Um dos traços mais marcantes do automobilismo, de modo geral, são os patrocinadores das equipes de corrida, que muitas vezes são responsáveis pela “cara” das mesmas. E isto não acontece só com marcas gringas: patrocinadores brasileiros também estão gravados no imaginário dos entusiastas, e por esta razão perguntamos aos leitores: quais são os patrocinadores brasileiros mais emblemáticos da história?
Nossa inspiração maior foi a Equipe Hollywood, que foi patrocinada pela marca de cigarros de mesmo nome e teve uma carreira meteórica na década de 1970, mas será para sempre lembrada como uma das mais bem estruturadas equipes do automobilismo nacional. Seus carros competiram em diversas categorias, dos Fórmula Vê e Super Vê às provas de endurance, e sem dúvida seu destaque maior foi o incrível Maverick Berta, com seu motor semelhante ao do GT40, design avassalador e um consistente histórico de vitórias. Ele virou até protagonista de filme!
Mas é óbvio que a Hollywood não foi a única patrocinadora brasileira que marcou época no automobilismo. Confira a seguir uma seleção de outras empresas nacionais que investiram no esporte a motor, sugeridas por vocês – e esta é só a primeira parte!
Banco Nacional
Fundado em 1944, o Banco Nacional foi um dos maiores do País. Sabe o Jornal Nacional? A primeira edição do noticiário foi transmitida no dia 1º de setembro de 1969 e, patrocinada pelo Banco Nacional, que viu na coincidência do nome uma oportunidade. O banco faliu em 1995, sendo absorvido pelo Unibanco (que também faliu, em 2009, e foi absorvido pelo Itaú), mas o Jornal Nacional continua.
Outra curiosidade: antes da vinheta do JN, era exibida a vinheta do Banco Nacional, cuja trilha sonora era “Summer ’68”, do álbum Atom Heart Mother, lançado em 1970.
Acontece que, para nós, que curtimos carros e corridas, o legado do Banco Nacional é outro, e ficava estampado em um boné. O patrocínio a Ayrton Senna começou em 1985, ano de estreia do brasileiro na equipe Lotus depois de sair de sua primeira equipe, a Toleman. O patrocínio foi mantido até 1994, ano de sua morte.
Segundo consta, no auge de sua carreira na F1 – a virada dos anos 1990, quando conquistou seus três títulos mundiais –, o Banco Nacional resolveu deixar de patrocinar Senna por não conseguir arcar com os custos, mas o piloto fez questão de manter o contrato em gratidão pelo apoio da marca em seus primeiros anos na Fórmula 1.
O boné azul de Ayrton Senna com a marca do banco tornou-se um de seus símbolos, e os comerciais que o piloto gravou sempre são lembrados com nostalgia por quem acompanhou a carreira do tricampeão.
Copersucar
“Copersucar” é um acrônimo para Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo foi fundada em 1959, e em 1973 adquiriu a Companhia União dos Refinadores – Açúcar e Café, que produzia o açúcar União (apostamos que você pensou na piadinha com a frase “a união faz a força”). Em 2008 a empresa deixou de operar no varejo e foi reestruturada para operar somente com a comercialização de commodities.
Por mais que não dê mais para comprar açúcar Copersucar, sempre podemos lembrar que a empresa foi corajosa a ponto de bancar a ousada empreitada de Emerson e Wilson Fittipaldi, que entre 1975 e 1982 tiveram a audácia de montar uma equipe de Fórmula 1 100% brasileira – apenas dois anos depois de chegar à maior categoria do automobilismo. Curiosidade: a equipe, na realidade, se chamava Fittipaldi Automotive, mas como é comum acontecer no mundo das corridas, ficou mais conhecida pelo nome do patrocinador estampado no carro.
Com o apoio da Embraer, Emerson e Wilson chamaram o amigo Ricardo Divila – que já havia projetado seus Fórmula Vê nos anos 1960 – para cuidar da criação de seu primeiro carro, o FD01, que fez sua estreia no GP da Argentina, primeira corrida da temporada de 1975. Detalhe: o carro era prata, e não amarelo, cor com a qual a Copersucar ficou mais conhecida.
Infelizmente, quem matou a equipe foi o público que, assim como a imprensa esportiva brasileira, começou a cobrar resultados impossíveis dos Fittipaldi: como não venceu corridas logo de cara, a Copersucar sofreu com gozações e críticas infundadas, como se fosse fácil começar uma equipe de Fórmula 1 do zero e vencer os gigantes em dois ou três anos. Os patrocinadores começaram a minguar, e a Copersucar fechou as portas em 1982 levando praticamente todo o dinheiro dos irmãos Fittipaldi.
Arisco
No início de sua carreira, Rubens Barrichello foi apoiado pela fabricante de molhos e condimentos Arisco. Era o começo de sua carreira na Europa, e Rubinho ia bem: campeão da Fórmula Opel, categoria de monopostos com motores quatro-cilindros parecidos com o famoso C20XE da General Motors, em 1990; e depois da Fórmula 3 britânica em 1991, Barrichello atraiu a atenção do público e ganhou o patrocínio da empresa brasileira.
Dito isto, o que acabou ficando desta época (na visão do público geral, ao menos), foram os comerciais um tanto curiosos da Arisco com Barrichello como garoto propaganda. Ele era jovem, com menos de 20 anos, e não ficava totalmente à vontade na frente das câmeras. Usando o macacão com as cores da Arisco, ele dava “entrevistas” e comia hambúrgueres lotados de ketchup de caixinha.
Quem viveu a época certamente lembra das fotos de Rubinho no verso das caixinhas. Verdade seja dita, eram belos exemplares de fast food e davam água na boca de quem apreciava tais iguarias.
Na mesma época, a Arisco também patrocinou outros dois piotos brasileiros: Nelson Piquet, que estava disputando a Indy 500 e depois faria sua categoria de endurance, a “Espron”, e Tony Kanaan.
Dimep
A Dimep é uma tradicional fabricante de relógios de ponto, fundada em 1936. Em 1969, Dimas de Melo Pimenta II, seu proprietário e filho do fundador da empresa, começou a competir com o Ford Corcel em provas de turismo, ao lado de caras como Ingo Hoffman, Paulão Gomes e Chico Serra. Ele também participou de provas de arrancada com um Ford Escort V8 supercharged:
Foto: Dragster Brasil
Como você deve ter sacado, o nome da Dimep é formado pelas iniciais de Dimas que hoje já tem perto dos 70 anos de idade e passou a paixão por corridas aos seus filhos, que atualmente disputam a Old Stock, categoria que traz o Chevrolet Opala de volta para as pistas e homenageia as origens da Stock Car, com preparação relativamente simples e de custo razoável. O motor é sempre o seis-em-linha de 4,1 litros da General Motors, usado no Opala e na Silverado, e cada equipe pode escolher seu próprio preparador.
Se você estava no 1º FlatOut Sunset Meet, que rolou em dezembro de 2016, ou conferiu a galeria de fotos, certamente viu os dois Opala dicurrida que estavam lá: eram os Opala de Dimas de Melo Pimenta III e Rodrigo Pimenta, filhos de Dimas II, e pilotos da Old Stock.
Mas a Dimep ficou famosa mesmo por correr na Divisão 3 de Turismo no Brasil. Um de seus carros mais conhecidos era o VW Gol com motor arrefecido a ar, que competiu no início dos anos 1980. A foto mais acima, reproduzida do blog do Flávio Gomes, data de 1982. Repare como as cores são as mesmas dos Opala!
Medley
Com muito histórico no automobilismo brasileiro desde a sua fundação na década de 90, a fabricante de medicamentos Medley é umas das patrocinadoras oficiais da equipe Full Time da Stock Car e do Brasileiro de Marcas desde 2011. Dentro da equipe, da qual fazem parte atualmente os pilotos Allam Khodair, Rubens Barrichello, Lucas Foresti e Felipe Guimarães, é Barrichello quem usa as cores branco e azul turquesa da Medley.
E ele já fez bonito com elas: desde que entrou para a Full Time, em 2012 (substituindo Marcos Gomes em algumas corridas), Rubinho já conquistou um título da Stock Car em 2014 e ficou com o vice-campeonato no ano passado. Já no Brasileiro de Marcas, o melhor desempenho até agora foi de Ricardo Maurício, que em 2012 ficou com o título ao volante de seu Honda Civic.
Varga
Fundada em 1955, a Varga é uma das mais antigas empresas do ramo de componentes automotivos do Brasil. Fornecendo componentes (em especial freios) para marcas como VW, Willys, General Motors e Mercedes-Benz, a Varga reinou sozinha em seus primeiros anos de mercado, até a chegada da alemã Alfred Teves.
Para se manter competitiva diante da tecnologia e do know how (ou seria fachwissen?) alemão, a Varga firmou uma parceria com a britânica Girling e, através da troca de tecnologias e recursos, conseguiu estabelecer-se como a fornecedora dos freios de mais de 1/3 dos automóveis que circulavam no País. A Girling, para quem não sabe, era uma subsidiária do grupo Lucas (sim, da Lucas Electronics), que por sua vez foi comprado pelo grupo americano TRW.
A companhia, espertamente, manteve a marca Varga. A empresa estampou diferentes carros de corrida nos anos 1970 e 1980, especialmente na Stock Car, e já forneceu freios para a categoria em meados da década de 1990. Desde 2007 a TRW – que não fabrica apenas freios, mas também equipamentos como pistões e airbabs, mantém uma pista de testes em Limeira/SP, que costuma ser alugada por fabricantes no desenvolvimento de automóveis e componentes.