros). Tanto o seis-em-linha quanto o quatro-cilindros tinham exatamente as mesmas medidas de diâmetro dos cilindros e curso dos pistões — 98,4 x 82,5 mm.

O lendário 250 surgiu em 1970 sob o capô do Opala SS. O curso dos pistões foi ampliado de 82,5 para 89,7 mm, elevando o deslocamento para 250 pol³ (4,1 litros). Em 1976 veio o 250-S, com taxa de compressão mais alta, comando de válvulas mais agressivo e carburador de corpo duplo. Depois de equipar o Opala, o seis-cilindros com bloco de ferro fundido foi utilizado no Omega, substituindo o seis-em-linha de três litros alemão. É claro que diversas modificações foram feitas: Com a ajuda dos britânicos da Lotus (que pertencia à GM na época), o 4.1 do Opala recebeu peças móveis mais leves, cabeçote com dutos de admissão individuais e injeção sequencial.

Mas você acredita se dissermos que o projeto deste motor data de muito, muito mais tempo atrás? A primeira versão do seis-em-linha da Chevrolet foi apresentada em 1929, com deslocamento de 3,2 litros, e era usado em carros e utilitários da General Motors, sendo o segundo motor projetado pela companhia. Nesta época, se chamava Stovebolt.

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A versão Jobmaster foi apresentada em 1954 e, além de pistões de maior diâmetro, vinha com alguns dutos a mais para o líquido de arrefecimento e tinha válvulas com maior levante. Deslocava 4,3 litros e, além de equipar utilitários da GM americana, o motor Jobmaster foi usado na Chevrolet Veraneio brasileira de 1958 a 1979.

 

Mercedes-Benz OM 615 – 1968-1985

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O Mercedes-Benz W123, em sua versão com motor a diesel, tem a fama de ser um dos carros mais robustos do planeta. Boa parte disso se deve às versões a diesel, que conseguiram uma bela reputação como táxis na África do Sul. Lá, não costuma-se abandonar um W123 antes da marca dos 800 mil km, quilometragem facilmente alcançada pelo OM 615 apenas com manutenção básica.

Produzido de 1968 a 1985, o OM615 deslocava dois litros e entregava 55 cv de até 1979, quando passou a ter 60 cv. Havia, também, uma versão de 2,2 litros e 69 cv, produzida entre 1976 e 1979. Além do W123, equipou também caminhões o Mercedes-Benz Unimog, um dos mais capazes caminhões de todos os tempos.

 

Ford Flathead – 1932-1953

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Tudo começou quando Henry Ford desenvolveu um motor simples e barato como resposta à concorrência acirrada da General Motors. Depois de um programa de desenvolvimento bastante acelerado, em 1932 a Ford colocou no mercado um V8 com comando e válvulas integradas ao bloco – apenas as câmaras de combustão e as velas de ignição ficavam no cabeçote, que por isso era bem baixo e plano. Daí o nome: flathead.

O detalhe é que, na época do lançamento, o desenvolvimento do motor ainda estava em curso — havia vários problemas crônicos que afetavam quase 50% dos blocos. No entanto, foi uma manobra acertada: mesmo com os defeitos, que incluiam superaquecimento e trincamento do bloco nas primeiras unidades, o modelo fez enorme sucesso, atendendo a demanda do público por motores cada vez mais potentes — em especial os traficantes de bebidas e gângsteres como o casal Bonnie e Clyde e John Dillinger.

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Mais tarde, nos anos 40 e 50 estes primeiros V8 protagonizariam um papel importante no nascimento dos hot-rods (leia a história completa aqui). Quando os soldados voltaram da Segunda Guerra, muitos deles procuravam um carro barato e potente, e encontraram essas características nos modelos equipados com o V8 Flathead. Não demorou muito para que esses veteranos usassem seu conhecimento técnico adquirido no serviço militar para melhorar ainda mais o desempenho desses carros, alterando a alimentação de combustível e o fluxo de ar do motor, e também removendo partes do carro para aliviar o peso.

Tudo isto, somado à confiabilidade mecânica do Flathead, garantiu que sua produção durasse de 1932 a 1953 — 21 anos, no total.

 

Isuzu G (motor do Chevrolet Chevette) – 1973-1993

Em versões de um litro, 1.4 e 1.6, o quatro-cilindros do Chevrolet Chevette foi utilizado por toda a vida do modelo no Brasil. Sua origem está no motor Isuzu G — que também foi utilizado no Gemini, a versão japonesa do Chevette, e no modelo norte-americano.

Nosso motor tinha, no entanto, algumas diferenças em relação ao modelo japonês (que também foi usado nos EUA), especialmente no comando de válvulas. O deslocamento do motor de 1,6 litro também era ligeiramente maior no Brasil.

 

Ferrari flat-12 – 1973-1996

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Por mais que exista a tendência de misturar motores boxer e flat, a verdade é que são conceitos diferentes: um boxer tem cilindros opostos, enquanto um flat (tenha ele quatro, seis, oito ou 12 cilindros) é, na prática, um motor em V com ângulo de 180°. É este o caso do flat-12 da Ferrari, que foi utilizado entre 1973 e 1996.

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A primeira Ferrari a utilizá-lo foi a 365 GT4/BB, em uma versão de 4,4 litros e 344 cv. Como contamos neste post, a 365 GT4/BB evoluiu até 1984, quando saiu de linha — já com o nome de 512BBi (também conhecida como Berlinetta Boxer) e motor de cinco litros e 440 cv.

A Ferrari Testarossa, produzida até 1996, também utilizou este motor. Em sua versão final, o motor ainda deslocava 4,9 litros, mas entregava 446 cv  a 6.750 rpm e 50,9 mkgf de torque a 5.500 rpm, o bastante para acelerar aos 100 km/h em 4,7 segundos, com máxima de 315 km/h.